Por José Everaldo Andrade Souza

Ir.’. Everaldo

Caríssimos seguidores do R2CPRESS, amados Irmãos maçons e estimados simpatizantes e estudiosos da história da Franco-Maçonaria.

           Será verdade que o rei Salomão pediu ajuda ao rei de Tiro na construção de seu grande Templo de Jerusalém? Seriam os atuais franco-maçons os herdeiros desses pedreiros bíblicos?

           Talvez enterrada nas areias do deserto haja uma placa cujos sinais possam nos revelar a verdade, assim como é possível que em uma grande biblioteca haja um manuscrito antigo que apresente os fatos. Porém ainda não temos outra alternativa senão aceitar o fato de que as origens da Franco-Maçonaria pré-moderna estejam perdidas num obscuro e distante passado. Elas estão encobertas por um manto de mistério e é totalmente provável que esse manto nunca seja completamente desvelado …

 

  LUGARES SECRETOS

Esses homens precisavam de espaço para armazenar e organizar suas ferramentas, um lugar onde mestres-de-obras pudessem distribuir ordens para ajudantes e aprendizes. Precisavam de abrigo, quando o mau tempo impedia que trabalhassem e um lugar onde, se o trabalho fosse suspenso por qualquer período de tempo, as habilidades de pedreiro pudessem ser ensinadas aos aprendizes.

Conhecidas como hutte, lutza, cassina ou loge, dependendo de sua localização, são conhecidas por nós como “Lojas” e quase todos os canteiros de obras das catedrais, na Europa medieval, tinham uma. Se não estivesse próxima à parede externa da catedral, ela se encontraria a uma pequena distância dela. Construídas em madeira ou pedra, as Lojas vieram a ser consideradas como o lugar no qual as técnicas e os segredos do ofício de pedreiro eram transmitidos. Esse treinamento não podia ser visto ou ouvido por pessoas que não fossem membros da Loja e, assim, a Loja era considerada um lugar protegido e, com o tempo, assumiu um caráter sagrado.

Com tanta construção de catedrais acontecendo em toda a Europa, inúmeras Lojas vieram a existir. Eram geralmente desmanchadas, assim que se completasse o trabalho de construção, mas como a construção poderia levar vários anos, as Lojas permaneciam por muitas gerações. Costumes e regras eram diferentes de uma Loja para outra, e foi somente em 1459 que uma tentativa foi feita para unificar os diversos códigos e estatutos das Lojas dos construtores de catedrais da Europa.

      OS ESTATUTOS DE RATISBONA

           Em 1459, pedreiros de toda a Europa reuniram-se na cidade de Ratisbona (atual Regensburg), na Alemanha Ocidental, sob a presidência de Jost Dotzinger, Mestre de Obras da Catedral de Estrasburgo. O propósito era padronizar os estatutos de suas respectivas Lojas. Os consequentes resultados foram os Estatutos de Ratisbona, que descrevem detalhadamente a organização e a vida cotidiana das Lojas que foram colocadas sob a autoridade das quatro principais Lojas: Estrasburgo, Colônia, Viena e Roma. À de Estrasburgo foi dado o grau de Grande Loja e, na eventualidade de uma disputa, a sua decisão era soberana.

As Lojas dos pedreiros ingleses e escoceses não foram afetadas pelos Estatutos de Ratisbona. Elas tinham seus próprios regulamentos formulados em uma reunião presidida pelo rei Athelstane, ao final do século IX, e contida em uma Carta Patente Real.

Os Estatutos de Ratisbona tiveram finalmente a aprovação real, em 1498, quando o imperador Maximiliano os reconheceu formalmente. Cerca e 70 anos mais tarde, foram revisados em um texto de igual importância em sua abordagem quanto à organização e regulamentos em vigor nas comunidades de construtores. Essa revisão foi incluída nos Estatutos de São Miguel.

Os Estatutos de Ratisbona tinham de ser lidos aos membros das Lojas uma vez por ano e seus membros deveriam prometer respeitar todas as suas regras e artigos.

Os regulamentos que regiam os aprendizes eram rígidos porém justos. Os jovens deviam ser de nascimento legítimo e casados. (Na Idade Média, não era incomum que os adolescentes se casassem). O período de aprendizado era de, no mínimo, seis anos, mas os aprendizes não poderiam ser promovidos a capataz até completarem um ano como diarista. Eles juravam respeitar os termos e os regulamentos da corporação, mas tinham o direito de levar o seu caso para outros membros da corporação, caso considerassem que seu mestre não se comportara bem ou os tivesse tratado injustamente. Se a reclamação não fosse sustentada, poderiam ser solicitados a sair da corporação e a procurar trabalho em outro lugar.

E, tal como os companheiros, os diaristas e os mestres, um aprendiz que infringisse os regulamentos tinha de aceitar o seu castigo e, no caso de recusar, era excluído da corporação, “evitado e desprezados por todos”, até que o castigo fosse cumprido.

              OS ESTATUTOS DE SÃO MIGUEL

           A revisão conhecida como os Estatutos de São Miguel repassou grande parte do mesmo teor e, por meio deles, os dois estatutos nos proporcionam uma visão vital de como era a vida nas Lojas dos pedreiros na Europa Medieval. Não deve ser presumido com isso que houvesse uma única ordem de pedreiros por toda a Europa. Na realidade, os estatutos revelam um sistema altamente hierárquico que proclamava solenemente valores fundamentais – Fraternidade, Honestidade, Manutenção e Preservação dos Segredos da Profissão, permanecendo Fiéis ao Juramento e aos Deveres Profissionais e Morais em todos os níveis do Ofício, ao Treinamento Profissional e, por último mas não menos importante, à Oração.

             OS PEDREIROS DAS ILHAS BRITÂNICAS

           As regras e regulamentos dos pedreiros britânicos foram incorporados ao que é conhecido como Old Charges (Antigo Deveres ou Obrigações), cuja cópia mais antiga é o Manuscrito Régio, um dos inestimáveis documentos que se encontram no Museu Britânico, datando aproximadamente do ano 1390 d.C.

O manuscrito trata do número de desempregados e da necessidade de encontrar trabalho “para que pudessem sobreviver”. Quem escreveu o documento deve ter consultado as obras de Euclides, matemático grego (300 a.C.) aclamado por muitos como sendo o Pai da Geometria. Esse antigo sábio recomendou, “o ofício honesto da boa Maçonaria” semelhante àquele encontrado na terra do Egito. E ainda reza que “muitos anos depois, o ofício chegou à Inglaterra na época do bom rei Athelstane.

        UMA CARTA PATENTE REAL

           Isso ocorreu quando Edwin, filho do rei Athelstane (por volta de 895-899 d.C.), provavelmente presidiu uma reunião de pedreiros que trabalhavam na construção de igrejas que, mais tarde, fariam parte da grande catedral de York. Muitos dizem que foi Athelstane  quem estabeleceu o Rito Maçônico de York, concedendo-lhe uma Carta Patente Real. A partir de então, todos os anos os pedreiros promoviam uma assembléia geral a qual se presume ter sido a catalizadora para a realização de muitos projetos de construção – castelos, fortalezas e abadias – nos quais as habilidades dos pedreiros foram colocadas em grande uso.

           Foi na reunião de York que os Deveres vieram a ser estabelecidos.

           Cada membro ou irmão era instruído: (ilustraremos, apenas, alguns trechos)

                   Ele deve amar a Deus e a Santa Igreja

                   E o Mestre com o qual está

E o documento continua:

                   O terceiro ponto deve ser severo

                   Com o Aprendiz conhecendo bem

                   As orientações de seu Mestre, que ele deve guardar e ocultar

                   Até de seus Companheiros, de bom grado;

                   A ninguém falará dos segredos da câmara,

                   Nem os da Loja, não importa o que ali façam;

                   Não importa o que ouvires ou veres

                   Não o diga a ninguém onde quer que tu fores.

Mais adiante, ele ainda se refere a Euclides:

                   Pela graça de Cristo no Céu,

                   Ele deu início às sete ciências.

O texto continua nomeando e explicando essas sete ciências, antes de detalhar os Deveres. Aqueles relacionados no Manuscrito Cooke foram, provavelmente, copiados de uma versão anterior à do Manuscrito Régio. Os Deveres aqui citados são ainda de outro documento medieval, o Manuscrito Beswicke-Royds, atualizados para a linguagem atual a fim de serem melhor compreendidos.

A leitura pode parecer estranha, mas o espírito da mensagem que ela carrega é o que está no âmago da Maçonaria Moderna.

Em breve retornaremos com a transcrição, na íntegra, do Deveres dos pedreiros medievais.

 

JOSÉ EVERALDO ANDRADE SOUZA

MESTRE MAÇOM DA LOJA ELIAS OCKÉ – N° 1841

FEDERADA AO GRANDE ORIENTE DO BRASIL – RITO BRASILEIRO

ORIENTE DE ILHÉUS – BAHIA

 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:

Johnstone, Michael

Os Franco-Maçons – trad. Fúlvio Lubisco – São Paulo; Madras, 2010.

Título original: The Freemasons


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