Olha, do jeito que a coisa anda, a gente até fica muito mais criativo. Porque, para definir algumas coisas que vemos e ouvimos. só inventando novas palavras ou movimentos que dêem boas onomatopéias. Se bem que as do soco – Pow! Tum! Soc! Paf! Póim!– Batman e Robin já imortalizaram.

Andei pensando em virar super-herói. No caso, super-heroína. E já vou adiantando que o meu uniforme seria realmente imbatível. Coladinho, pin-up, provavelmente preto e branco, e com adaptadores de todos os acessórios maravilhosos que usaria para a minha missão. Inclusive o que me tornaria invisível aos olhos dos maus e dos babacas desidratados que temos de suportar tentando ou fazendo bobagens todos os dias. O pior é que eles se levam a sério!

Qual seria a missão? Em resumo? Apontar e desapontar os responsáveis pelas ideias de jerico que acabam circulando livres entre nós, ocupando espaços, como se elas – as tais ideias – pudessem gozar de liberdade, até como se ideias fossem, se tivessem algum fundamento.

Vamos pensando juntos e vocês me ajudam a aperfeiçoar meus planos? Vamos lá.

A violência grassa e não só nas grandes cidades. Há muitos assaltos, roubos, ataques covardes, invasões de propriedade. Aí o jerico-mor, seguido dos jeriquinhos puxa-sacos, resolve notar que há uma incidência grande de assaltos feitos com motocicletas; uma parte executada pela pessoa que está de carona, sentadinho atrás do piloto. Pronto! Resolvido! Proíbam-se as caronas! Moto agora é coisa para uma pessoa só. E já que estamos nessa, revoguem logo a obrigatoriedade de usar capacete, porque torna impossível a identificação. Daqui a pouco serão proibidas também as cestinhas das bicicletas femininas – podem conter explosivos. Motor em bicicleta? Nem pensar – podem ajudar na fuga em alta velocidade. Proíbam também os triciclos. Os carrinhos rolimã, que deslizam muito. Ah, proíbam os tênis! Ajudam a correr em fuga.

O que uma super-heroína poderia fazer, vai, me diga, que fosse mais radical? Proibir a fabricação de armas? Mas tem gente que assalta de garfo e faca, inclusive para comer. No caso, eu chamaria os outros super-heróis, um bandinho, bem colorido e mascarado, invadiria o plenário da Assembleia onde leis assim são decididas e faria um coro de vaias. Enquanto isso um grupo da Liga Especial analisaria todos os projetos e investigaria os gabinetes exterminando outras ideias como essa que só gastam nosso dinheiro e são impraticáveis. Temos uma líder, heroína-mor, graças a Deus: a Constituição Federal, que essa gente vive querendo atropelar.

Depois dessa missão, voaremos para Brasília. Digo logo que, se eu já fosse uma super-heroína, nessa semana teria entrado no plenário da Câmara Federal em minha forma invisível e levado o Jair Bolsonaro ao chão antes que ele fizesse mais um pronunciamento preconceituoso, safado e ignorante como o que levou adiante, na cara dos outros bobões, inclusive os que deveriam ter reagido duramente na hora. Como é que ainda está lá um sujeito grosso como esse, que agride repórteres, outros parlamentares, as mulheres, os gays, as crenças, a língua portuguesa, a nossa inteligência e paciência e ainda agride verbalmente a própria presidente da República?

Cadê vocês, Marta Suplicy e seu partido? Cadê vocês, base aliada e desalinhada? Cadê vocês, polícia, Justiça, comissões de ética? Dedetizadores? Podemos saber por que é que esse cidadão ainda não foi cassado? Passaram-se já muito mais de 24 horas desde que ele questionou a orientação sexual de Dilma Rousseff, como se fosse do bedelho dele o que ela faz com o que tem.

Bem, cansei só de falar nestes dois exemplos. Mas teremos muitas outras oportunidades de voltar ao assunto e chamar nossos heróis, infelizmente só imaginários. Vai ter aquele com o dom de catar gringo e esfregar a cara dele no óleo derramado; vai ter o que pega -com raio X – babaca que bebe e sai matando e com um super laser gira, gira, gira com eles para fora do Universo.

Penso no Caratê Kid, certeiro. No Robin Hood, reorganizando as coisas. Na Mulher Maravilha dando uns bicos nos homens espancadores e nos estupradores. No Homem-Aranha jogando uma gosminha bem grudenta, mas bem mais eficaz do que andam as prisões de nosso país.

Penso até que eu também poderia ser só uma mera e heroica mosquinha. Primeiro para ouvir certas conversas. Mas também porque poderia passar a aterrorizar os jericos humanos, que não têm rabo para espantar o zum-zum-zum que faria nos ouvidos deles.

São Paulo, grrrrrr, 2011
(*) Marli Gonçalves é jornalista. Pensando melhor no uniforme de super-heroína teve umas ideias que deixariam muitos estilistas boquiabertos. Quanto aos equipamentos necessários, só consultando o 007. Mas até ele deve andar com medo de passar por aqui. Muito medo.