Anísio Cruz – março 2018

As chuvas que passaram aqui, nos últimos dias, chegaram com vontade em outras regiões do Estado. O noticiário deu conta de enchentes e inundações em várias cidades, na Chapada Diamantina, e no norte e sudoeste da Bahia, favorecendo a agricultura e a pecuária. Lá em Sobradinho, a barragem que atingiu um nível crítico de 2,5 % de acumulação, no ano passado, chegou nos últimos dias a alentadores 26% do seu reservatório, permitindo que a operadora do sistema CHESF, retirasse a tarja vermelha das nossas contas de consumo de energia, aliviando o nosso bolso. Em Salvador, além das costumeiras inundações de avenidas e ruas da Capital, também houve desmoronamento de encostas, lamentavelmente, com 8 vítimas fatais, fora prejuízos materiais, como quedas de árvores, e um poste que desabou sobre 4 automóveis, no bairro de Cajazeiras. Os transtornos foram muitos, evidentemente.

Aqui, tivemos ciência de danos à rede elétrica no Salobrinho, interrompendo as aulas na UESC, e deixando às escuras toda região do entorno. Houve também danos à alimentação da captação de água da EMASA, que abastece a vizinha Itabuna, felizmente já restabelecida. Não soube de ocorrências aqui na nossa cidade, além das costumeiras inundações em ruas que possuem grande dificuldades de escoamento. Segundo o Serviço Nacional de Meteorologia, há previsão de mais chuvas, atingindo grande parte do nosso Estado, e nós não ficaremos incólumes. Como dizíamos num passado recente, “o cacau vai cair”, portanto, previnam-se.

A incidência de fortes chuvas, festejadas por todos os que lidam com a terra, traz consigo outros problemas, que somente serão vistos, em toda a sua extensão, após a estiagem, quando aparecerão lamaçais, e buracos nas estradas rurais, infernizando aqueles que por elas trafegam. Os atoleiros impedem o acesso às vilas e povoados, bem como, às fazendas atendidas pelas precárias estradas vicinais, provocando justos protestos nas comunidades atingidas. E só estamos no início da temporada de chuvas, que são comuns, e se repetem ano após ano, com pequenos intervalos entre os períodos. Depois teremos o veranico de maio, dando uma trégua na chuvarada, até que ela retorne com mais calma, com a chegada do inverno. É assim, ano após ano, e todos sabemos disso, mas sempre esquecemos.

Historicamente, fazemos parte de uma região aonde as precipitações pluviométricas, atingiam 1800mm. anuais, um privilégio diante da aridez do nordeste. Em função disso, a cacauicultura adaptou-se bem no nosso solo, e permitiu a formação de uma economia forte, antes do advento da “vassoura de bruxa”, que assolou a lavoura. Hoje, com os desmatamentos, nem sei se ainda atingimos 1500mm., deixando-nos com um déficit que, lamentavelmente, nunca mais será compensado. E teremos que nos ajustar à nova realidade. Não podemos cruzar os braços, e esperar que as “águas de março” que agora desabam, possuam a regularidade de outros tempos, enchendo os nossos reservatórios. Precisamos preservar as nossas matas (ou o que resta delas), nossas nascentes, córregos, e rios, mantendo-os limpos, fonte de vida que são. Se não tomarmos os cuidados necessários, preservando o que ainda nos resta, em pouco tempo teremos que buscar outras regiões, onde possamos voltar a sonhar. Se agirmos de forma ordenada, a pujança do passado, poderá voltar a acontecer, pois como disse o poeta, “sonho que se sonha só, é só um sonho. Sonho que se sonha junto, é realidade”.