Principal causa de morte em crianças por doença no País, o câncer infantojuvenil precisa com urgência de atenção e investimentos

Sociedade Brasileira de Oncologia Pediátrica explica que a taxa de cura do câncer infantojuvenil em países da Europa e nos EUA está entre 80 e 90%, já no Brasil a taxa de mortalidade chega a 50%

O câncer é a principal causa de morte por doença em crianças e adolescentes de zero a 19 anos no Brasil, apesar de ser uma doença rara, pois representa apenas 3% de todos os cânceres diagnosticados no País, cerca de 12 mil novos casos são diagnosticados por ano, segundo o Instituto Nacional do Câncer (INCA). De acordo com Carla Macedo, presidente da Sociedade Brasileira de Oncologia Pediátrica (SOBOPE), a doença deve ser considerada como um problema de saúde pública, pois o tema é pouco discutido no Brasil e esquecido na maioria dos fóruns de discussão sobre o câncer.

Segundo a presidente, que debateu o tema no encerramento do1º Congresso Todos Juntos Contra o Câncer na última quinta-feira, dia 25, a taxa de cura do câncer infantojuvenil em países da Europa e nos Estados Unidos está entre 80 e 90%, já no Brasil a taxa de mortalidade chega a 50% e em alguns lugares os pacientes com leucemia têm expectativa de cura em apenas 30% dos casos por falta terapia de suporte como antibióticos, antifúngicos, hemoderivados, difícil acesso, precariedade de recursos humanos, materiais e infraestrutura.

Carla explica que não se pode mais admitir que um centro oncológico de adulto separe apenas alguns leitos para as crianças e realize o tratamento para esses pacientes, pois as patologias são diferentes e os protocolos terapêuticos das crianças são altamente tóxicos. “É preciso que as crianças sejam tratadas em centros de referência especializados, o prognóstico e todo o planejamento terapêutico depende de exames diagnósticos complexos, não podemos ter como instrumentos apenas raio-x, hemograma e mielograma, precisamos de ressonância, tomografia em tempo hábil, exames complexos como de biologia molecular, que nem possuem cobertura pelo Sistema Único de Saúde (SUS). Nossos pares precisam se juntar a essa causa e lutar pelo tratamento digno para as nossas crianças”.

“A única maneira que temos de melhorar esse quadro é com diagnóstico precoce, com a criação de uma rede de acesso aos centros de referência, exames de diagnósticos adequados para cada tipo de câncer, protocolos terapêuticos atualizados, terapia de suporte disponível, equipe multidisciplinar treinada em pediatria e incorporação de novas drogas que só será possível com o fortalecimento da pesquisa clínica nessa especialidade”, ressalta a médica.

Mesmo com as adversidades, Carla se mostra otimista e afirma que o tratamento no País evoluiu muito nos últimos anos. “Saímos dos 20% de índice de cura e agora chegamos aos 50%. Para atingirmos 70% temos que agir mais e o Brasil tem total condição de realizar esse feito”, conclui.

O tema também será debatido no XIV Congresso Brasileiro de Oncologia Pediátrica, que acontece entre os dias 27 e 30 de novembro em Brasília (DF).

Sociedade Brasileira de Oncologia Pediátrica (SOBOPE)Fundada em 1981, a SOBOPE tem como objetivo disseminar o conhecimento referente ao câncer infantojuvenil e seu tratamento para todas as regiões do país e uniformizar métodos de diagnóstico e tratamento. Atua no desenvolvimento e na divulgação de protocolos terapêuticos e na representação dos oncologistas pediátricos brasileiros junto aos órgãos governamentais. Promove o ensino da oncologia pediátrica, visando a divulgação e a troca de conhecimento científico da área em âmbito multiprofissional.