(NOTAS DE BELMONTE – ‘BEBEL’ PARA OS MAIS CHEGADOS)
A extensa planície da boca do Jequitinhonha chamada de Bebel pelos mais
chegados não teve –nascida ribeirinha e marítima– dificuldades para, com as
condições afloradas, se tornar portuária.
Porto que começa a se erguer nos 50 anos iniciais do século XIX com as
transações comerciais de mercadorias entre Bebel e Salto da Divisa no norte de
Minas Gerais. A respeito Milton Nascimento na pag. 31-32 do tópico ‘A
importância dos canoeiros do Baixo Jequitinhonha’ de seu livro “Cachoeirinha
_Freguesia de Nossa Senhora da Conceição…” ressalta que “De Belmonte levavam
para Minas Gerais artigos manufaturados oriundos da Europa, e gêneros de
primeira necessidade como sal, querosene e outros produtos. De Minas traziam
algodão produzido no médio Jequitinhonha que vinha até Belmonte e dali levado
para Salvador para ser exportado. Traziam também de Minas requeijão, manteiga e
carne de jabá. ”
E se consolida –de 1850 para frente, principalmente no decorrer da primeira
metade do século XX– em razão do nascimento de uma mercadoria diferenciada:
o cacau das margens do grande rio e que transforma o ‘porto’ num centro
efervescente e irradiador da economia da pequena Bebel. Não tardou a oficial Av.
Presidente Getúlio Vargas paralela ao rio ser transformada, efeito da mudança, na
sugestiva Rua do Porto.
Com a pujança cacaueira o ancoradouro fluvial do Jequitinhonha, à época
caudaloso, condicionava a atracação de navios de variados tamanhos e
consideráveis calados. A dar suporte para o transporte não só de cargas, mas
também de passageiros, o porto passa a ser o motor do progresso da cidade. Vapor
(como as embarcações da época –por serem movidas por este gás– eram
conhecidas) como o Itapicuru, o Cisne Branco, o Cachoeira, o Camacan dentre
outros ficara gravado nas mentes dos belmontenses que vivenciaram o período
desse ambiente portuário e, claro, suas histórias. Algumas recheadas de doses
hilárias, como a do naufrágio do Itiberê na costa de Bebel. Conta-se que um
lavrador de cacau dois dias após o acidente ao cobrar de outro cacauicultor o
pagamento de um débito relativo a um empréstimo lhe concedido, do devedor
ouviu o sonoro retorno: “Meu amigo, não se preocupe não. Tenha paciência. Na
volta do Itiberê o dinheiro estará em suas mãos”. Acontece que até aquele
momento só poucas pessoas sabiam do acontecido, a exemplo do espertalhão e
inadimplente lavrador.
O fato se incorporou ao imaginário popular da cidade a ponto de, em
qualquer conversa a dois que houvesse uma cobrança por solução, tiradas como
“Na volta do Itiberê eu te pago” ou “Na volta do Itiberê eu resolvo” saiam de batepronto.
Depois da navegação fluvial-marítima com as canoas e os barcos a vapor,
outro pendor de Bebel foi pela aviação. Os dois estão intrinsicamente ligados
porque antes da ‘pista terrestre’ o palco dos pousos – com os aviões do tipo
Junkers W-34 e JU-52 a intermediar em escala regular a linha Salvador/Rio de
Janeiro e vice-versa– foram as águas do Jequitinhonha. Mas essa parte fica para a
próxima Umas e Outras…
Heckel Januário
Em tempo: A Bahia foi uma das primeiras localidades a desenvolver o primeiro
meio de transporte introduzido no Brasil. Os portos de Salvador e de Ilhéus foram
importantes nessa empreitada. Hora com bons, hora com maus serviços,
companhias de navegação, alternavam-se no domínio das concessões, inclusive
capitalistas na jogada, e o próprio governo estadual. Inicialmente a do Recôncavo e
depois a do Sul da Bahia foram regiões onde a navegação baiana deu seguimento.
A do Sul, com o advento do cacau, passou a liderar o comércio marítimo baiano.
Embora a navegação atuasse como uma alavanca de crescimento, o período de seu
incremento foi de submissão do Brasil ao capital inglês. No de hoje o impositor
(ou impositores) é mais imperceptível, mas a subordinação continua subordinação.
Em tempo2: mesmo não tendo encontrado literatura sobre o Itiberê o site
www.naufragiosdobrasil registra que o naufrágio foi mesmo em Belmonte.
Em tempo 4: a inserção dos aviões Junkres se assentou em matérias dos jornais
‘Tabu’ (1ª quinzena de julho e 2ª de agosto de 1996) e ‘A Tarde’ de 23/8/1992