ISRAEL NUNES EXPLICA ALIANÇA DO PCdoB COM JABES

O fato político mais comentado em Ilhéus no último fim de semana foi a decisão do PCdoB de apoiar a pré-candidatura do ex-prefeito Jabes Ribeiro (PP) e a possível indicação do procurador federal Israel Nunes (foto) como vice na chapa jabista. Em uma conversa com o CENA BAHIANA, Israel explica como se deu a decisão, diz que ainda não houve definição sobre sua presença na chapa maj0ritária e comenta sobre a Plenária Unificada, grupo político que vai se desintegrando sem atingir a pretendida finalidade de se unir em torno de uma candidatura a prefeito. Na opinião do procurador, a plenária começou com bons propósitos, mas depois deixou de ser um fórum preocupado com a construção de um projeto de governo, dedicando-se exclusivamente a discutir quem ficaria com a cabeça de chapa. “Essa deveria ser uma discussão à parte, em paralelo apenas, sem perder o viés, o objetivo principal, que era a sustentabilidade”, pondera Israel.

Confira logo abaixo:

CENA BAHIANA –  O que determinou a decisão do PCdoB de se aliar ao ex-prefeito Jabes Ribeiro?

ISRAEL NUNES – Várias razões pesaram na ponderação que o PCdoB teve que realizar. A principal delas é o fato de que a cidade já se encontra bastante desgastada com duas gestões absolutamente desastrosas, como foram as de Valderico e de Newton Lima. O PCdoB percebeu dois sentimentos na população: o primeiro, um clamor por uma gestão moderna, séria e diferenciada; o segundo, um temor de que uma nova aventura política pudesse piorar ainda mais a situação de Ilhéus, mergulhando-a num abismo sem fim. Esta aliança entre o PCdoB, partido pelo qual sou pré-candidato, e o PP, partido pelo qual o ex-prefeito Jabes Ribeiro é pré-candidato, vem exatamente a satisfazer estes dois sentimentos: modernizar a política, trazendo-lhe mais dinamicidade, mas com segurança, com estabilidade e efetividade das políticas públicas.

CB – O acordo com o PP leva em conta alguma contrapartida, com apoio do PP ao PCdoB em outros municípios?

IN – A principal contrapartida que exigimos, que colocamos na mesa e sobre a qual os dois partidos entraram imediatamente em consenso, foi o compromisso com Ilhéus, o compromisso mútuo de colocar Ilhéus nos eixos. Para isso, uma pauta mínima foi fixada, que inclui fazer uma gestão decente dos recursos da saúde e da educação, dos serviços urbanos, como coleta de lixo, iluminação pública e asfaltamento, melhorar a mobilidade urbana e o saneamento ambiental do município, além de modernizar a gestão pública, criando instrumentos de transparência e estimulando a participação popular na tomada de decisões do Governo. Quanto à eventual composição de Governo, caso saiamos da eleição vencedores, as exigências giraram em torno da indicação de quadros técnicos dos dois partidos, além das indicações técnicas dos demais partidos aliados que integrarem a base. Então, o principal compromisso, a principal contrapartida, é com Ilhéus. Em outras cidades, o PCdoB e o PP têm feito diversos acordos, assim como com outros partidos. Por exemplo: em Juazeiro, o PP resolveu apoiar o PCdoB, assim como o próprio PT, partido que, em Ilhéus, é o
do prefeito Newton Lima.

CB – Então foi discutida a participação do PCdoB em um eventual governo de Jabes…

IN – A participação do PCdoB num futuro governo, em que pastas estaremos, qual a parcela da contribuição que daremos à cidade, assim como a participação do PP, do ex-prefeito Jabes Ribeiro, não podem ser decididas em uma reunião de dois partidos apenas. É preciso que todos os partidos que integrarão a base de apoio a qualquer governo estejam sentados à mesa, em uma discussão igualitária e democrática. Não foi discutida qual a participação que o PCdoB e o PP terão num futuro governo, porque isso dependerá de saber primeiro quais serão todos os partidos que integrarão a base de apoio, o que só é decidido nas convenções partidárias.

Respeitamos e cumprimos os acordos, assim como exigimos que os acordos sejam cumpridos. Em política, quem não cumpre acordo não tem futuro.

CB –  Você será de fato vice na chapa, como chegou a ser divulgado?

IN – A chapa majoritária não foi decidida nesse momento, porque dependemos também de discutir com os demais partidos políticos que integrarão a base de apoio. O PCdoB, em especial, fará uma discussão com os partidos políticos com os quais deverá estar coligado na chapa proporcional, de vereadores, para que esse agrupamento político indique um nome para integrar a chapa majoritária. O PCdoB tem um compromisso com os demais partidos com os quais se coligará na eleição de vereadores de, juntos, indicar um nome para integrar a chapa majoritária. Respeitamos e cumprimos os acordos, assim como exigimos que os acordos sejam cumpridos. Em política, quem não cumpre acordo não tem futuro.

CB – Que leitura você faz do cenário político em Ilhéus, olhando para as eleições que se aproximam?

IN – Ainda é muito cedo para fazer qualquer prognóstico a respeito do futuro das eleições de Ilhéus. De todo modo, historicamente, em Ilhéus, as eleições se definem bem antes do dia, porque Ilhéus é uma cidade que não conta com propaganda eleitoral televisiva, ao contrário de Itabuna. Há uma parte significativa da população residente na zona rural, sobretudo nos distritos e povoados, onde o meio de comunicação quase que exclusivo é o rádio. Em um cenário em que qualquer candidato que apareça com uma margem de vantagem ampla sobre os demais, dificilmente isso é revertido três ou dois meses antes das eleições. Digo dificilmente porque, em política, tudo é possível. O PCdoB espera que as eleições deste ano sejam pautadas por certa ética de todos os candidatos, partidos e eleitores, evitando-se as baixarias tão comuns do período. Temos esperança de que os eleitores amadureceram muito na nossa democracia e não tolerarão mais práticas eleitorais espúrias de tempos cuja memória é vergonhosa.

CB –  A Plenária Unificada foi de fato um sonho louco, como define o José Henrique Abobreira?

IN – José Henrique Abobreira é um visionário. Não creio que a Plenária Unificada tenha sido um sonho louco, como ele a definiu no Facebook. Serviu, durante certo tempo, para pautar as discussões em torno da cidade e de suas funções de maneira mais politizada, mais responsável. Entretanto, posteriormente, deixou de ser um fórum de construção de programas de Governo para ser uma reunião de partidos cuja principal preocupação passou a ser quem ia ou não ser cabeça na Chapa Majoritária. Essa deveria ser uma discussão à parte, em paralelo apenas, sem perder o viés, o objetivo principal, que era a sustentabilidade.