Luiz Ferreira da Silva, 81

Pesquisador aposentado, ex-Diretor do CEPEC

luizferreira1937@gmail.com

A cada ano, o processo de degradação da lavoura cacaueira baiana se agrava ainda mais, num processo contínuo, seja pelo envelhecimento das plantações, seja pela falta de controle em termos abrangentes da vassoura-de-bruxa, proporcionando fragilidade ante as variações climáticas, como aconteceu em 2016/2017.

Pelo outro lado, não há nenhuma política pública para reverter o atual cenário catastrófico, pois sem a solução das dívidas e novos recursos não há alternativa para o cacau no Sul da Bahia. É fundo do poço mesmo, sem nenhuma luz a clarear.

É preciso se ter a consciência, por mais catastrófica que seja que a cacauicultura baiana caminha a passos largos para a sua deterioração “one way” (sem retorno) – técnica e econômica -, podendo se tornar no primeiro exemplo triste da exterminação de um cultivo perene.

As informações (Bahia Rural), fim de 2017, dão conta da queda vertiginosa da produção e redução ainda mais da produtividade média das plantações.

Isso significa não só a perda da hegemonia baiana, pois o Estado do Pará deverá assumir a liderança nacional do cacau, tanto em produção como em produtividade, mas também a inviabilidade do cultivo com o atual índice produtivo de menos de 30 arrobas por hectare.

Esse cenário se traduz por perdas históricas, desmoronando a importância econômica, quando antes era pujante a Região Cacaueira da Bahia, cantada em versos e prosas, que, ademais, já fora sustentáculo econômico-social do Sudeste da Bahia – Vale do Rio Jequiriçá/Vale do Rio Pardo.

Infelizmente, o cenário atual aponta:

ϴ primeiramente, como foi explicitada, a lavoura do cacau vem perdendo a sua hegemonia, de um cabedal secular, haja vista a falta de dinamismo de todo complexo cacaueiro, consubstanciando-se numa realidade que ainda o poder público e, tampouco a sociedade regional se deram conta.

ϴ e, por outro lado, perde também o Sul da Bahia para a sua Região contígua, o Extremo Sul – Vale do Rio Pardo/Vale do Rio Mucuri -em termos de valor da produção, comparando-se uma monocultura de economia espasmódica e dependente, com uma agricultura diversificada (celulose, cafeicultura, pecuária e fruticultura), dinâmica e de tecnologias avançadas.

Há de se perguntar: – acabou o ciclo do cacau baiano? Há ainda possibilidades de reversão? Existem lideranças para pegar o timão? O governo tem interesse? Em quem acreditar? (Maceió, Al, 10 de fevereiro de 2018)