No frigir dos ovos inverdade ou meias verdades sempre estão presentes. A começar pelo livro didático de História do Brasil de antes dado nas escolas. Não contava nadinha que pudesse macular os que estavam por cima da carne seca. Aprendi por exemplo que um estrategista almirante escocês chamado Lord Chochene (achava bonita a pronúncia) fora um baluarte da Independência da Bahia e consequente do Brasil. Enfim um herói da independência brasileira do domínio português. E somente. Atualmente se tem em conta que, embora condecorado pela Real Marinha Britânica e seus restos mortais tido a honraria de serem sepultados na abadia de Westminster (famosa por ser palco de coroações de monarcas e, há pouco dias, do badaladíssimo casamento do príncipe Willian), o cara também era um tremendo picareta, inclusive com registros de variadas trapaças vitimando brasileiros. Em razão do seu alto grau de mercenarismo, o historiador Laurentino Gomes não hesitaria a respeito do tal Lord, em inserir em seu livro “1822”, um sugestivo capítulo intitulado “Louco por dinheiro”. Página 173 para os chegados a conferir.

Notou o tamanho da meia verdade? Pô…, e ainda chamaram-no de herói! Mas é na República dos vários Brasis que essas inverdades ou meias se fizeram e continuam se fazendo mais notórias, capitaneadas por governos sem exceções, e ancorados nuns tais de projetos. Não se trata em absoluto de nenhuma apologia contrária a importância do projeto na vida humana, mesmo porque quando nas administrações públicas, em que se pressupõe o objetivo de dignificá-la, eles são fundamentais. Vamos então. Um importantíssimo para “unificar” o país, por permanecer na prancheta rolando de mão em mão, o papel se estragou ficando imperceptível. Aqui pelas bandas baianas vários são passiveis de curiosidade. O metrô de “6 quilômetros” de Salvador é um deles. Há 15 anos o soteropolitano aguarda uma definição. A Copa do Mundo está chegando e é grande a dúvida se o trem entrará nos trilhos. Na Região Cacaueira (ou ex, sei lá!), Deus do Céu, haja projetos! É disso é daquilo, é o do Porto Sul em Ilhéus, é o da duplicação da BR-415 (trecho Ilhéus/Itabuna), e no final nadinha da silva! A ligação rodoviária Belmonte a Canavieiras é um caso típico regional. À irrealização dessa obra os nativos das duas cidades saem com pilhérias entre as quais a de que se a construção fosse efetivada, se gastaria –pelo tempo de promessa– muito menos dinheiro do que já se gastou com traçados, estudos sócios ambientais e lero-leros. Enquanto isso a Bahia se consagra pela falta de uma estrada entre dois pólos turísticos (incrível: numa mesma região e de relativa pequena distância!) importantes: Porto Seguro e Ilhéus.

É isso aí. Se ontem os livros escolares contribuíam para a permanência das inverdades, hoje os substitui à altura a ciência do marketing, e com sofisticação. Tornou-se comum a cada eleição, um candidato conhecido por seu mau-caratismo, ser apresentado ao eleitorado, como um cidadão de bem. E se for considerada a afirmação do rei Pelé que brasileiro não sabe votar, esses fatos, paralelo ao preceito de que o bem-estar das pessoas, o respeito ambiental, o progresso por fim, dependem sobremaneira das políticas adotadas e como lógico dos políticos, esse conjunto pode significar uma triste realidade brasileira. Nua, crua e sem meia verdade, portanto.


Heckel Januário