Despedimo-nos de 2013 e acolhemos esperançosos 2014; que seja um momento de grandes realizações e alegrias. Ano passado tive a dolorosa experiência da minha separação conjugal. Para quem é católica praticante desde que nasceu não foi nada fácil. A iniciativa foi minha, confesso. Não consegui suportar a insatisfação e tristeza resultantes de uma década de tentativas frustradas para manter em andamento algo que já tinha se perdido. Vivenciei na prática o que muitos sempre souberam. Para que um relacionamento dê certo, ambos precisam querer e investir no convívio. Somente uma andorinha não faz verão. Somente um cônjuge não mantém casamento. Sobreveio a separação.

Não bastasse a sensação de fracasso, a tristeza própria e dos filhos, as dificuldades financeiras e emocionais que normalmente se sucedem, tive de lidar com um dos golpes mais duros que a vida me impôs: o abandono da minha família, principalmente dos meus pais. Eles se recusavam a aceitar ter uma filha separada, uma vergonha para todos. Assim, simplesmente me ignoraram e ficaram meses sem dizer uma palavra, sem perguntar como estavam as coisas ou se eu precisava de algo. Da mesma forma procedeu a família do meu ex-cônjuge. Nenhum telefonema, nenhuma manifestação de solidariedade ou compreensão. Não fosse o apoio dos meus dois filhos e da minha melhor amiga (que benção um verdadeiro amigo) estaria completamente perdida. Foi uma decepção sem precedentes constatar que ainda impera o amor condicional, aquele que só existe diante de certas circunstâncias e desde que você cumpra ordens, normas e procedimentos esperados.

Passei praticamente todos os meses de 2013 lutando para manter minha sanidade diante da incompreensão dos meus pais e demais pessoas que esperavam de mim postura diferente da que tive frente ao meu tão sofrido divórcio. A intolerância foi tanta que, creio, alguns preferiam me ver morta, mas casada, do que viva e separada. Isso me fez tecer profundas reflexões acerca do matrimônio e suas nuances, assim como da hipocrisia presente em muitos relacionamentos e também do preconceito em relação às pessoas que são verdadeiras e não conseguem viver de aparências para fazer bonito socialmente.

Sobrevivi amigos; embora tenham tentado me destruir de todas as formas. Amadureci. Ampliei a consciência acerca da minha pequenez, do meu papel neste mundo, da minha função como mero instrumento nas mãos de Deus. Sei que para muitos talvez eu já não sirva, por não corresponder a expectativa relacionada à mulher cristã que tudo espera; tudo suporta… Mas, o Senhor Deus me disse claramente em minhas orações: “Eu quero a misericórdia e não o sacrifício” (Os 6,6 ; Mt 9, 13). Entendi. Compreendi. Aceitei.

Que em 2014 possamos amar mais, perdoar mais, ser mais alegres, tolerantes e compreensivos com o próximo. Para amar é preciso haver desprendimento. O verdadeiro amor não julga; é receptivo, acolhedor; é incondicional, ou seja, não impõe condições para acontecer, para existir. Apenas está lá quer o filho acerte ou erre; quer satisfaça nossos desejos ou não; quer corresponda as nossas expectativas ou não. É assim o amor de Deus para conosco, incondicional. Ele nos ama apesar do que somos; apesar de nossos erros e limitações; Ele nos ama verdadeiramente. Descansemos na certeza desse amor e ancorados nele busquemos um 2014 muito melhor. Feliz Ano Novo para todos nós!

Maria Regina Canhos (e.mail: contato@mariaregina.com.br) é escritora.