(NOTAS DE BELMONTE – ‘BEBEL’ PARA OS MAIS CHEGADOS)

         “Naquela tarde infeliz / Falhava Velho no lance / Chutava o vento Diniz”

         Estes versinhos pintam as falhas de dois beques e foram extraídos de uma criação de João Carioca que de forma humorada retratara uma derrota da seleção amadora no Campeonato Intermunicipal servindo para “esquentar” a sequência do Umas e Outras… (VIII) passado, com mais dois causos do futebol belmontense. O autor era um terceiro zagueiro e poetadeste selecionado na época.

Um teve origem num dos anos 60 quando o escrete de Belmonte havia abatido o de Canavieiras e, com o moral elevado, enfrentaria em Ilhéus, o seu, considerado fortíssimo. A delegação fora recebida por residentes belmontenses liderados por Perola, Valdeck Oliveira e Dr. Amilton Ignácio de Castro (este, embora não natural da city, aí morou por bom tempo, casou-se, teve filhos e fora como político, presidente da Câmara de Vereadores). A assistência dada não poderia ser melhor. Momentos antes do jogo, conforme remanescentes testemunhas, os três adentraram o vestiário e, com a maior da boa vontade de motivar os jogadores, proferiram eloquentes discursos. Não faltaram meio às falações frases como “honrar a camisa que veste”, “botar o coração no bico da chuteira”, entre outras que nos dias de hoje, com a ascensão vertiginosa do profissionalismo e o dinheiro abundando na jogada, na certa e infelizmente soariam inócuas, até mesmo se fossem com relação à festejada Seleção Brasileira. E por nela tocar me veio, mudando de pau pra cacete, que a da Alemanha ficará a apenas 40 km de Bebel(em Santo André -Mun. de Cabrália)  e que de acordo as últimas chegadas de lá, a cidade já se organiza na realizações de excursões, dando opções aos pretendentes de ver de pertinho os preparativos de uma forte candidata ao título do Mundial. Bom continuando,  acontece que as palavras ao invés de incentivá-los, os abalaram psicologicamente. E de quebra, para aumentar o emocional dos atletas, poucos minutos faltavam para a equipe entrar em campo quando adentra o recinto, à frente o conhecido advogado Ivan Gomes, um grupo de torcedores alçando  nas mãos o estandarte verde-branco do quadro visitante a bradar “Hip, hurra! Belmonte”.  Para se ter uma ideia do clima gerado, alguns jogadores ao pisaram no gramado estavam tão nervosos que tremiam, outros, chegaram a chorar. Basta dizer que o quarto-zagueiro Luiz Guimarães (que se tornaria político e prefeito de Bebel por duas vezes), então capitão do time, raros passes acertara. Resultado: a defesa intranquila e aberta tornou-se uma avenida para os atacantes ilheenses golearem por 4 a 0.

O outro se deu num da década de 70. Belmonte contava com uma turma à altura de enfrentar Ilhéus e Itabuna, os maiores competidores. A seleção belmontense havia empatado com a itabunense e a reencontraria no jogo de volta em casa.  A cidade depois do 1 a 1  no campo do adversário vivia a euforia e a expectativa de uma vitória de seu futebol sobre o do sempre poderoso oponente. Estádio lotado com charangas, fogos a estocarem no ar, as filarmônicas Lira Popular e XV de Setembro a musicarem lindas marchinhas, tudo antecipava a convicção de um resultado positivo. Adilson da Lira e Viinha, pontas de lança ágeis e goleadores, eram temidos pela retaguarda adversária e impulsionavam a fé da torcida. O time local iniciara o jogo atacando e estivera para marcar várias vezes. Num lance um tanto fortuito do ataque contrário surge o primeiro gol, em seguida em jogada semelhante, outro, e na segunda etapa mais um selava o injusto placar, positivamente em razão de visíveis bobeiras de Lelé, goleiro dos bons, tido como seguro e que poderia fazer bonito em qualquer clube profissional. Os que assistiram à partida, afirmavam convictos “não acreditar no que viram”. O quadro de Belmonte conseguiria ainda fazer um golzinho, mas a marca da desilusão já estava expressa no rosto de cada belmontense. “Não é possível! Engolir três frangos, não!”, eram neste tom as lamentações. Logo após a decepção e  a desconfiança, estourou  a notícia que o pessoal de Itabuna havia molhado as mãos do goalkeeper.  Como seria difícil provar, iam-se por terra as esperanças de um Intermunicipal, mas ficara guardado na mente de cada belmontense o caprichado e memorável prato de penudos.

 Heckel Januário