Nada tenho que queixar de toda minha infância e adolescência. Tudo foi maravilhoso. Na infância procurei participar de tudo: Estudei no General Osório na época que a Diretora era a Professora Nilza Vivas, usava farda onde a calça era de cor azul e a camisa era de cor branca com a inscrição EGO (Escola General Osório). Porém, os alunos de outros colégios diziam que o nome era Escola Gato Ousado, e daí existia a rivalidade terminando em porrada. Joguei Baba de praia (cacareco), e tive time de futebol chamado “Carcará”; jogava baba de rua defendendo a Rua Fonte da Cruz contra a Baixa Fria, joguei também gude com lasquinê, empinei pipa, enrolei pião, brinquei de soldado e ladrão, troquei figurinhas e gibis nas matinês nos cinemas, assisti filmes de Tarzan, cowboy e épicos romanos, dancei quadrilha junina, cantei na radio cultura, peguei carrego, vendi laranja e rolete de cana no campo de futebol, fui ajudante de sapateiro, lavei sanitários dos outros e encerei as casas residenciais com cêra cachopa para brilhar bastante, no intuito de ganhar um trocado para ir ao cinema e comprar guloseimas. Certo dia fui pescar com meus primos na ponte de cimento do porto antigo onde estava ancorado o navio Spencer que estava embarcando cacau para o exterior. E como fiquei pescando próximo aos guindastes fui acometido de um acidente sendo lançado ao mar e por pouco não me afoguei graças a um estivador que estava próximo e conseguiu me salvar. Ainda na infância tive que encarar a responsabilidade começando a trabalhar logo cedo pois tinha que ajudar em casa. Naquele tempo minha residência não tinha água encanada e tampouco luz elétrica. A casa era iluminada através de velas ou candeeiros a querosene. A energia veio tempos depois pela CERC (Centrais Elétricas Rios de Contas). Todos os dias ao levantar tinha que buscar água para o gasto na Fonte da Cruz: banho, lavar roupas, limpeza da casa e sanitários. A Fonte era onde é hoje o início da escadaria para o convento da Piedade. Após terminar de encher os tonéis de água, me dirigia para buscar água de beber no Fundo do Estádio Mário Pessoa, exatamente onde existiu a fábrica do Guaraná Mônaco, na residência da família Mônaco. Tempos depois a empresa de água SEAE (Serviço de Água e Esgoto) colocou a tubulação até a residência de meus familiares, desaparecendo por completo aquele suplício diário. Fui coroinha da Igreja São Jorge e ajudava nas missas dominicais principalmente nos segundos domingos de cada mês onde os Congregados Marianos se reuniam no salão paroquial onde era servido um excelente café da manhã e evidentemente estava presente e não perdia nenhum. Naquele tempo despertava às 5:00 da manhã e logo cedo estava na Sacristia da Paróquia de São Jorge junto com os Padres da época: Dom Caetano, Padre Jorge Saraiva, Padre Bernardo, Monsenhor André, Padre Argolo, Padre Bernardo, Padre Dorival e Padre Arnóbio.

Tempos depois já chegando a adolescência comecei a andar com meus primos que moravam na Rua Carneiro da Rocha. Lá fiz novas amizades e passei a me integrar com os moradores do local. Nas festas juninas era comemorado nas residências com muita canjica e licor. Formamos uma turma denominada “Los Duros”, ou seja, todos sem dinheiro, contudo participávamos de quase todos os eventos da cidade sem gastar nada, até mesmo para entrar no cinema utilizávamos de um esquema especial onde ludibriávamos o porteiro dizendo que “saír aí” e o porteiro chamado Luiz que trabalhou nas Casas Pernambucanas aceitava plenamente.

Certo dia fui assistir uma partida de futebol no Estádio Mário Pessoa e a única fórmula para entrar era pular o muro. Aconteceu que todos conseguiram pular e na minha vez após pular o fiscal me pegou e ordenou que eu voltasse pelo mesmo lugar que pulei com todo sacrifício pela primeira vez. Procurei argumentar com o fiscal que não sabia pular o muro e pedir para sair pelo portão de entrada e ao passar a galera me vaiou dando-me peteleco. Foi uma vergonha danada

Lembro-me também dos nossos passeios em Itabuna onde íamos paquerar aos domingos. Ao pegar o ônibus o cobrador perguntava se tínhamos passagem. E como tínhamos uma passagem de outras oportunidades, dizíamos que já tinha. Certo dia o cobrador pediu para ver a passagem, relutei bastante mais o cobrador insistiu em ver a bendita passagem. Ao mostrar ele conferiu a data e disse que aquela estava vencida e que tinha que tirar uma nova naquela hora. Como não tinha nenhum centavo pedir ao cobrador para fazer vista grossa, pois não iria mais fazer aquilo. Devido minha humildade o cobrador deixou pra lá dizendo que não torne a outra senão iria ficar no meio do caminho.

O tempo foi passando e a responsabilidade aumentando. Aos dezessete anos me alistei no exército onde fui dispensado por “excesso de físico” ou seja excesso de contigente.

Tempos depois cada qual foi tomando seu rumo, hoje a maioria estão formados, casados e com filhos, por certo estão ganhando seus salários sem precisar fazer traquinagens como essas.

Mesmo com todas as peraltices da infância, procurei sempre ser reto e responsável. Agradeço aos meus pais que souberam me educar, apesar de todas as dificuldades da vida, principalmente naquela época onde as coisas eram mais difíceis.

Meus pais foram verdadeiros heróis da minha vida, criaram doze filhos, dando alimento, estudo e educação em escola pública com muita honra. Somos gratos por tudo. Agradecemos a Deus pelos pais que tivemos.

Luiz Castro

Bacharel Administração de Empresa