Anísio Cruz – abril 2018

As notícias do meio político brasileiro, estão me enjoando. Os fatos constantemente repetidos, os fakes que circulam pela internet, vídeos com discursos de políticos contra, e a favor da prisão do Lula, e os fatos que diariamente acontecem no Planalto Central, estão minando a minha resistência, e me deixando com uma imensa vontade de me isolar numa ilha, distante de tudo. Até da internet, evidentemente. Fico me imaginando vivenciando aventuras como a de Robson Crusoé, sem maiores preocupações que viver o dia a dia, conversando comigo mesmo, e buscando as minhas respostas para questionamentos simples, nada além de filosofia barata acerca das coisas que nos cercam. Lembrei-me agora da querida e saudosa mestra Valdelice Pinheiro, na minha passagem pela antiga FESPI, hoje UESC, lá pelos anos de 1980. Ela tentando nos ensinar a pensar, com a liberdade dos grandes pensadores, como o Sócrates, o Platão, e tantos outros que me fogem à lembrança, enquanto nós, seus discípulos, resistindo apegados ao concretismo do nosso quotidiano, recalcitrantes a ensinamentos puros, que da nossa mestra emanavam. Lembro-me perfeitamente da frágil figura, a desfilar pelos corredores, carregando pastas repleta de papéis. A filosofia fluía daquela doce poeta, e pensadora, que tanta falta nos faz, nos dias de hoje, quando repetia amiúde, com a sua voz mansa: “não tenham medo de penar. Pensar não dói”- afirmava. Como ela nos faz falta, nas salas de aula de hoje, fomentando o pensamento crítico, e a capacidade de lidar com situações como as citadas acima…

Voltando ao nosso medíocre quotidiano, chego à conclusão de que nós, simples mortais, não passamos de marionetes, joguetes políticos, em mãos de hábeis prestidigitadores, a nos fazer agir, dessa, ou daquela forma, diante das jogadas engendradas, para que eles galguem posições nos seus tabuleiros. E assim vamos vivendo o nosso dia a dia, alimentando-nos de raivosos posicionamentos, capazes de nos fazerem agir, como seres idiotizados, e irmos às ruas defender posições, repetindo velhos refrões, pintando os nossos corpos despidos, muros, e monumentos, como se disso dependesse a solução dos graves problemas da nossa pátria. Será que defecar, ou urinar nas ruas, construirá algo de positivo para essa nova humanidade que assoma no limiar deste terceiro milênio? Quebrar vidraças, destruir bens patrimoniais, depredar e vandalizar monumentos históricos, satisfazem a que propósito político? Ultrajar a nossa Bandeira Nacional, um dos ícones da nossa pátria, ou trocá-la por outros símbolos alienígenas, o que constrói, efetivamente, em termos de brasilidade? O que pensam esses seres humanoides que nos cercam nas ruas, cantam e dançam alucinadamente, e se quedam exaustos e famintos, sob as marquises, a buscar abrigo? Quem são esses seres paridos por mães penalizadas pelo destino implacável, que lhes subtraiu aqueles pequenos seres que elas embalaram ao seio, saciando-lhes a fome? Serão eles os filhos, de seus ventres, gestados por longos nove meses a lhe deformar os corpos? Não. Não são mais os mesmos. Agora vestindo farrapos e com os olhares vazios, dos que perderam-se nas encruzilhadas das vida, achando que conquistariam o mundo dos prazeres infindáveis. Outros nem sabem mais quem são, e apenas seguem ídolos que lhes conduzem atados pelas ruas, qual desconjuntadas marionetes a moverem-se, loucas e vazias.