Imagine esta cena: Um ladrão perseguido por populares corre desesperado pelo Largo dos Dois Leões, próximo à Baixa de Quintas. Sem opção de fuga entra num estabelecimento comercial situado quase defronte de um posto policial. Funcionários e clientes da loja entram em desespero com o clima de revolta que toma conta do ambiente. Alguém, com uma faca em punho, ameaça cortar o marginal. Pânico geral.

“Chamem a polícia!”, alguém grita, entretanto nenhum policial se encontrava no módulo que, desativado, é mais um ponto sossegado para elementos como o ladrão em questão utilizar na madrugada.

Felizmente aparece uma guarnição, os ânimos se acalmam e o fugitivo é levado para a delegacia. O drama aqui narrado é inspirado num fato real, assim como é uma realidade a insegurança que paira em vários bairros da cidade que possuem módulos, porém desativados e ocupados por pedintes, marginais e usuários de droga.

Conforme já esclareceu há algum tempo a Secretaria de Segurança Pública da Bahia e o Comando da Polícia Militar, o fechamento dos módulos é uma estratégia de segurança a nível nacional. Os postos policiais funcionavam como alvo fácil para o crime organizado, o que não ocorre com rondas efetuadas por viaturas. Entretanto, o abandono destes equipamentos continua a assustar as pessoas de bem, principalmente as residentes em bairros com índice de violência acima da média.

“Este módulo desativado é um absurdo!”, diz o motoboy Paulo Matos de Jesus, 23, que presta serviço à loja invadida pelo grupo que percebia o ladrão. “Já tem mais de um ano que este módulo policial fechou. Já foi reformado, em seguida atacado, botaram fogo e nunca mais nenhum policial apareceu. Uma viatura para de vez em quando ao lado, mas depois vai embora.

Estamos aqui desprovidos de segurança. A nossa loja já foi assaltada duas vezes e teve até ato de vandalismo quando da perseguição ao marginal que entrou aqui. A noite aqui é muito difícil pra gente”, relatou Ita Cássia da Costa, 39, do setor administrativo da empresa onde o fugitivo tentou se refugiar.

“Os mendigos já tomaram conta da maioria dos módulos policiais aqui da área”, diz Maria do Rosário da Silva, 32, ao se referir aos módulos situados entre o Largo do Tamarineiro, a Liberdade e o fim de linha do Pero Vaz. O primeiro ganhou câmara de filmar do lado externo, soldados da Polícia Militar estão sempre parando ao lado do equipamento, mas essas iniciativas ainda não devolveram a tranquilidade que os moradores e comerciantes do largo desejam da segurança pública.

“Eu gostaria de ver o módulo funcionando normal, inclusive durante a noite toda. É muito importante ter os policiais por perto. Temos um banco aqui e deveria haver ronda 24 horas. A nossa farmácia já foi assaltada e continuamos correndo este risco. Ainda bem que colocaram uma câmara em cima do posto”, comentou a balconista Adinalva Nascimento, 34, do setor administrativo da drogaria, que revelou se sentir mais seguro hoje, graças à ronda incrementada pela PM no local.

Espaço degradado

Ocupada com o movimento da banca localizada no Largo do Tamarineiro, Jaqueliana Romano, 36, também clama por mais segurança na região. “Estou há 12 anos aqui. Os policiais aparecem, mas não ficam efetivamente no posto. Eles sempre saem”, observou.

A situação do módulo policial do Largo da Ribeira lembra a do posto do Largo dos Dois Leões: espaço degradado, sujo, praticamente em ruína. “A Polícia Militar anda sempre por aqui, mas o posto está abandonado. Sofreu um atentado há cerca de um ano e de lá pra cá não funcionou mais. Está entregue as baratas. A gente quer que, mesmo que feche a noite, que funcione durante o dia”, disse Maria Cardoso Lopes, 46, moradora do aprazível bairro da península itapagipana.

O comerciante Francisco Carlos, da Sorveteria da Ribeira, considera a desativação do módulo policial do bairro “uma vergonha! Nós vamos receber milhares de turistas neste verão, o carnaval chegando, e é esta a situação de insegurança que vivemos. O módulo foi metralhado há mais de seis meses e, depois disso, as autoridades se acomodaram e não tomaram mais nenhuma atitude. A população da Ribeira está precisando de um policiamento mais extensivo para tomar conta das famílias que aqui residem”, declarou.

Para Moisés Cafezeiro, 55, agente de viagens residente no bairro, o módulo deveria ser transformado em posto de informação turística. “Nós estamos solicitando a Polícia Militar para não demolir. Nós queremos fazer aqui um posto para atender aos turistas.

É necessário isto pra Ribeira. A comunidade mesmo pode reformar o módulo, que terá computador, internet, telefone. Eu, particularmente, acho que a península está muito bem segura, com policiamento ostensivo, que funciona muito mais do que o módulo. A segurança melhorou oitenta por cento aqui no bairro”, admitiu.


Nelson Rocha
Tribuna da Bahia