Ele está em grande parte dos alimentos ultra-processados. Uma mistura de sal, açúcar e gordura: o hiper-sabor. Artifício das indústrias de alimentos, ele é usado para conservar e também para garantir um gosto irresistível. O hiper-sabor não é um termo científico, mas tem sido cada vez mais usado quando falamos em dependência por certos alimentos.

Com mais de um terço da população mundial acima do peso, os alimentos dotados de hiper-sabor, ou hiper-palatáveis, estimulam áreas cerebrais relacionadas com o padrão de recompensa. Ao serem transformados, os alimentos recebem aditivos que fazem com que seu sabor natural seja ressaltado, gerando sensações de paladar não presentes na natureza. E é aí que mora o problema. Neuro-transmissores cerebrais dopamina e serotonina são liberados quando estes alimentos são ingeridos e podem sim gerar um tipo de dependência que levada ao extremo, pode se relacionar com quadros de compulsão.

Pode parecer um pouco de exagero comparar um alimento à uma droga, como cocaína, mas o que a comunidade científica tem tentado entender é como certos alimentos agem em áreas cerebrais de prazer. Em 2013 pesquisadores da Universidade de Connecticut divulgaram uma pesquisa em que analisavam o que acontecia quando ratos de laboratório recebiam biscoitos recheados. O resultado indicou que alimentos com alto teor de gordura e açúcar poderiam estimular o cérebro da mesma forma que alguns tipos de drogas.

Há diversas linhas de pesquisa em andamento. No entanto, uma conclusão unânime é que, como os alimentos ultra-processados dotados de hiper-sabor são muito calóricos, seu consumo deve ser reduzido.

Priorizar alimentos in natura e minimamente processados é, sem dúvida, o caminho para uma alimentação mais equilibrada. Os in natura são obtidos da natureza e vão diretamente para o prato. Frutas, verduras e legumes se encaixam nessa categoria. Já os minimamente processados são aqueles que passam por alguns processos como embalagem, secagem, pasteurização, resfriamento ou moagem. Nessa categoria se encaixam os grãos. Os processados são aqueles adicionados de sal, açúcar, óleo… como conservas, queijos, frutas em calda e pães – e devem ser consumidos com moderação. Já os ultra-processados incluem os alimentos somente produzidos pelas indústrias como salgadinhos, refrigerantes e biscoitos.

E tem como reduzir?

1. Comece reduzindo os alimentos com componentes de alto índice glicêmico, como farinhas brancas. Com menos insulina, menor é a vontade de voltar a consumi-los.

2. Acrescente fibras. As fibras estão associadas à sensação de saciedade.

3. Identifique qual é o alimento que mais se relaciona com o “padrão viciante”. Não consegue ficar sem chocolate? Salgadinho? Tem algum horário específico? É importante saber o ponto onde agir para traçar estratégias de controle.

4. E, por fim, converse com seu médico e nutricionista. Alguns comportamentos alimentares precisarão de tratamento, enquanto outros mudança de hábitos à longo prazo.