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março 2011
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Carlos Pereira em: NOS TEMPOS DE SAPA VEIGA.

São tempos de memória, parte vivida e outra ouvida, misturadas, sem que’u saiba quem é uma e quem é a outra, reais como a brisa marinha que ora refresca o calor do meu corpo. Tempos passados, mas transcendentes, influenciando todos os tempos da bela e abandonada cidade de Ilhéus, que guarda dentro de si muito da miséria daqueles tempos, mas também, ainda, preserva parte de suas belezas, poesia, aconchego e cores da belíssima natureza, únicas, como as muitas variações das cores de suas águas atlânticas, seu céu azul e esta deslumbrante lua cheia de sempre, hoje dia 19 de março especial, onde os meus olhos de fé infantil vêem São Jorge, montado num gigante cavalo branco, matando com a lança o dragão da maldade. Ilhéus de grandeza e também caricatural.

Meu amigo Aloísio da Silva Santos Filho diz que a cidade foi destinada para ter porto e estrada de ferro. Os mais pessimistas dizem que aqui foi enterrada uma cabeça de burro, nada vai adiante; discordo, sou dos que acreditam em destinos e em livres arbítrios. Não foi por culpa do destino que a velha estrada de ferro deixou de funcionar, foi em razão de ações humanas. Vamos torcer para que estas não nos impeçam o destino dos cavalos de ferro e do moderno curral de pedras e concreto, o porto. Mas tenho saudades das velhas pontes de biriba do velho porto.

Sapa Veiga é dos tempos do porto velho e da estrada de ferro Ilhéus-Conquista,(que só chegou até Ubaitaba), sua banca de revistas velhas ficava na calçada defronte ao prédio da Pensão Vasco, no mesmo edifício, de um lado, a Farmácia Universal e de outro, o Bar de Seu Louro. Na outra calçada, as Casas Brasil. Entre as calçadas, a praça e as esquinas do fuxico. Na frente, sentido leste, a Casa Paulista de material esportivo, de propriedade do botafoguense Omar Rabat. Naquele sítio, Sapa Veiga, em cima de caixotes ou mesmo de carroças ou carrocerias de automóveis, fazia os seus comícios. Todo ano ele era candidato virtual a alguma coisa, prefeito, vereador, não sei se a presidente ou governador. Ele era uma espécie de boca da cidade, o que era sabido e não dito (ou melhor,era sibilado), ali poderia ser colocado em voz de altos falantes de grandes potências. Sapa, e fulano?”É ladrão, roubou o inventário de beltrano e sicrano!” E por aí seguia…

Criança, eu dava risadas com os adultos, participando daquelas algazarras e pantomimas, sem entender muito o porquê das coisas. Hoje, continuo dando risadas, mas já entendo alguns porquês.

Mas, no meu entendimento,mais do que os seus hilariantes comícios, a maior e melhor de Sapa Veiga, uma inegável contribuição de Ilhéus para o mundo, era o seu engenhoso método de alfabetização. Infelizmente não há o reconhecimento devido da sociedade ilheense. Aliás, agora falando sério, o grande Milton Santos foi professor do IME, e na “urbis” não existe nem sala de colégio com o seu nome.

Pois bem, ali onde está situado o prédio da Ceplac, era a estação do trem. Todos os sábados os roceiros vinham para a feira comprar e vender produtos diversos. Vinham de Ubaitaba, Uruçúca, Urucutuca, Sambaituba, Aritágua, Iguape, do Sete, etc. Chegavam “alfa” de pai e “beta” de mãe. Quase por milagre, voltavam, tudo leva a crer pelos gestos e atitudes, alfabetizados. Isto graças ao método Sapa Veiga de alfabetização.

O sistema era simples, Sapa Veiga vendia velhas revistas “O Cruzeiro”, “Fatos e Fotos”, “Manchete” e outras, todas com pouco texto e muitas fotos. Pronto, estava iniciado o fenômeno da transfiguração. Era uma coisa linda de se ver, os matutos, antes analfabetos, agora todos de revistas abertas, entretidos, sem piscar os olhos, concentrados nas leituras, às vezes de soslaio observando o do lado para notar a sua reação e, afinal, surpreendido ao vê-lo também atentado, com olhos fixos, lendo a sua revista. Todos liam, aparentemente…

Atualmente, observo a cidade de Ilhéus cheia de faixas divulgando mudanças na saúde (será que vai para Vitória da Conquista?). O programa nacional de substituição das ambulâncias do Samu (veículos com cinco anos de uso são substituídos por novos). Vinte e dois municípios sem coloração partidária ( é claro que existe o interesse político, como em Feira de Santana) receberam; Ilhéus recebeu três. De repente, o programa do Governo Nacional vira ação de partido municipal. Recordei Alberto Hoisel e suas epigramas e bolei uma epigrama: ”HÁ MUDANÇAS NA SAÚDE/PRÁ QUEM QUER ACREDITAR/O SUS MORTO NO ATAÚDE/E A MENTIRA A SE DIVULGAR”. Mas, muito mais do que Alberto Hoisel, lembrei de Sapa Veiga e do seu método de alfabetização. O que acontece na saúde municipal é igualzinho. O grave é que o método usado na saúde mata pessoas. O de Sapa não fazia mal a ninguém.

A política em Ilhéus é uma caricatura e, por trás dela, está a tragédia!

A lua do dia 19 de março estava linda, semi coberta por nuvens cirros, o mar granítico em tom prateado e, juro, eu vi São Jorge!

2 respostas para “Carlos Pereira em: NOS TEMPOS DE SAPA VEIGA.”

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