Capitulo I – Refresco à memória

“Se alguma coisa pode dar errado, dará. E mais, dará errado da pior maneira, no pior momento e de modo que cause o maior dano possível.” (Edward Murphy- NASA).

Profundo, não é? Essa frase famosa lhe parece um presságio? Para mim é, com certeza!

Relembrem das eleições municipais de 2004 e 2008. Se for muito puxado para a memória eu digo-lhes. Elas foram desacertos irreparáveis para Ilhéus. No início desses lamentáveis momentos históricos, o que parecia ser um salto para o progresso e o desenvolvimento, principalmente a partir de 2004, quando tudo estava ruim para o município, avaliando o resultado eleitoral hoje, podemos aplicar nele o princípio dessa impiedosa Lei de Murphy, mencionada acima.

Talvez a intenção do eleitor não fosse essa, embora desconfiássemos ser enigmática, baseando-se na filosofia de Niccolò Machiavelli – “A prudência persiste em saber reconhecer a natureza dos inconvenientes, aceitando como bom o menos mal.”. Claro que isso tudo pode ser um misto de ingenuidade e confiança do eleitor na boa fé. Digo da fé alheia aos aspectos enigmáticos dos trapalhões ilheenses eleitos e reeleitos. Quando eles assumem seus respectivos mandatos aplicam outra Lei, a de Gerson: “Gosto de levar vantagem em tudo. Certo?”.

Saibam que naquele período confuso e de incerteza, tudo favoreceu a candidatura de um empresário do transporte coletivo. Ele rompeu com o prefeito da época, o que jazia no descrédito, e resolveu dar um basta às suas relações políticas. Segundo falavam-se por ai, elas se caracterizaram pela troca de favores ou benefícios individuais recíprocos, pelo cumprimento de ações públicas durante muito tempo. Nenhuma pessoa confirma, nem tão pouco duvida desse fato. Ainda que muitos enxergassem isto como inadequada aos interesses públicos, ninguém fazia absolutamente nada.

Tentando se livrar desse fisiologismo, ao declarar independência, o novíssimo candidato rompeu de vez, saiu de sua seara empresarial e iniciou sua campanha para as eleições de 2004.  Nessa aventura como o novo adepto sem requinte ao partidarismo, nem tão pouco ideológico e, muito menos comprometido com a causa pública, foi lançado candidato pelo PMDB. Sua campanha foi populista, de gosto duvidoso e revelou fatos de sua vida intima que traduzia sua fragilidade moral e de como seria seu governo. Porém, sem dar-se conta dessa leitura conjuntural, a elite, o setor empresarial e a grande massa deram-lhe nas urnas apoio incondicional e de forma simultânea. Contudo, antes de consolidar sua chapa, com sua simpatia em alta, houve muita dificuldade para a coligação arranjar um vice “limpo”. A cidade já havia sido seduzida pelo amarelo, enquanto a aliança estava desesperada para conseguir encaixar a chapa no prazo legal. Daí, a chapa esquentou e, onde encontrar um vice que atendesse as exigências do TRE? Foi difícil, mas…

Lembram vocês quando falam por aí que o vice do empresário caiu de pára-quedas na prefeitura?

O que você leu até agora foi um enchimento de lingüiça ou um refresco à memória para citar-lhes o limiar dos fatos que revelo agora para a história. Quem sabe dê munição aos historiadores ilheenses, informando-lhes quem deu a “idéia” ou “pára-quedas” ao vice do empresário e atual prefeito e o cunho místico da questão.

Capitulo II – Pegadinha, brincadeira, profecia ou maldição?

Você já viu advogado comer mosca? Pois é! Só come mosca quando ele perde o prazo. E isto estava prestes a acontecer em 2004, para o desespero geral da coligação do empresário e alegria dos adversários petistas, jabistas, angelistas etc.

É daí que aparecem os personagens Duda de Aritaguá – um sujeito sério, super organizado, que gosta de tudo correto, que tem brio no que faz e solução para tudo. Boquinha de Faisqueira, um cara porreta, brincalhão, que gosta de fazer gozação com tudo, inclusive com si mesmo e com os colegas. Ele mesmo garante que já foi grande craque de futebol, titular absoluto no time do finado Antônio Cebica. E o Charmoso, hein? O cognome já diz muito! Ele já derreteu muitos corações lá em Belmonte quando ainda era solteiro. Quem conta isso é o jurássico Januario. Mas há controvérsia, porque Catarino foi quem farreou por lá junto com Charmoso. Ele falou que Januario disputava as meninas na “porrinha” com Charmoso e ele era o juiz. Caso houvesse impasse na decisão de quem iria ficar com a menos feia, ali estava ele passando a perna em Januário em favor de Charmoso. Que, que isso hein Catarino? Charmoso é uma pessoa porreta, bem humorada, inclusive com os problemas graves, do tipo: Estou nem aí se a casa pegar fogo, por favor, salve minha cerveja gelada! Não sei por que Catarino os chama de bicheiros. Deixa prá lá, vocês não sabem da missa a metade! São eles, indubitavelmente três cidadãos ilheenses de caráter ilibado, sem mácula profissional, aos quais confiaria uma barra de ouro, se eu tivesse alguma. Falo sério! Comentei isso com Catarino e ele logo perguntou:

– Você sabia que um deles é Turco?

Falando em Catarino de novo, ele é o tipo filantrópico. Sabem por quê? Toda vez que um colega perde o ônibus porque passou do horário, no dia seguinte ele telefona pro colega, a cada dez minutos a partir das quatro da manhã, isso até as sete horas, lembrando para ele não se atrasar. Sabe que isso dá certo? Bastam dois dias e o colega já dorme preocupado com ele e pensa duas vezes em dormir mais um tiquinho ou a patroa despejá-lo de casa. Isso que é colega!

Voltando ao caso, Duda acostumado a pensar em solução para quase tudo, vendo a agitação e o desespero da chapa do empresário teve uma idéia (digo: pára-quedas) e disse:

– Pessoal! Os caras estão comendo mosca! Não vêm que o prazo está no fim e a solução está na cara deles?

Duda completou comentando a idéia que teve para Boquinha e Charmoso.

– A única solução que eu vejo é: o partido inscrever o ex-jogador do Colo-Colo como vice da chapa.  Ele tem boa formação, está aposentado, foi funcionário do Banco do Brasil e do candidato empresário. Ele é advogado, já foi presidente de clube, é filiado a um partido da coligação e é o atual tesoureiro da campanha. Portanto, é um cara integro e não tem nenhum processo contra ele listado no TRE. Legalmente ele é o tipo ficha limpa, para vice-não terão problema algum.

Charmoso completou:

– Duda você é um gênio. Tens razão! Eu não tô nem aí no que isso vai dar, não deixa de ser uma boa idéia! Tanto faz e tanto o fez, vice não vai mandar em nada mesmo! Já fizemos hora extra demais! O Outeiro vai ter um bom representante para ficar de camarote nas festas de largo e nas paradas de sete de setembro.

Boquinha de Faisqueira completou:

– Duda, Aritaguá tem um filho genial! Dessa vez você foi mais sagaz que esse bando de advogado do empresário! Mas espere ai rapaziada! Antes de darmos esse pára-quedas (digo: essa ideia!), lembrem-se do truculento Carlota, aquele que o único chá que toma é o de Carqueja! Então, vamos imaginar uma pegadinha porreta?…

Um instante de suspense.

Quebrando o tenebroso silêncio, disse Charmoso:

– Ai vem uma pegadinha espirituosa, manda Boquinha, manda! (risos: kkkkkk!)

Duda disse:

– Diga Boquinha, não temos mais tempo! Em que você está pensando dessa vez?

Boquinha continuou:

– O negocio é o seguinte: Vamos pensar no lado místico da coisa. Antes de você dar essa ideia para eles caírem de paraquedas na prefeitura, a gente imagina e, simbolicamente, tira as cordinhas que dão dirigibilidade a esses paraquedas. Vamos imaginar também um grande abismo lá em baixo, assim como um buraco negro sugando tudo. Se essa turma for boa mesmo ela vai planar com dificuldade, mas Ilhéus vai bombar, caso contrário, Deus nos perdoe, ela vai lascar com tudo, vai ser uma zorra total, uma bomba de efeito retardado! Os menos bestas, afoitos, vão cair logo e outros espertalhões virão com muita sede ao pote da cidade que está baqueada há muitos anos. Serão quatro anos de prosperidade ou de desgraça total para Ilhéus. E se eles por sorte derem uma esticadela de mais quatro anos, danou-se! Ou o elefante voa ou cai na cabeça do povo, ou a vaca vai pro brejo ou virará um saboroso churrasco em 2012.

Espantado, Charmoso falou:

– Boquinha olha! Eu fiquei todo arrepiado. Você falou que nem Nostradamus. Que praga hein? Mas não estou nem ai. Falando em churrasco, Duda dá logo esse pára-quedas do vice e pros caras aí também, para gente sair e tomar nossa gelada!

Duda brincou e disse:

– Aê Boquinha! De Faisqueira nasceu um novo profeta! Fechado. Dessa vez você está sendo ao menos de espírito maquiavélico dos seus tempos de Emarc, “os fins justificam os meios”, se o povo os quiser como mostram as pesquisas, que os tomem na tarraqueta! Pessoal da coligação, o negócio é o seguinte…! O vice pode ser o… Por que… bla bla blá, bla bla blá, bla bla blá…!

Misericórdia! Foi muita comemoração depois que a coligação inscreveu a chapa. O empresário se elegeu, foi escandaloso por demais, virou decepção eleitoral, teve Barbie com lingerie de oncinha mandando e desmandando, brincou com a saúde. Foi um reboliço danado! Ele caiu e foi engolido no abismo tornando-se um dos proscritos da profecia de Boquinha. O vice assumiu junto com a trupe do abafa o caso, fez uma tapeação na cidade, tapou buraco, pintou meio fio, catou o lixo e acalmou o povo. Depois se recandidatou e foi eleito para mais quatro anos. Ele tomou posse, renovou a trupe de meter inveja a Ali babá. E, com a constante queda de secretários, alguns até bons moços, entre outros muito espertalhões, finalmente essa turma caiu nas garras do governador e, como uma marionete, tenta apagar a estigma de ser considerada como a maior decepção política de Ilhéus, vagando de pára-quedas no buraco negro já faz sete anos.

Com a proximidade das eleições, os mestres movimentam as peças do tabuleiro de xadrez preparando a cama para alguém, se sabe lá quem. Com o ex-vice e atual prefeito filiado ao PT, a “oposição” agora virou situação. Persuasão ou não, essa foi uma maneira genial do partido do governador assumir o comando de Ilhéus sem ganhar eleição. Seria isso mais um pára-quedas da maldição de Boquinha? Porque, o povo desmemoriado clamou: “Vivo morro”! Que venha o impugnado de novo, como o velho salvador! Nisso a cidade está sendo sugada pelo buraco negro da tramóia e continua fazendo cumprir a maldição profética de Boquinha de Faisqueira, tendo Duda de Aritaguá e Charmoso como cúmplices.

Toda tragédia ilheense pode retornar ao início de antes e pós 2004 e se estender por anos a fio. Já pensou nisto? Boquinha, maldição tem prazo de validade? Melhor você desfazer essa pegadinha urgente, viu!

Ê Boca hein! Eles continuam a negar que não têm culpa no cartório.

Essa obra é ficção, qualquer semelhança com a realidade é mera coincidência. Mas, se você por acaso encontrar alguma verdade nela então reze, mas reze muito, muito por Ilhéus. Amém?