Por Ricardo Patah, presidente nacional da UGT

O que acompanhamos no Rio, com a vitória ainda parcial do Estado sobre os narcotraficantes, foi a vontade política do Estado brasileiro (integrando forças policiais do Estado e da União) se manifestando através de ações que tiveram o apoio popular porque há vários décadas era parte da agenda cidadã.

O Estado brasileiro, através dos governos federal e estaduais, sempre lavou a mão em relação à contravenção, à distribuição de drogas e ao crime organizado quando localizados em bolsões de miséria.

Ainda é assim em várias partes do Brasil, especialmente nos grandes aglomerados urbanos, e o exemplo do Rio de Janeiro só vingará se conseguirmos, de fato, levar as ações do Estado brasileiro para todo o nosso território, independente da situação econômica das populações que lá vivem.

A defesa intransigente da inclusão social que faz a União Geral dos Trabalhadores significa proteger famílias trabalhadoras e cidadãs que vivem nas favelas, nos cortiços, nas periferias dos grandes centros. Vencer a barreira da concentração de renda significa um Estado protetor para todos e não apenas para os abonados das regiões nobres das cidades.

Combater a insegurança dos grandes centros, que já contamina pequenas cidades do Interior, é obrigação do Estado brasileiro, ou seja, de seus agentes na presidência da República, governadores, prefeitos, ministros, secretários de estado, servidores das forças armadas e das polícias estaduais.

Há décadas, com destaque especial no Rio de Janeiro e depois com repetições nos demais Estados, que a omissão do Estado permitiu aos criminosos se organizar, importar armamento pesado, concentrar grandes quantidades de drogas em seu poder e, principalmente, a agir impunemente. Inclusive dentro das cadeias, onde o Estado deveria exercer com vigor seu poder.

Criaram um Estado dentro do Estado. Com julgamentos sumários, agindo com indiferença pela vida, pela propriedade, pelo respeito aos direitos civis dos moradores dos bolsões de miséria do Brasil. Políticos fizeram acordos espúrios com as gangues criminosas. E a população foi entregue como refém. No Rio um pai de família está na UTI, vítima de uma bala perdida quando saía para providenciar a festa de aniversário de seu filho de um ano.

Por isso, precisamos tornar o exemplo do Rio de Janeiro uma ação cívica irreversível. Chega de insegurança sustentada por polícias e políticas corruptas. Chega de submeter os pobres, seus filhos e filhas aos desmandos do crime organizado, apoiado na jogatina, na contravenção ou no narcotráfico. Mas chega também de pensar que a violência que se alastrou e se institucionalizou no Rio de Janeiro é isolada.

O crime organizado testará, daqui pra frente, todas as brechas para substituir o poderio que perdeu, ainda que temporariamente, nas favelas do Rio. Portanto, o que acontece com o Rio nos interessa. É preciso que o Estado brasileiro se faça realmente presente junto aos bolsões de miséria, trabalhando com afinco para elevar a qualidade de vida destas populações e impedir a proliferação da praga do crime organizado que só cresce com a indiferença dos agentes do Estado.