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DINAMITAR OU DINAMIZAR A CEPLAC? EIS A QUESTÃO.

Luiz Ferreira da Silva

Pesquisar aposentado da CEPLAC, Ex-Diretor do CEPEC e da CEPLAC-Amazônia.

 

Luiz Ferreira

Em fins de dezembro de 1962, recém-formado (UFRRJ/Escola Nacional de Agronomia), fui até à sede da CEPLAC, Avenida Presidente Vargas, RJ, saber detalhes da Organização, pois fora escolhido pelo Professor Marcelo Nunes Camargo (im) para se integrar a sua equipe de Pedologia (MAPA) que iria iniciar os estudos de solos na região cacaueira, marco inicial das pesquisas do recém-criado CEPEC, contratado por aquela. Conversei um bom tempo com o Secretário-Geral, Carlos Brandão, que me colocou uma série de exigências e dureza no trabalho, enfatizando por diversas vezes um tal “espírito de corpo”.

Não sei por que, preferi o desafio, mesmo com a passagem nas mãos enviada pela SUDENE que, inclusive, ficaria mais perto de casa, Maceió/AL, minha origem.

Cheguei à região no dia 22 de janeiro de 1963, com o furor da juventude, ávido em aprender e crescer na ciência que escolhera, a do solo, conseguindo tal intento a expensas dos “frutos de ouro”, a quem sou grato eternamente, abençoado por esta ESCOLA-CEPLAC.

E em pouco tempo, a Instituição se agigantou, abriu novos escritórios de extensão, edificou o CEPEC, treinou seu pessoal e passou a prover a região de informações e apoio, repercutindo as suas ações em produção e produtividade para a lavoura, além das melhorias infraestruturais.

Além da disponibilidade e flexibilidade dos recursos, a CEPLAC contava com cabeças pensantes, tanto vindas do Banco do Brasil, Organização que primava pela decência e ética profissional, como os iniciantes na Casa e, sobretudo, a vinda do Dr Paulo Alvim, que estabeleceu a Doutrina da Excelência Profissional, facultando treinamentos, viagens e congressos àqueles com vocação para a Pesquisa.

Dessa forma, a CEPLAC passou a ser um exemplo Institucional, que norteou a implantação da EMBRAPA e até foi “carimbada” em livro pelo IICA/OEA.

Em 1976, veio o PROCACAU, marco da cacauicultura, tornando-a NACIONAL com os Polos Amazônicos. Houve certa polêmica dessa expansão pelas terras de origem do Theobroma Cacau L) e até campanhas contrárias foram feitas. No entanto, havia um argumento forte: “não seria desejável se ter um cultivo centralizado numa determinada região, pois qualquer turbulência tornaria a economia “espasmódica” e, num caso mais grave, comprometeria a atividade em termos de país”. Também existia o interesse da pesquisa, até como salvaguarda da cacauicultura baiana, investindo em materiais genéticos no berço do cacau. Hoje, com o problema da vassoura-de-bruxa, a CEPLAC dispõe de um Banco de Germoplasma em Belém, com um dos mais importantes acervos genéticos de cacau do mundo; pesquisadores e extensionistas treinados e uma cacauicultura que deu certo, notadamente em Rondônia e na Transamazônica.

Numa certa época, Governo Fernando Collor de Mello, dias sombrios pairaram sobre a nossa Organização, avalizados por iludidos cacauicultores, sobretudo residentes em Salvador;  e maus funcionários. A meta burra era enxugar: profissionais de peso foram colocados em disponibilidade, como Frederico Afonso (im) e Jorge Vieira, técnicos do mais alto gabarito; e estabeleceu-se uma malfadada “demissão voluntária”, acenando vantagens pecuniárias.

E quando chegou a vassoura-de-bruxa, a CEPLAC já não estava com aquela pujança anterior, bem como a região se encontrava enfraquecida.

Mas ela tem resistido e novos alentos surgem de vez em quando, como na gestão do Dr Jay Wallace, filho da casa, amadurecido no “carbureto” amazônico, seguindo os princípios deixados pelo Grande Secretário-Geral, José Haroldo Castro Vieira (im).

De vez em quando vem a onda de se entregar todo patrimônio da CEPLAC à EMBRAPA, com argumentos próprios daqueles que pouco raciocinam: o imediatismo e o individualismo.

É preciso ter consciência que o CEPEC não é nenhum Centro de Produto como os dessa Empresa. Ele é muito mais, como tentarei explicar na seguinte hipótese. Suponhamos que um rico Chinês, assessorado por técnicos, deseja plantar uma determinada espécie (chamemos de Shiguiling) no Sudeste da Bahia. Reúne-se com o técnicos do CEPEC, que nunca viram falar da tal planta, mas conhecem a área. O Pedólogo, conhecedor dos solos, com mapas e dados nas mãos, pergunta como são os solos lá em Shangay e, à medida que o Chinês vai descrevendo, o pesquisador vai identificando as características e diz os locais apropriados para o empreendimento. Em seguida, o Climatologista solicita informações concernentes e então também aloca as áreas propícias. O Edafólogo com as informações das exigências nutricionais, também desenha uma fórmula aproximada. O Fitopatologista e o Entomologista captam as informações e definem as estratégias de ação para as doenças e pragas informadas, pois sabem da interação com as nuanças biológicas dos nichos ecológicos. Mesma coisa o Economista e o Sociólogo, com relação à mão-de-obra, mercado, transporte, etc.

Em síntese, tem-se um pacote para começar, numa “Opinião Correta”, com alta capacidade de acertos. Um Centro só de produto (Mandioca ou de Soja ou de Caju, etc) não teria essa capacitação de conjuminar recursos com produtos. Há outras características que ainda tornam a nossa CEPLAC em “sui generis” e, portanto, merecedora de investimentos em todos os sentidos e eternizada.

Também, não se tem dado o merecido mérito aos nossos trabalhos, a exemplo do caso dos clones. Os resultados de hoje tem muito dos antigos pesquisadores, como Gustavo Carletto, Walter Magalhães, Fernando Vello, Mariano, Paulo Machado, Geraldo Carletto, Garcia, Jorge Sória e tantos outros. Mas aparecem “cientistas” alhures que nunca pisaram o duro chão do cacau e deitam falação, denegrindo os colegas que aqui suam e até obtendo adeptos da região.

Estamos em 2014. O sentimento é de uma estúpida campanha que vem desde a Nova República, avalizada posteriormente pelo PT, de destruir todo esse patrimônio já com 56 anos de serviços prestados, haja vista o desprestígio que o MAPA lhe confere, como recentemente aconteceu não liberando vagas para contratação de novos profissionais.

É uma visão totalmente equivocada dos políticos, causando-me espécie algumas pessoas que viveram na CEPLAC e deveriam conhecer a sua magnitude, quando, ao contrário, a denigrem e só se preocupam em  acomodar prepostos em cargos. Talvez não acabem com ela, pois perderiam a fonte de empregos dos incompetentes.

Ignoram que novos desafios se apresentam para o cacau brasileiro, significando cada vez mais a necessidade do fortalecimento da CEPLAC e o apoio governamental para poder, assim como foi feito com o PROCACAU, em 1976, no Governo Ernesto Geisel, implantar o PROCACAU–II, cujas estratégias tomo a liberdade e coragem de expor, resumidamente, a seguir. Um Grupo da própria Instituição se encarregaria de desenvolvê-lo com maior capacitação profissional.

Proponho, assim, a reestruturação da economia cacacueira sul-baiana buscando concentrar a atividade produtora de cacau nos melhores nichos edafo-climáticos, menos susceptíveis à vassoura-de-bruxa, dotada da melhor infraestrutura de serviços, utilizando clones promissores, com a aplicação dos recursos mais modernos da agricultura.

A recuperação de cacauais seria feita em uma meta sugerida de 300 mil hectares, com replantações em sistemas agroflorestais, como produção complementar à atividade do cacau.

Concomitantemente a essa ação se implantaria um programa de diversificação das áreas disponíveis, não utilizadas com o cacau, com atividades, a exemplo da dendeicultura, além da fruticultura, do plantio de café robusta e do estabelecimento de florestas nos tabuleiros costeiros, pari passu a um programa de implantação de cultivos nos próprios imóveis rurais cacaueiros, cobrindo os espaços vazios deixados pela redução do polígono cacaueiro.

Neste contexto, o produtor do sul da Bahia, terá que caminhar para ser um profissional da agricultura, possuir gestão empresarial profissionalizada, adotando modernas tecnologias de cultivo e novas relações de trabalho em suas fazendas, não havendo lugar mais para o “produtor absenteista”.

Na Amazônia, tanto no Pará como em Rondônia, encontra-se a grande oportunidade do Brasil vir a recuperar a posição de grande produtor e exportador de cacau, antes um atributo da Bahia. Com uma imensidão de terras mais baratas, providas de um potencial de solos férteis, profundos e produtivos, com um clima característico, com período seco bem determinado, que viabiliza a convivência com a “vassoura-de-bruxa”, de forma mais econômica e, tendo como produtores, antigos “sem-terra”, que operam suas propriedades com a força de trabalho do conjunto familiar, a Amazônia poderia vir a redesenhar a nova cacauicultura brasileira, com a ampliação das áreas de plantio, bem acima dos 150 mil hectares propostos pelo Procacau, estabelecendo-se uma meta de plantio em torno de 250.000 hectares para os próximos dez anos. Acrescente-se, ademais, que o plantio de novos cacauais na Amazônia, teria a finalidade de fazer, com o apoio do Ministério do Meio Ambiente, a recomposição de áreas alteradas, ou mesmo degradadas, por via de uma cacauicultura de cunho agroflorestal, mais produtiva e mais sustentável.

E, para viabilizar essa retomada da cacauicultura brasileira é fundamental que esse novo PROCACAU seja formatado, definindo as metas e os meios operacionais, a exemplo do que fora o programa implantado em 1976, incluindo-se, desta feita, a Revitalização da CEPLAC, pela sua importância na gestão de tão importante empreendimento agrícola nacional, em cujo contexto a pesquisa seria o epicentro do sistema.

Pelo contrário, VIVENDO UM PRESENTE DE PASSADO SEM VISÃO DE FUTURO, a tendência sintomática é a sua senilidade em mão única; sem retorno, o que seria um crime à agricultura brasileira. E é isso, ao que parece que os maus políticos desejam.

Está na hora da Região se posicionar com ações e acabar com esse determinismo regional – síndrome destrutiva – que matou o ICB, a SULBA, a COOGRAP, dentre outras, quando em outras regiões se luta por suas Instituições.

 

 Maceió, 27 de janeiro de 2014.

Luiz Ferreira da Silva

(luizferreira1937@gmail.com)

        Cel. 82. 9313-1030

4 respostas para “DINAMITAR OU DINAMIZAR A CEPLAC? EIS A QUESTÃO.”

  • JOSÉ REZENDE MENDONÇA says:

    Dr. Luiz

    Como é bom ler um texto como este. Somos aposentados, mas não somos inativos.
    A região e o cacau tem solução, sim. Tudo é uma questão de vontade politica aliada aos próprios cacauicultores, que esqueceram tudo. Desprestigiam a CEPLAC, que um dia foi deles, paga por eles.
    Enquanto isso, deixa-se um patrimônio ser perder no tempo. Seus profissionais competentes que ainda estão lá, não podem transferi seus conhecimentos e seus experimentos a uma nova geração, pois o governo federal, insiste em não contratar ninguém.

    Os alunos da Uesc e outras instituições que lá estagiam, acham que 30 dias de estágio, saem como verdadeiros e absolutos donos do entendimento sobre o cacau e sua região, e ao chegarem no banco escolar defendem suas teses, quase ela na sua maioria, sem muito embasamento e que diluem nas letras que se apagarão com o tempo.

    Pois, aproveitar aonde? Sem verbas, sem mão de obra especializada nova, com sangue novo, para enfrentar, como enfrentamos no passado.

    Os que ainda estão por lá, quase na sua maioria são aposentáveis, com mais de 35 anos de serviços prestados e com mais de 60 anos. Os que estão saindo, se dá pelo fato da compulsória (70 anos), senão nem isso o fariam sair de lá. Pois, o governo com sua politica burra, reduz o salário de quem se aposenta em quase 40%.

    Talvez com esta intenção mesma, para esperar aposentadoria compulsória de seus funcionários, e a morte daqueles coitados que se veem acometidas de várias doenças, tanto pela idade como pelo desilusão diária, de ver tudo aquilo se acabar aos poucos nas mãos dos incompetentes dirigentes, que são indicados politicamente como cabide de emprego.

    Estes pouco interessa a reativação do órgão. Primeiro porque nada sabem com profundidade sobre a empresa, sobre a região e principalmente sobre o cacau e sua diversificação. O último dirigente a passar por lá foi exatamente o Jay Wallace, que era agrônomo, com experiência na Amazônia. Mas, segundo os colegas, se deixou levar pelo amor ao norte do Brasil, e pouco se dedicou a região principal do cacau. Depois, quis segundo comentários enfrentar o governo, sem habilidade para tal. Ou seja, quando entra um técnico, a parte política nojenta não o quer. Quando assume um politico, aí a coisa ainda é pior.

    Acho que seja por aí, em aos poucos matarem a Ceplac por inanição. É uma pena que tudo que foi explanado pelo colega Luiz Ferreira, que é um especialista em dinâmica e soerguimento de uma região, e principalmente cacaueira e canavieira, onde pelos seus longos anos só de CEPLAC, adquiriu experiência para dá esta aula.

    Parabéns Dr. Luiz.
    Que os homens de bem desta região, comecem a pensar na sua revitalização, ou vão morrer com a cuia na mão, como nos idos dos anos 50.

    José Rezende Mendonça – Técnico Agrícola- Aposentado

  • Luiz Ferreira says:

    Você bem sabe, colega Rezende o que a CEPLAC foi de importante para uma geração de jovens sedentos de saber. Uma Escola sem igual. E a convicção de se dar à causa do cacau? Infelizmente, hoje mendiga e é apedrejada como cachorro morto, numa insensatez revoltante. Aqui, já há mais de 20 anos ausente – fisicamente – continuo com o visgo (Ceplac/Cacau/Sul da Bahia), mas com a esperança se esvaindo, haja vista a excrescência política que tomou conta do país.
    Um grande abraço.
    Luiz Ferreira

  • Dr. Luiz Ferreira,

    O Senhor provocou uma nova discussão a respeito da nossa CEPLAC.

    Como bem disse nosso amigo Rezende, somos aposentados mas não somos inativos.

    O problema porque passa a empresa é político, não existe nenhum interesse por parte do governo federal para injetar recursos financeiros, criação de novos projetos e, principalmente, municiar seu defasado quadro de pessoal com contratação de novos funcionários. Os nossos colegas que ainda se encontram na ativa já estão vislumbrando a aposentadoria e o perigo aí está, sem o governo acenar com um concurso, o fim não deve demorar muito.

    O outro problema fica por conta dos cacauicultores que pouco fazem ou nada fazem para reativar a CEPLAC que eles conheceram. Existem algumas exceções.

    Mas a maioria está preocupada mesmo é com a invasão das terras, os problemas financeiros, a convivência com um momento que o cacau não alcança o resultado do passado, enfim, estão voltados para outros projetos.

    Quantos aos ” nossos políticos “, nem os compadres do lulla fizeram alguma coisa para reverter esta situação. Brasília não sabe mais da existência da CEPLAC, é apenas um nome escondido no organograma do MAPA.

    Tive uma longa conversa com Dr. Jorge Vieira aqui em Ilhéus, e o assunto não podia ser outro – CEPLAC, inclusive citamos o nome do Senhor.

    Grande abraço,

    ZÉCARLOS JUNIOR

  • Luiz Ferreira says:

    Meu caro Zé,
    Continuo com o visgo do cacau, cuja impregnação foi acompanhada de momentos proficientes de uma Instituição exemplar. Você também e devemos agradecer aos Céus. Quanto aos políticos, não nos merecem um mínimo de perda de tempo. A Região com um todo é a grande culpada pela omissão, sobretudo pela carência de líderes. Imagine, caro colega, se a CEPLAC fosse edificada em Campinas (SP), Londrina (PR), Blumenau (SC), Uberaba (MG), Santa Maria (RS), Campinam Grande (PB), Caruaru (Pe)?! Com certeza teria uma população inteira agradecida e firme na sua defesa, não permitindo a sua decadência. No Governo Maluff, o IAC (Instituto Agronômico e Campinas) sofreu horrores, mas a Sociedade reagiu e a Instituição permanece proficiente há mais de 120 anos.
    Saudações Ceplaqueanas,
    Luiz Ferreira

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