Casais em nova união: outra chance ou condenação?*
Vivemos tempos em que proliferam as separações conjugais. Inúmeras são as causas. Resultam em justificativas mais ou menos aceitáveis socialmente: imaturidade, inconsequência, intolerância, vícios, violência, adultério, descaso, falta de amor… A lista segue infindável, pois cada qual tem a sua própria desculpa para a separação. Normalmente, os familiares e conhecidos elegem a vítima e o culpado, nem sempre cientes do que se passou durante a união conjugal. Algumas condutas auxiliam os julgadores de plantão a emitir opiniões acerca de quem teve razão e merece ser acolhido, e quem deu causa a separação e deve ser punido. Mas, será que precisa ser assim?
No versículo 21b de Salmos 44 está escrito que Deus sabe os segredos do nosso coração. Ele sabe quem pecou e quem não pecou. Sabe quem se arrependeu e quem não se arrependeu. Sabe quem merece ser salvo e quem deve ser condenado. Vê aquilo que não enxergamos, conforme se pode ler no capítulo 16 da primeira carta de Samuel, em seu versículo 7b “… o Senhor não vê como vê o homem, pois o homem vê o que está diante dos olhos, porém o Senhor olha para o coração.”
Ainda assim, muitos de nós consideram justo e adequado julgar aos irmãos, independente de conhecer o que realmente se passa em seu coração. Algumas pessoas se avaliam acima de qualquer suspeita e, portanto, em condições de censurar, advertir e condenar aqueles a quem consideram pecadores, sem levar em conta que podem estar destruindo vidas que o Senhor deseja resgatar.
Foi assim com a mulher adúltera apresentada no capítulo 8 de João, versículos 3 a 11. Não havia escape para ela, pois apanhada em flagrante adultério, pela inflexível lei mosaica, deveria ser condenada à morte por apedrejamento. Os escribas e fariseus não estavam interessados na salvação de sua alma, no entanto, mas em colocar Jesus à prova, expondo-o em contradição dos seus legítimos ensinamentos perante a multidão.
Sabiamente, o Mestre instituiu então um júri primitivo. De um lado os acusadores, escribas e fariseus; de outro lado a ré, mulher adúltera. Inicialmente, ele deu a palavra à acusação, e fez questão de advertir que deveria lançar a primeira pedra aquele que estivesse sem pecado. Obviamente, Jesus tem conhecimento de que todos os homens erram, variando apenas o tipo de erro, o quê, certamente, deveria servir como reflexão e exame de consciência antes de apontarmos falhas alheias.
Na ocasião, os acusadores confrontados com as palavras do Mestre e avaliando o seu íntimo, reconheceram-se tão pecadores quanto a mulher, e foram se afastando um a um, a começar pelos mais velhos, restando apenas Jesus e a mulher. Nesse momento, o justo juiz indaga a ré: “Mulher, onde estão os teus acusadores?” “Ninguém te condenou?” E ela responde: “Ninguém, Senhor!” Pois bem, quando não existe acusação não há que se falar em sentença de condenação. Nesse momento, o júri estava desfeito, e apesar do justo juiz reconhecer o pecado da ré, não a condenou, despedindo-a com estas palavras: “Nem eu tampouco te condeno; vá e não peques mais”. Ora, Jesus foi misericordioso, apesar de reconhecer o erro.
Religiosamente, no entanto, quase nunca é assim. Agimos mais como escribas e fariseus, excluindo e exigindo a condenação, do que exercitando a misericórdia com os que erram. Casais em nova união podem estar adulterando ou não, e também contar com o julgamento do justo juiz, que não vê como vê o homem, mas olha para o coração das pessoas. Outra chance é possível sim. Pensemos nisto quando nos arvorarmos juízes alheios e, a despeito de nossos pecados, sentirmo-nos tentados a atirar a primeira pedra.
* Texto escrito com o auxílio de meu atual esposo: Missionário André Luiz Aparecido dos Santos.
Maria Regina Canhos (e.mail: mariaregina.canhos@gmail.com) é escritora.
As Igrejas de um modo geral apoiam e orientam para união perfeita, comunhão com o outro/a e com Deus. Simplificando as coisas, quando uma união não tem características de SACRAMENTO, não faz a felicidade do casal, não se trata de vítima e culpados é só constatar que Deus é louvado na felicidade das pessoas a mais importante obra da criação divina. As Igrejas dão atestado de NULIDADE do casamento da mesma maneira que os médicos dão atestado de óbito. Dão os “remédios”, orientam, acompanham mas respeitam as vontades e Deus seja louvado nas uniões felizes e não nas mantidas como “carmas” manter as aparências, etc., etc…