AO MESTRE COM CARINHO 

Faz tempo que assisti a esse grandioso filme que retrata a história de um jovem professor que enfrenta alunos indisciplinados. Neste filme refletiu alguns dos problemas e medos dos adolescentes dos anos 60. Sidney Poitier tem um de suas melhores atuações, um engenheiro desempregado que resolve dar aulas em Londres, no bairro operário de East End. A classe, liderada por alguns alunos baderneiros, estão determinados a destruir o professor como fizeram com seu predecessor. Contudo o jovem professor acostumado a hostilidade enfrenta o desafio tratando os alunos como jovens adultos que breve estarão se sustentando por conta própria, quando recebe um convite para voltar a engenharia. O professor deve decidir se pretende continuar, quando subitamente toda classe manifesta-se para que o mesmo continue.
Recentemente deparei-me com  uma crônica do mestre Hélio Pólvora, intitulada “Mestre Pedro Lima”, a qual retrata sobre  então Diretor e Professor do IME CENTRO, “ era apelidado por Gutural, porque era fanhoso, além de calvo. Veio de Salvador para o lugar do professor Heitor Dias, foi vereador e era apegada à gramática histórica. Adotava palavras e expressões em desuso, do tempo de Camões. As expressões preciosas, pedantes, rolavam bem untadas na boca do exigente mestre.
Anticomunista radical. Se escreviam nos muros “Yankees, GO home”, ou “O petróleo é nosso”, ou “Viva Brizola”, ou “Lacerda é entreguista”, o professor Pedro Teixeira Lima comentava na sua voz fanhosa:
-Vocês são melancias? Verdes por fora, vermelhos por dentro.
Logo ele, que tinha cabeça ovalada, em formato de melancia.
O poeta Alberto Hoisel, de veia sátira, escreveu esta quadra:


É professor de renome,/ Não há quem não o conheça./ De lima tem o nome, De melancia a cabeça.
Também patriota, o Pedro Lima desfilava no 7 de Setembro, compenetrado, cheio de ufanismo, destilava amor à pátria por todos os poros. Pela calva lustrosa escorria o suor do sacrifício que Pedro Lima estaria disposto a dar, se necessário, pelo torrão brasileiro. Peito pra fora, barriga pra dentro, um-dois, um-dois.
Nos instantes de entoar o hino, carregava a voz fanhosa no “brado retumbante”, apertava a mão com força, `menção do “braço forte”.
Pedro Lima era pontualíssimo. Chegava sempre na hora, nem um minuto de atraso, e queria que todos fossem assim, rigorosos nos compromissos, cumpridores inabaláveis dos seus deveres. Isso numa terra em que se chega com atraso até para os encontros amorosos. Fazia a chamada, recenseando os ausentes:
– Estão na praia, com certeza.
Depois de arregaçar a calça nas canelas magras, o professor Pedro Lima pedalava até a praia, recolhia os trânsfugas, tocava-os para a sala de aula como vaqueiro atento que pastoreia o seu gado.
Nos embates eleitorais dava o sangue, empenhava a alma.
Numa eleição do Grêmio, certa vez, tentou interditar um  candidato a presidência chamado Carlito Diebe , que distribuía picolés em troca de votos, e admoestou de dedo em riste Carlos Maron, que distribuía quibes com o mesmo propósito nefando.
Os alunos eram obrigados a declamar os sonetos que admirava, com aquela voz fanhosa.
– Vai-se a primeira pomba despertada” ….
Saudades do Mestre Pedro Lima!

Luiz Castro
Bacharel Administração de Empresa
Fespi 1991,