O número anterior dessas Lembranças….,(o 11) tratou de modo breve da passagem do extensionista ceplaqueano Eneias Dórea com o escritor peruano Vargas Llosa em Queimadas, sertão da Bahia, quando este –depois de haver lido ‘Os Sertões’, famoso livro de Euclides da Cunha– realizava pesquisas sobre a terrível guerra de Canudos e que envolveu o Exército Brasileiro. Nas assessórias fez referências às verdades extensionistas do ontem e do hoje ao citar a orientação da Ceplac de eliminar o cupuaçuzeiro das fazendas como prevenção à Vassoura de Bruxa, doença que continua dando pano pra manga quanto à introdução na Região Cacaueira da Bahia: se de forma natural ou pela ação do homem.

Endêmica da Bacia Amazônica suspeitou-se a princípio tratar-se de sabotagem agrícola por parte de Costa do Marfim e Gana, países produtores de cacau. Dezessete anos depois dos primeiros focos serem descobertos (em 1989) a Veja reportou em 2006 –matéria recebida como uma ‘bomba’ no sul da Bahia– a autoincriminação do cidadão Luís Timóteo e, o envolvimento por ele feito de quatro ceplaqueanos. Num dos relatos afirmara que pegaram ramos infectados das cidades rondonienses de Ouro Preto do Oeste, Jaru, Cacoal e Ariquemes e espalharam em fazendas ‘sulbaianas’ adjacentes à Br-101 entre 1987 e 1991. Essas suspeitas foram investigadas pela Polícia Federal sem haver definições por –parece–, falta de provas. O então pesquisador da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e coordenador do Projeto Genoma da Vassoura-de-Bruxa, Gonçalo Pereira, em exposição também na impressa em 2006, declarou, baseado em estudos genéticos –publicado na revista cientifica Mycological Research– que não descartava a ação do homem, mas que a história como fora contada ao citado periódico era altamente improvável, porque a comparação genética de amostras de fungos de várias localidades do Brasil e do Equador ao mostrarem uma variabilidade muito grande do Moniliophtora (antes Crinipellis) Perniciosa, patógeno causador da Vassoura de Bruxa, não encaixava com os dois tipos –apenas– de fungos que causaram o crescimento epidêmico no Sul da Bahia. O filme “O Nó: Ato Humano Deliberado” de 2012 direcionando a causa como criminosa, botava novamente lenha na fogueira.

A preocupação, registre-se, com regiões indenes vem de 1940. Neste ano o governo federal proibiu o trânsito de material botânico para essas áreas. Em 1978, apertando mais a vigilância, foi criada pelo Ministério da Agricultura a Campanha de Controle da Vassoura de Bruxa conhecida como CAVAB, ficando a Ceplac incumbida de coordenar e executar ações preventivas. Foram então implantados postos de fiscalização no Acre, Rondônia, Pará, Bahia, Espirito Santo, Minas Gerais e Sergipe, formando um “cinturão de defesa”. Resultou (conforme Nota Técnica de Abril/2009 ao Senado Federal) em serem “… incineradas milhares de mudas de plantas e grandes quantidades de sacas de cacau”. Das relações em off entre extensionistas e integrantes da Campanha brotavam casos como “O senhor sabe com quem está falando? ”, costumeira frase soada de alguma madame de alguma autoridade –ou da própria de direito ou, da instituída pela força do cacau– regional para conseguir passar plantas exóticas pela inspeção oriundas do norte do país. E o pior: conseguia e, babau “Quarentena”. Também na época (fim dos anos

70 e nos 80 do sec. XX) se tinha que em razão das notícias de roças de cacau baratas na Amazônia o caucuicultor baiano se deslocava por vezes a esta região na busca de uma compra vantajosa ou, mesmo para conhece-la. E aí: após correr um cacaual com VB e não acreditando ainda na força do ‘vento’ em sua propagação, de volta à terra natal não hesitava em usar a mesma roupa –sem nenhuma assepsia– em sua propriedade.

Em tempo: Com referência ao 1º parágrafo. Fingindo desconhecer que o problema maior é a enorme desigualdade social, a República de Temer usa o mesmo método para combater a violência que a República de Prudente de Moraes usou em 1897 contra os nossos sertanejos.

Em tempo2: Antes, não havia como evitar a proliferação da VB, senão práticas como até a derruba do cacaueiro; hoje em dia já se desvenda o DNA de seu patógeno. E mais: Impulsionados pelo eterno processo do conhecimento, hoje já existem vários cultivos do cupuaçuzeiro na Região Cacaueira da Bahia. (Sim, leia-se Vassoura de Bruxa em VB)

Em tempo3: Infelizmente o ‘abuso de autoridade’ apesar da lei reguladora, é uma praxe nesse nosso sub país chamado Brasil. Ontem, declaradamente, hoje de uso muito mais pernicioso por envolto em artifícios, e de aplicações variadas.

Em tempo4: a referida quarentena vegetal era realizada pela SIPLA- Serviço de Introdução de Planta em Salvador.

Heckel Januário