Descobrir uma nova espécie é trabalho árduo. Com essa etapa vencida, uma das coisas a se fazer é propor um nome científico para designar a espécie, e ao longo da história da ciência pessoas, lugares e mesmo produtos culturais já foram contemplados com alusões nesses novos nomes. O professor Jomar Gomes Jardim, que pesquisa e leciona junto ao Centro de Formação em Ciências Agroflorestais (CFCAF), no Campus Jorge Amado (Itabuna) da Universidade Federal do Sul da Bahia, foi homenageado pelos autores da descoberta que resultou no registro e descrição da Eremitis jardimii, uma espécie recém-descoberta de bambu.

No artigo Eremitis jardimii (Poaceae, Bambusoideae), a new species from Bahia, Brazil, publicado na revista científica Kew Bulletin e assinado pelos pesquisadores Fabrício Moreira Ferreira, Cassiano A. Dorneles Welker (Universidade Federal de Uberlândia), Lynn G. Clark (Iowa State University) e Reyjane P. Oliveira (Universidade Estadual de Feira de Santana)os autores explicam que o nome da gramínea é “um tributo ao Dr. Jomar Gomes Jardim, um defensor ardoroso da conservação da flora da Floresta Atlântica do sul da Bahia”.

O professor Jomar desenvolve diversas atividades na pesquisa, tendo feito também suas descobertas de espécies vegetais na região, bem como nas orientações de estudantes e iniciativas de extensão sobre plantas alimentícias não-convencionais. Ele falou com a ACS sobre a homenagem, o processo para dar um nome científico a uma espécie recém-descoberta e o que está pesquisando no momento.

 

Como o senhor percebe essa homenagem, típica do ambiente científico? 

Sim, eu diria, típica dos taxonomistas, nesse caso. Eu, na verdade, como taxonomista prefiro que nomes sejam dados usando alguma característica que nos ajude a identificá-las, tais como o pau-brasil (Paubrasilia echinata) onde “echinata” significa “espinhos” em latim, aludindo aos seus frutos que apresentam espinhos. Porém, algumas pessoas, devido à sua contribuição à ciência ou à sociedade, merecem sim ser homenageadas.

 

Como é o processo de registro de um nome científico para uma nova espécie? 

Primeiro, é necessário conhecer a fundo as características morfológicas e ecológicas do grupo em estudo, seja uma família, um gênero ou um grupo de espécies. Segundo, é necessário já ter alguns registros guardados nas coleções (Herbários) ou realizar expedições em campo e coletar espécimes para estudá-los. Em ambos os casos, é necessário que o especialista já tenha um conhecimento sobre o grupo em estudo para desconfiar que se trata de uma nova espécie. A partir daí, terá que investigar todos as características possíveis para “provar” que se trata de um taxon nova e não de uma espécie já descrita. Feito isso, a proposta (manuscrito) será enviado para um periódico (revista) especializado, no qual os editores enviarão o texto para um parecer por pares; após revisão dos pareceristas, o texto retorna ao proponente que fará os ajustes necessários até ser aceito para publicação.

 

O fato de ser uma nova espécie de gramínea tem relação com seu histórico na pesquisa em Botânica? 

Sim e não. Sim, porque eu como mateiro e coletor no início da carreira, sempre coletei todos as plantas que apareciam em minha frente, sem discriminação. É que alguns coletores costumam deixar alguns grupos de plantas de lado, não dão atenção, por serem mais trabalhosos para coletar, e um destes grupos é o das Gramíneas. Como pesquisador, eu escolhi trabalhar com um grupo distante das gramíneas que são as Rubiaceae, a família do café, do jenipapo.

 

Que projetos o senhor desenvolve no momento? 

Na minha linha de pesquisa específica (taxonomia e sistemática), atualmente eu estou focado em alguns gêneros de Rubiaceae na Região Nordeste, especialmente da Mata Atlântica. Mas oriento projetos em outros grupos que têm publicado algumas espécies (quatro novas espécies entre 2019 e 2020) da flora brasileira.