“Vou cantar-te nos meus versos”
É hora da Copa e dos Jogos Olímpicos. Daqui em diante, é hora de ONGs que apoiam o esporte, tiram crianças das ruas, combatem drogas. Depois das festas, todas serão investigadas por desvio de dinheiro público. E sumirão do mapa.
Copa e Olimpíadas vão para a passarela. Gilberto Gil estará num carro alegórico, representando “o espírito olímpico visitando a Pátria do Esporte num dia de sol, ao raiar do fogo da vitória e homenageando o mamoeiro que dá limão”.
O desenho dos mascotes vai misturar um índio, o sol, aliás parecidíssimo com uma bola Jabulani, o Carnaval, tudo criado por Hans Donner e Oscar Niemeyer. O mascote se chamará “Caíque Boleiro”, ou “Maninho do Olimpo”.
A tocha olímpica será roubada (seguindo o destino da Taça Jules Rimet). O carnavalesco da Beija-Flor, orientado por Joãozinho 30, fará uma réplica.
Cláudia Leitte e Ivete Sangalo cantarão o Hino da Copa e o das Olimpíadas, compostos por Latino. Em baixo do palco, centenas de pessoas exibirão cartazes de cartolina, com a inscrição “Galvão, filma nóis” e “100% Comunidade”.
Vai faltar gás para a tocha olímpica. E aquele pedestal chiquérrimo para a bola da Copa não chega até a semifinal.
Um vira-lata simpaticíssimo vai furar a segurança e confraternizar com os atletas. Será batizado de Copinha e virará mascote, com direito a ficar no Maracanã. Será adotado por um ex-ministro, que dirá que cachorro também é gente.
Uma música de sucesso: “Segura na minha tocha que eu acendo a sua pira”.
Precedência
O logotipo olímpico é genuinamente brasileiro, genuinamente criativo, genuinamente original. Quem o copiou foi o pintor Matisse, só que alguns anos antes.
Recordar é viver
Em seu primeiro mandato, o presidente Lula rejeitou a maior parte dos pedidos do PMDB por posições no Governo, chegando a desautorizar seu principal articulador político, o chefe da Casa Civil José Dirceu. Resultado: para conseguir apoio no Congresso, houve necessidade de outro tipo de compensação politica, o que acabou levando ao escândalo do Mensalão (que um dia, dizem, será julgado). E Severino Cavalcanti derrotou o candidato oficial à Presidência da Câmara.
Agora, o PMDB parece muito inquieto, julgando-se prejudicado na divisão dos cargos do Governo Dilma. E, por coincidência, surgem candidatos independentes à Presidência da Câmara, ameaçando a vitória do candidato oficial.
Acusados e acusadores
A denúncia de superfaturamento na merenda escolar de Pindamonhangaba, SP, que resvala na família do governador Geraldo Alckmin, é relatada no Tribunal de Contas do Estado pelo conselheiro Robson Marinho – ele também investigado, pelo Ministério Público, por acusação de participar do escândalo da Alstom. Conta bancária atribuída a ele está bloqueada na Suíça. A propósito, fala-se em “merenda escolar” e parece coisa pequena. Mas é coisa de R$ 7 milhões.
Bobo ele, não?
Ao deixar o cargo de presidente dos Estados Unidos, Harry S. Truman saiu da Casa Branca e o motorista da limusine presidencial lhe abriu a porta. Truman explicou-lhe que já não era presidente, e portanto não poderia usar o carro oficial. Mandou chamar um táxi.
Deve ser chatíssimo aguentar um babaca desses.
Os filhos de Papai Noel
Como diz a esplêndida canção de Assis Valente, “eu pensei que todo mundo fosse filho de Papai Noel”. Não é bem assim; mas o final de 2010 e o início de 2011 mostraram que Papai Noel tem seus filhos preferenciais. O Sol nasceu para todos, mas numa praia particular do Guarujá, e de graça, só para os escolhidos.
Os bons companheiros
O ministro das Comunicações, Paulo Bernardo, tocou num ponto importantíssimo ao defender que políticos sejam proibidos de ter concessões de rádio e TV. Já são; tanto que o senador José Sarney, por exemplo, não tem concessão alguma – embora seu filho Fernando, que dirige o império econômico da família, as tenha em quantidade. É assim que se opera, e é esta brecha que é preciso tapar: os políticos são donos, mas oficialmente não são. As concessões vão para parentes e aliados. Agora, por exemplo, Rodrigo, filho do senador Romero Jucá (líder do Governo Fernando Henrique, líder do Governo Lula, líder do Governo que o convidar) acaba de conseguir cinco concessões de TV e uma de rádio. É desleal: como disputar eleições com um adversário que é dono da TV e das rádios?
Homem de paz
O empresário Clésio Andrade, do PR mineiro, que assume na vaga do falecido senador Eliseu Resende, garantiu seu apoio a Dilma: embora tenha sido vice do tucano Aécio Neves em seu primeiro mandato, embora seja suplente de um senador do DEM, diz que “não há hipótese” de ficar com Aécio contra Dilma.
Clésio Andrade diz a verdade: é um homem de princípios. Enquanto Dilma for o poder, e Aécio apenas uma perspectiva distante, fica com Dilma. Se Aécio crescer e tiver chances reais de vencer em 2014, aí Clésio se aproximará dele.