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CONSTRUÍDO COM ÓLEO DE BALEIA: VERDADE OU MITO?

Alan Dick Megi

Alan Dick Megi

Quando iniciava minha carreira em Ilhéus, no início dos anos 80, ouvi com surpresa uma afirmação a respeito de construções antigas: “Essa construção foi feita com óleo de baleia! Ela é muito forte!”

Estranhei, mas não pensei muito no assunto e continuei construindo da forma que tinha aprendido na faculdade de arquitetura, utilizando cimento e evitando qualquer contaminação da massa ou do concreto com substâncias estranhas, com água suja e também com qualquer tipo de óleo.

Sim, sempre soube que se o concreto entrar em contato com óleo, de qualquer tipo, sua qualidade fica comprometida, pois o óleo impede ou dificulta a aderência das partículas que compõem a argamassa ou o concreto, diminuindo sua resistência. Aprendi na faculdade que os aglomerantes utilizados na construção civil, desde a antiguidade, foram as argilas, a cal, as pozolanas, o gesso, até chegarmos ao cimento Portland, criado em 1824. Hoje já se usam outras colas sintéticas para substituir algumas argamassas, porém, continua sendo o cimento o grande insumo da construção civil.

Então, que propriedade milagrosa teria esse óleo do maior mamífero aquático da terra, a ponto de gerar um efeito contrário aos outros óleos, cujas características comuns impedem a aglutinação ou a liga das areias e pedras que são misturadas nas argamassas? Ou então não seria um óleo. Quem sabe não seria uma proteína?

Afinal, por que tantas pessoas e até engenheiros e arquitetos repetem essa afirmação de que as construções do passado eram feitas com óleo de baleia e tinham uma resistência superior?

Resolvi então buscar informações sobre o assunto e descobri que na verdade nunca se usou óleo de baleia nas argamassas de nossas construções. NUNCA!

Então de onde surgiu tal mito? Por que tantas vezes se repete essa afirmação com tanta certeza e de forma tão categórica? Outro dia, passando por nosso centro histórico, um grupo de turistas provenientes de um dos transatlânticos que aportou em nossa cidade, recebia do guia turístico uma série de informações a respeito de nossa história e de nossas estórias, quando eu ouvi do guia novamente a afirmação acerca do óleo milagroso que teria propriedades diferentes de todos os outros óleos. Sorri internamente e resolvi escrever sobre o assunto.

Na verdade o óleo de baleia foi um importante e valioso produto nos séculos passados, pois um dos principais usos era na iluminação pública, como combustível dos lampiões. Naquela época, muitos produtores e comerciantes enriqueceram e se tornaram grandes investidores na construção de imensos casarões, tanto para uso residencial como também comercial. Grande parte dos edifícios antigos de Salvador foi financiada pelos comerciantes e produtores do óleo de baleia e por isso se dizia de peito estufado: “Isso tudo eu construí com o óleo de baleia!”, “todos esses edifícios foram construídos com o óleo de baleia”, ou seja, com o dinheiro auferido com a comercialização do óleo de baleia. Da mesma forma que na região cacaueira muito se construiu com o cacau! Na região do café, os ricos produtores também construíram com o resultado de seus ganhos, porém nunca se usou as sementes de cacau ou café misturadas na argamassa. Essa é apenas uma forma de expressão que, com o passar dos anos, teve mudado o seu sentido original, fazendo-nos crer nos efeitos milagrosos do óleo.

Portanto, caros colegas arquitetos e construtores, contentemo-nos por enquanto com as propriedades do velho e amigo cimento, e deixemos de acreditar que no passado havia um óleo que o substituía.

Alan Dick Megi é Arquiteto e Urbanista e Conselheiro do CAU-BA.

10 respostas para “CONSTRUÍDO COM ÓLEO DE BALEIA: VERDADE OU MITO?”

  • Nilson Pessoa says:

    Muito legal, Alan. Parabéns.

  • Muito elucidativa suas informações. Resolvi pesquisar sobre o assunto pois irei postar algumas fotos que tirei ontem nas imediações da feira da Rua do Lavradio.
    Muito obrigada.
    Chris

  • Ísis Claro says:

    Super objetivo! Obrigada! Tomei a liberdade de compartilhar por estar cansada de ouvir mitos… rsrsrs! obrigada!obrigada! Obrigada! Ah! Claro que com os devidos créditos…

  • Marcos Duarte says:

    Boa noite.
    Procure na literatura sobre muro de pedra lavrada “cantaria”. Para o assentamento rigoroso utilizam-se grampos metálicos  e, às vezes, óleo de baleia como adesivo, para auxiliar na vedação . E viva os Gregos!!!

  • Alan Dick Megi says:

    Marcos, creio que o termo não seria “adesivo” , e sim “impermeabilizante”. O óleo de baleia também era utilizado como impermeabilizante em virtude das propriedades hidrofugantes do óleo. O que foi contestado era a suposta utilização como aglomerante na argamassa. Por outro lado a cantaria utiliza blocos de pedra, em geral arenitos, cortados em formas regulares e perfeitamente encaixados. Em suas juntas pode haver um produto impetmeabilizante, mas esse produto não vai conferir resistência mecânica adicional ao edifício.

  • BETINHO DE SAUBARA says:

    PARABÉNS, ALAN !

  • Ivani says:

    Caro Arquiteto Alan,
    Comprei um apartamento antigo no Rio de Janeiro e recuperei suas características originais. O meu empreiteiro comentou que todos os detalhes do rodateto e de um portal que separam duas salas, que a priori eu imaginava ser de gesso trabalhado, seriam feitos de um material que não existe mais, composto de… óleo de baleia!
    Vim pesquisar e encontrei o seu esclarecedor texto. Então é tudo crendice?
    Eu achei estranho, mesmo, que um óleo fosse misturado ao gesso. Apesar de que eu não entendo muito disso… Mas muito interessante e coerente sua versão para essa crença popular.

  • Augusto Gentil says:

    Prezado Alan: li com bastante interesse seu artigo acima e gostaria de dizer o meu avô, italiano que chegou no Brasil em 1918, era construtor e fez inumeras obras em Aracaju/Sergipe. Entre ele as está a Praça Fausto Cardoso com seus magníficos coretos, cujos tetos ou cúpulas foram feitos com uma mistura de piaçava, gesso e óleo de baleia. E continuam em perfeito estado, desafiando o tempo. Infelizmente como meu avo ja faleceu, não sei lhe informar se o óleo era usado para dar liga na argamassa (piaçava e gesso) ou ser era para impermeabilização… Grande abraço… Augusto Gentil … aagentil@globo.com

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