Olha o malandro ai !!!! Imagem/internet
Antes de tudo, nada contra o Rio de Janeiro. Pelo contrário, orla urbana mais bonita do Brasil e uma das mais belas do mundo.
Lá nasceu a “cultura” da malandragem brasileira na figura folclórica do tal “malandro carioca”. Aquele mesmo, do século passado, camiseta listrada, chapéu-palheta, cheio de gíria, ginga, malemolência, papo envolvente, cuja razão de viver era boemia, diversão, driblar todo mundo e levar vantagem em tudo, certo? Esse personagem foi oficializado, carimbado, tomou o Brasil e varreu o mundo – principalmente América do Norte e Europa – virou propaganda turística e tornou-se uma referência do povo brasileiro (que referenciazinha, hein?), além de figura pitoresca, por ser algo que não existia naquelas bandas estrangeiras, da mesma forma que uma favela também é algo pitoresco e chega a ser ponto turístico para os gringos.
O tal malandro ficou tão conhecido mundo afora a ponto de inspirar os estúdios Disney na criação do personagem dos quadrinhos Zé Carioca.
Papagaio levou a fama. Imagem/internet
E não pense que só o Zé Carioca é mocinho na história. O malandro que lhe serviu de inspiração lá atrás também era mocinho no imaginário de todos, bem ao estilo herói bandido. Pode?
Aí o tempo foi passando e veio o malandro Gerson com sua maldita lei. O também malandro Bezerra da Silva conseguia explanar perfeitamente a essência da malandragem nas suas músicas. Mais recentemente, veio o malandro-corrupto-criminoso Cabral e.. vupt! Surrupiou o que pôde e o que não pôde, o que deu e o que não deu, e fechou a tampa do caixão com chave de ouro maciço, literalmente. Quebrou, faliu o estado do Rio de Janeiro.
Hoje, tramita no Senado uma sugestão de lei (SUG 17/2017, www.senado.leg.br) elaborada por um cidadão de São Paulo, cujo objetivo é criminalizar o gênero musical denominado “funk carioca”. Seus argumentos são de que esse estilo de música não tem nada de cultura e só incita crianças e adolescentes à malandragem, violência, criminalidade, pedofilia, pornografia e consumo de drogas.
Só que essa sugestão de lei caiu no colo de qual senador-relator? Adivinhe: simplesmente Romário. É lógico que não vai passar e já estou até imaginando qual será a argumentação do baixinho: “É uma manifestação cultural, faz parte da cultura do Rio de Janeiro e do Brasil”.
Sim, senador Romário, a velha malandragem brasileira resiste, sobrevive e se perpetua das mais variadas formas, muitas vezes acobertada pelo oportuno e intocável disfarce de “cultura”, “traço cultural” ou “manifestação cultural”, desde aquele folclórico personagem lá do século passado que, malandramente, ainda nos representa. Queiramos ou não.
Nilson Pessoa