Ir.’. Everaldo

Por José Everaldo Andrade Souza

Prezados seguidores do R2CPRESS, integrantes e interessados  na história da Franco-Maçonaria.

Nessa segunda parte desse estudo, daremos sequência ao relato do monge Ranulf Higden, de Chester, relativo aos filhos de Lameque e as artes por eles fundadas e, concluiremos abordando o antigo filósofo e matemático grego, Pitágoras, fundador de uma academia, que muitos acreditam ser uma das fontes das quais nasceu a Maçonaria…

A HISTÓRIA DE RANULF HIGDEN

Higden continua descrevendo como o rei da Babilônia transferiu o conhecimento contido nos Pilares aos 60 pedreiros, que ele enviou à cidade de Nínive. Dali, ele foi passado para o Egito onde, século mais tarde, foi aprendido por Euclides, o matemático grego que viveu em Alexandria. Atendendo a um pedido do faraó, Euclides ofereceu-se para ensinar aos filhos da nobreza egípcia a ciência da Geometria: “na prática do trabalho de pedreiro e de todos os tipos de trabalhos dignos, que diziam respeito à construção de castelos, palácios, templos, igrejas e todos os tipos de construção”. Ele não somente ensinou a sua ciência aos egípcios, mas também ensinou-os a serem leais ao faraó e aos senhores que serviam. Ele também os instruiu a viverem junto, em harmonia, a serem leais uns aos outros. deviam chamar-se “companheiro e não servo ou criado, e nem outros nomes baixos”, e também deviam “servir verdadeiramente o senhorio a quem servissem”.

Como poderemos ver, essas palavras foram repetidas 1.500 anos depois da época de Euclides, no Manuscrito Régio (1390 d.C.), que evoca a organização dos pedreiros e dos cortadores de pedra na Inglaterra medieval, e no Estatuto de Ratisbona, que realizou o mesmo para os pedreiros alemães, 70 anos mais tarde.

O bom monge Ranulf Higden também registra a construção do Templo de Jerusalém. Ele escreve que muito tempo depois que os Filhos de Israel chegaram à terra hoje conhecida como Israel, o rei Davi ordenou que um novo templo fosse construído na cidade de Jerusalém. Quando Davi morreu, Salomão, filho de Davi, incumbiu-se de completar a obra que seu pai começara.

Salomão procurou ajuda no exterior para terminar o Templo. Entre os países que Salomão pediu ajuda, estava Tiro, cujo governante, rei Hirão, concordou em lhe fornecer madeira da floresta de cedros do Líbano. Hirão também concordou em enviar seus melhores arquitetos, que haviam aprendido o ofício de pedreiro dos herdeiros dos filhos de Lameque, para ajudarem na construção do Templo.

De acordo com alguns relatos, Hirão enviou seu filho Aynon, que era hábil na ciência da Geometria, para Jerusalém, onde Salomão tornou-o mestre de todos os outros construtores. Entretanto, acredita-se , de modo geral, que foi o filho de um especialista em latão, Hiram Abiff, que Hirão enviou junto com os materiais que Salomão pedira. O fato de Abiff significar “filho de” e o rei e o especialista em latão terem o mesmo nome, contribuiu para a confusão sobre quem teria sido enviado para ajudar Salomão.

Independentemente de quem tenha sido, a lenda diz que, devido ao fato de o mestre pedreiro de Tiro falar uma linguagem diferente com seus trabalhadores, ele desenvolveu um sistema de palavras, sinais e toques especiais para ajudá-lo a comunicar-se com os artesãos e os companheiros pedreiros.

Acredita-se que alguns desses sinais e símbolos sejam os mesmos empregados nas cerimônias da Maçonaria Moderna.

UM HOMEM DE MUITOS TALENTOS

Alguns historiadores acreditam que outro homem possa ter uma ligação com as origens da Franco-Maçonaria e seus rituais. Esse homem é o grande filósofo grego Pitágoras, que nasceu em Samos, no século VI a.C. Após aprofundar-se na cultura grega desde pequeno, a partir da qual lhe foi ensinado que a Terra era o centro do Universo com o Sol e os planetas girando à sua volta, ele viajou para Mênfis, no Egito. Ali permaneceu por muitos anos e conheceu os números, os símbolos, a Geometria, a Astronomia e os mistérios da religião egípcia. Em Mênfis, veio a acreditar na reencarnação da alma, sendo ela uma parte da grande alma universal para a qual retornamos quando morremos.

Logo após completar o seu treinamento em Mênfis, o Egito foi invadido pelos persas. Pitágoras, com outros eruditos e sacerdotes, foi levado à Babilônia, onde foi mantido prisioneiro durante 12 anos. Apesar de sua condição, ele tinha liberdade para unir-se a eruditos de diferentes religiões e crenças. Havia homens que ensinavam o monoteísmo ou a crença em um só Deus, e outros que pregavam a crença persa no dualismo, pela qual a realidade consiste em dois tipos básicos de substância: mente e matéria, ou dois tipos básicos de entidade: mental e física. Pitágoras encontrou-se com filósofos hindus e zoroastrianos, que acreditavam que Ormuzd, o Criador e Anjo do Bem que triunfaria sobre o mau Arimã, fosse o cerne de seu ocultismo. É por isso que Pitágoras é considerado um homem de profundo conhecimento de misticismo.

Quando finalmente foi libertado, Pitágoras estabeleceu-se em Delfos, na Grécia, e posteriormente em Crotona, na costa italiana, onde fundou uma escola de filosofia esotérica.

Uma estátua de Hermes, o guardião do conhecimento esotérico de acordo com a filosofia grega, era mantida no portão da escola avisando ao leigo a recuar. Os candidatos eram submetidos a um curto período de três meses de testes, antes de se tornarem noviços. Ao final desse período, o aspirante era submetido a um teste físico e moral.

Um dos testes era sobreviver uma noite, sozinho, em uma caverna totalmente escura, que diziam ser assombrada pelos fantasmas de candidatos reprovados ou de homens que haviam traído os ideais da escola, aparecendo na forma de apavorantes visões. O candidato que passasse nesse teste era então trancado em uma cela vazia durante uma semana, com apenas um pedaço de pão e uma jarra de água para poder sobreviver. Também recebia uma tábua sobre a qual deveria escrever os símbolos pitagóricos. Isso feito, o candidato era então levado a uma grande sala na qual era admoestado, ridicularizado e fustigado com perguntas difíceis, cujas respostas esperavam que ele as tivesse na ponta da língua. O fracasso representava a imediata expulsão da escola; o sucesso significava a promoção a noviço.

Durante três anos, os noviços eram imersos na Filosofia Pitagórica, a qual se baseava nos princípios do respeito, da tolerância e da união das religiões e do povo em geral. As manhãs eram dedicadas às aulas; as tardes, às atividades físicas; e as noites, à oração, às palestras e às discussões.

Aos noviços era ensinado que os pais eram os representantes terrenos das divindades e que deviam ser respeitados com tais. O casamento era considerado uma instituição sagrada e as esposas deviam ser tratadas como iguais, o que era algo raro em tempos clássicos. Um amigo era considerado um  alter ego e devia ser respeitado da mesma forma como os pais o eram. O sofrimento era considerado a bigorna sobre a qual  a alma  humana era forjada e, embora devesse ser suportado bravamente, nunca devia ser provocado deliberadamente.

Terminado o noviciado, o discípulo tinha permissão para entrar na Corte Interna, onde era iniciado na Palavra Sagrada, na ciência pitagórica dos números, que muitos consideram uma ligação direta com a Franco-Maçonaria, com seus sinais e símbolos.

Adquirido o conhecimento da Palavra Sagrada, o discípulo era então imerso na Ciência, que era tanto ensinada à noite quanto na praia. E, quando esse Terceiro Grau de Iniciação estivesse cumprido, aguardava-se o Quarto, quando era esperado que o discípulo demonstrasse habilidades clarividentes.

Brevemente, em nossa terceira parte, discorreremos sobre outras teorias à respeito da origem da Maçonaria.

JOSÉ EVERALDO ANDRADE SOUZA

MESTRE MAÇOM DA LOJA ELIAS OCKÉ N° 1841

FEDERADA AO GRANDE ORIENTE DO BRASIL – RITO BRASILEIRO

ORIENTE DE ILHÉUS – BAHIA

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:

Johnstone, Michael

Os Franco-Maçons – trad Fúlvio Lubisco – São Paulo: Madras, 2010.

Título original: Thee Freemasons.


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