O DOM DA VIDA
Luiz Ferreira da Silva
80 anos (10 de fevereiro/1937-2017)
luizferreira1937@gmail.com
Comumente, sobretudo as mulheres, à medida do seu envelhecimento, não curtem os aniversários pós- 40. Eu, pelo contrário, hoje me sinto mais feliz de quando fiz 60 ou 70.
O meu sonho foi sempre ficar velho, significando dispor de mais tempo para produzir, possibilitando-me deixar marcas positivas. Consegui. Daí a minha felicidade desta data – 10 de Fevereiro de 2017.
Nessa caminhada, não posso querer mais do que adquiri e, tampouco, do que a natureza orgânica me presenteou. Só tenho que ser grato.
No primeiro caso, considero-me rico, pela evolução social, econômica e cultural, que não se medem em cifrões. Por falar nestes, pobre é aquele que nada dispõe, a não ser dinheiro.
No segundo caso, recorro ao que minha Professora de Pilates me perguntou, antes de uma aula, se eu tinha alguma dor. Aí eu caí em mim e descobri que ainda não chegara à temida idade do Condor (dói aqui, dói ali…). Até hoje, a única dor que senti foi dor de dentes ou topadas. Então, daqui para frente, o que acontecer é lucro e nada a reclamar, pois fui um dadivoso.
Por outro lado, Quando olho no retrovisor e projeto os meus colegas dos tempos de Colégio (1951-1957), Universidade (1958-1962) e Profissionalismo (1963-1992), vejo o quanto fui agraciado, considerando o elevado número de colegas que se foram entre 65 e 75 anos
Esses dois fatos reforçam o quanto fui distinguido, repito, nessa trajetória da vida, procurando trilhas de menos riscos, privilegiando a saúde, através da edificação de uma família e, paralelamente, no respeito aos limites do corpo físico e mental, tentando harmonizá-los.
Merece aqui um parêntesis: – “ninguém ficará impune ao transgredir as Leis da Natureza, seja de cunho ambiental (ciclos fito-biológico-climáticos) ou orgânico (sobrecarga dos órgãos vitais/farras descomedidas)”. Tudo tem seu limite; mais tarde vem a cobrança.
Então, o que quero mais da vida? Apenas tentar prolongá-la sem a neura do apego, pois a morte é inexorável, mas criando condições para uma viagem estelar sem sofrimentos extremos. E me manter ocupado, sobretudo fazendo o bem, que deve ser o segredo da vida, sem perder de vista projetos a executar no limite das minhas forças, sem os quais a vida não teria sentido.
Então, teria que estar feliz na data de hoje, sem preocupação de festas, pois a sinto na alma. A razão principal está no maior bem adquirido com a esposa Airma (53 anos de casados em junho próximo) – uma FAMÍLIA constituída de 3 filhos, 7 netos e 2 bisnetos. Não consta no meu imposto de renda, pois seu valor não é medido em moedas.
No entanto, para finalizar, não devo me confiar tanto, haja vista um fato que relato, o qual serve de aviso a todos os velhinhos. É muito comum se ver um casal de seniores – ela cheia de achaques, reclamando de dores aqui e ali e ele, inteiro, dando a impressão que é o “cara”. De repente, a velhinha aparece sozinha numa excursão e lhe perguntam: – cadê seu marido?
– M-o-r-r-e-u, responde a nova VV (viúva viajante). (Maceió, Al, 10/02/2017)