(NOTAS DE BELMONTE – ‘BEBEL’ PARA OS MAIS CHEGADOS)

Como ficara ancorada nas proximidades da foz do Jequitinhonha (conforme Umas e Outras… V), a embarcação, aproveitando a maré alta para evitar o enorme assoreamento nas águas do cais, não tardou, como estava previsto, em aportar na cidade.

Antes do desembarque uns embarcadiços, conferindo e pondo em ordem os papéis náuticos, deparam com um de grande valia para os navegantes: o Farol Belmonte. Na verdade uma carta do Serviço de Documentação do Ministério da Marinha a João Bártoli Schubach datada de 23.05.1995 que tentaremos resumi-la. Para início de conversa este Farol teve 2 torres em 3 locais diferentes (todos ditos margem direita do Jequitinhonha). A 1ª inaugurada em 20.05.1885 foi construída pelo mecânico José Gomes Serpa e constava de quatro estacas de ferro encravadas no solo sobre as quais se assentavam colunas de madeira, na posição de coordenadas Lat 15º51’00’’S e Long 38º52’55’’W, recebendo um aparelho luminoso de 6ª ordem de luz branca fixa, exibidas 13,25m acima do solo e alcance de 10 milhas náuticas. A 2ª, do sistema Mitchell decorre da necessidade de melhorá-lo estruturalmente. Inteiramente de ferro fora, juntamente com o aparelho de luz, encomendada à França em 1892. Com altura de 35 metros e dispondo de residências de Faroleiros, a construção dessa nova torre se deu sobre oito parafusos roscados no chão, recebendo aparelho luminoso de 3ª ordem que exibia um lampejo branco a cada 10 segundos e cobertura de 18 milhas. Data da inauguração: 12.10.1901. Como o mar ameaçava derrubar sua estrutura, em 1905 a Diretoria de Faróis decidiu desmontá-la e erigi-la sob o comando do mecânico Alfredo Kurt Schulze a 1500 metros para sudoeste nas coordenadas Lat 15º51’50’’S e Long 38º52’09’’W, sendo reinaugurado em 1º/5/1907.  Sua altura e abrangência permaneceram, mas a exibição de três lampejos de luz branca seguido de um vermelho mudara para melhor. Este, chamado Terceiro Farol Belmonte, com ligeiras transformações, é o que permanece até hoje. Ainda segundo o documento este Farol (torre do sistema Mitchell) é raro, só existindo similares no Brasil nas cidades de Salinopolis(PA), Aracaju(desativado e tombado pelo patrimônio do Estado sergipano), Rio Doce(ES) e em São Tomé no Rio de Janeiro. Na Bahia o Farol Belmonte é o único do gênero.

Acontece que o mar depois disso ao contrário foi recuando e, com o natural crescimento da cidade, o Farol Belmonte foi ficando mais longe do oceano até ficar totalmente no meio urbano. Mesmo assim como se sabe o norte, o Farol continuoue continuadando direitinho aos que transitam nesta área oceânica do Atlântico.  O porreta dessa situação, entretanto é aqui na Capitania dos Ilhéus a gozação empreendia por amigos (o advogado Rogério Midlej é um dos que não perde a oportunidade) a um tripulante.  Não hesitam em sacanear que Belmonte é a única cidade no mundo que possui um farol no meio de uma rua e afastado do mar. À sacanagem, a resposta, tirada da referida missiva, vem igualmente na esportiva e, na tampa: “Ora, cara! Está por fora? O Farol Belmonte é um marco histórico da sinalização náutica brasileira!”.

À tardinha alguns membros da embarcação atravessavam a área do porto de volta ao cais quando meio atrasado um, estático e a olhar para cima, brada “Não é possível!”. Espantou-se ao ver um emblema da Coroa de Portugal em perfeito estado na fachada de um prédio abandonado. Como era marinheiro de primeira viagem, e sem conhecer os meandros da política baiana, outro, calejado de outras ancoragens, procurou explicar-lhe que o imóvel embora fosse de valor histórico considerável,  estava naquele estado porque pertencia à Santa Casa de Misericórdia e esta entidade não tinha condições de recuperá-lo, e que as autoridades municipais e o  IPHAN nunca atentaram para o fato.

Este escrito se faz necessário a Nota1: Schubach era um cidadão conhecido pela dedicação à história de Belmonte e Canavieiras. Um historiador na verdade. Segundo informações morreu residindo em Salvador. A carta-documento foi-me ofertada em 1996 pelo amigo Luizinho Gomes(falecido), então vereador de Bebel. E a Nota2: Em 28.09.1998 a belmontense Altair Duarte Ribeiro da Costa em nota no jornal A Tarde(Coluna dos Municípios)  já denunciava o descaso com a  citada insígnia. Documentos estes bases auxiliares deste Umas e Outras… VI.

Heckel Januário

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