Decorridos 512 anos do nosso descobrimento, segue abaixo o panorama de saneamento básico – leia-se civilização – no nosso país.

Não precisamos ir muito longe, aqui mesmo, no nosso quintal, a situação é alarmante e certamente a grande maioria dos habitantes não se dá conta.

A lista é imensa e seria enfadonho relacionar todos os problemas enfrentados pela nossa cidade, de sorte que comentaremos apenas aqueles considerados mais cruciais.

A cidade está repleta de ligações clandestinas de esgotos nas redes de drenagem e o destino óbvio disso é o nosso mar.

O canal da Avenida Lindolfo Collor no Malhado, transformou-se, na verdade, em num grande emissário de esgotos á céu aberto, recebendo as contribuições  de todos os morros adjacentes e ao longo do seu trajeto, as ligações clandestinas oriundas do bairro do Malhado. Como se isso não bastasse, um erro primário na época da construção no âmbito do Projeto Cura, fez com que a cota  de desemboque desse canal ficasse abaixo da linha de preamar. Resultado: nas maré mais altas, toda a vazão do canal – leia-se esgoto – fica represada. A Concessionária andou realizando algumas obras no local, até que se prove o contrário, totalmente inócuas. Enquanto isso, aquele pedaço de praia, outrora bucólico e cheio de jangadas, tornou-se reduto de inúmeras esquadrilhas de urubus.

Na zona sul, região de expansão residencial nobre da cidade, a situação também é muito grave. Há mais ou menos uma década, talvez mais, foi elaborado projeto do SES para o pontal, o qual ficou no papel e hoje, em função da espetacular expansão local terá de ser totalmente reformulado. O resultado disso é que todo o esgotamentosanitário do Pontal e bairros da zona sul ou vão para as redes de drenagem ou para fossa sépticas, em ambas as situações, seja pelo destino natural do sistema de drenagem, seja pela superficialidade do lençol freático, o destino final é o oceano.

É lamentável reconhecer, do pontal até a praia dos milionários, as praias devem estar impróprias para banho quando consideramos a qualidade da água, justificando-se a pergunta:  Alguma vez, os órgão responsáveis efetuaram análises e divulgaram para a população os índices de contaminação por coliformes fecais?

A Baía do Pontal, verdadeiro cartão postal da nossa cidade, não passa na verdade, de uma imensa cloaca, receptora  de esgotos e água servidas de todo o bairro.

Como se tudo isso não bastasse, o rio Cachoeira, desaguando na mesma Baía, recebe esgotos in natura  oriundos da cidade de Itabuna. Ainda que a vazão do mesmo rio e a oxigenação proporcionada pelo curso encachoeirado contribuam para a minimização dos efeitos, eles existem e se fazem sentir no nosso litoral.

Não é só saneamento básico cuja obrigação é estadual, a nossa cidade está carente de tudo: O lixo toma conta das ruas, a iluminação pública é relegada a um plano secundário, não se realizam obras de melhorias, por menores e mais singelas que sejam. A impressão que se tem é que o Município nunca atingiu  ponto tão baixo de abandono na sua história.

A despeito dos problemas de caixa enfrentados – costumo dizer que o Município de Ilhéus possui um século de erros estratificados – tenho absoluta certeza de que poderíamos estar vivendo um momento bem diferente, desde que existisse vontade e coragem de efetivamente governar.

Abraços

Franklin Albagli

Situação do Saneamento no Brasil

 

Números mais importantes:

  • Apenas 44,5% da população brasileira está conectada a uma rede de esgotos’
  • Do esgoto coletado, somente cerca de 37,9% é tratado

Fonte: SNIS 2009 (Ministério das Cidades)

  • Cada R$ 1 investido em saneamento gera economia de R$ 4 na área de saúde

Fonte: Organização Mundial da Saúde, 2004.

  • O Brasil é o 9º colocado no ranking mundial “da vergonha” com 13 milhões de habitantes sem acesso a banheiro.

Fonte: Estudo Progress on Sanitation and Drinking Water – OMS/UNICEF, 2010.

  • Entre 2003 e 2008 houve um avanço de 4,5% no atendimento de esgoto e de 14,1% no tratamento de esgoto das 81 maiores cidades do País, com mais de 300 mil habitantes.
  • 72 milhões é o número de habitantes dessas cidades.
  • 129 litros de água por dia é o consumo médio desta população.
  • 150 litros de água por dia é o consumo médio do brasileiro.
  • 80% em média da água consumida se transforma em esgoto.
  • 9,3 bilhões de litros de esgoto é o total gerado todos os dias por essa população
  • Essas cidades despejam, diariamente, 5,9 bilhões de litros de esgoto sem tratamento algum, contaminando solos, rios, mananciais e praias do País, com impactos diretos à saúde da população.
  • Em média, apenas 36% do esgoto gerado nessas cidades recebem algum tipo de tratamento.

Fonte: Ranking Trata Brasil com avaliação dos serviços de saneamento nas 81 maiores cidades do País, 2010.

  • Em 2009 a participação dos domicílios atendidos pelo serviço de rede coletora ou por fossa séptica à rede coletora foi de 59,1%;
  • As regiões Norte e Nordeste tiveram as menores parcelas de domicílios atendidos por este serviço, com 13,5% e 33,8%, respectivamente, do total de domicílios da região, equivalentes a, respectivamente, 555 mil e 5,2 milhões de domicílios;

Fonte: Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios – Síntese dos Indicadores de 2009 – IBGE, 2010

  • Investe-se muito pouco em saneamento, o que torna a universalização muito distante. Deveriam ser investidos 0,63% do PIB, mas efetivamente são investidos apenas 0,22%.
  • Menos de 30% das obras do PAC Saneamento foram concluídas até 2010 (Ministério das Cidades).
  • Estudo do Trata Brasil “De Olho no PAC”, que acompanha a execução de 101 grandes de saneamento em municípios acima de 500 mil habitantes, mostra que somente 4% de obras finalizadas. Cerca de 60% destas obras estão paralisadas, atrasadas ou ainda não iniciadas.

Fonte: Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios – Síntese dos Indicadores de 2009 – IBGE, 2010

Impactos à sociedade:

  • Por ano, 217 mil trabalhadores precisam se afastar de suas atividades devido a problemas gastrointestinais ligados a falta de saneamento. A cada afastamento perdem-se 17 horas de trabalho.
  • A probabilidade de uma pessoa com acesso a rede de esgoto faltar as suas atividades normais por diarréia é 19,2% menor que uma pessoa que não tem acesso à rede.
  • Considerando o valor médio da hora de trabalho no País de R$ 5,70 e apenas os afastamentos provocados apenas pela falta de saneamento básico, os custos chegam a R$ 238 milhões por ano em horas-pagas e não trabalhadas.
  • De acordo com o DATASUS, em 2009, dos 462 mil pacientes internados por infecções gastrointestinais, 2.101 faleceram no hospital.
  • Cada internação custa, em média R$ 350,00. Com o acesso universal ao saneamento, haveria uma redução de 25% no número de internações e de 65% na mortalidade, ou seja, 1.277 vidas seriam salvas.

Fonte: Pesquisa Benefícios Econômicos da Expansão do Saneamento Brasileiro – Trata Brasil/FGV, 2010.

  • A diferença de aproveitamento escolar entre crianças que têm e não têm acesso ao saneamento básico é de 18%;
  • 11% das faltas do trabalhador estão relacionadas a problemas causados por esse mesmo problema;
  • Apesar do relevante aumento de arrecadação e renda resultantes de maior fluxo de pessoas em 20 destinos turísticos indicados pela Embratur, essas localidades acusam ainda um subinvestimento das necessidades básicas;
  • Cada 1 milhão investido em obas de esgoto sanitário gera 30 empregos diretos e 20 indiretos, além dos permanentes quando o sistema entra em operação. Com o investimento de R$ 11 bilhões por ano reivindicado pelo setor de saneamento, calcula-se que sejam gerados 550 mil novos empregos no mesmo período;
  • Se os investimentos em saneamento continuarem no mesmo ritmo, apenas em 2122 todos os brasileiros teriam acesso a esse serviço básico.
  • As 81 maiores cidades do país, com mais de 300 mil habitantes, despejam, diariamente, 5,9 bilhões de litros de esgoto sem tratamento algum, contaminando solos, rios, mananciais e praias do país, com impactos diretos a saúde da população.

Fonte: Pesquisa Saneamento, Educação, Trabalho e Turismo – Trata Brasil/FGV, 2008.

Ganhos ao cidadão e ao país:

  • Ao ter acesso à rede de esgoto, um trabalhador aumenta a sua produtividade em 13,3%, permitindo assim o crescimento de sua renda na mesma proporção.
  • Com a universalização do acesso a rede de esgoto, a estimativa é que a massa de salários, que hoje gira em torno de R$ 1,1 trilhão, se eleve em 3,8%, provocando um aumento na renda de R$ 41,5 bilhões por ano.
  • A universalização do acesso a rede de esgoto pode ainda proporcionar uma valorização média de até 18% no valor dos imóveis.
  • A valorização dos imóveis pode alcançar R$ 74 bilhões, valor 49% maior que o custo das obras de saneamento avaliado em R$ 49,8 bilhões (considerando apenas novas ligações).
  • Em longo prazo, o acesso à rede de esgoto implicaria um aumento na arrecadação do Imposto Predial e Territorial Urbano (IPTU) na mesma proporção do valor médio dos imóveis, um ganho estimado de R$ 385 milhões ao ano. Já no Imposto Sobre Transferência de Bens de Imóveis (ITBI) o crescimento esperado é superior a R$ 80 milhões por ano.

Fonte: Pesquisa Benefícios Econômicos da Expansão do Saneamento Brasileiro – Trata Brasil/FGV, 2010.

O Brasileiro conhece o tema do Saneamento?

  • Pesquisa feita com 1008 responsáveis por domicílios nos municípios com mais de 300 mil habitantes (79 cidades), em 2008, revelou que 31% da população desconhecem o que é Saneamento e somente 3% relacionam à saúde;
  • Pouco mais de ¼ dos entrevistados desconhece o destino no esgoto da sua cidade, percentual similar aos que acreditam que os resíduos seguem para uma estação de tratamento. Para 1/3 dos entrevistados o esgoto segue direto para os rios;
  • 84% consideram sua qualidade de vida melhor ou muito melhor em função da maneiro como seu esgoto é coletado;
  • A maioria dos entrevistados, 68%, entende que a Administração Municipal é a responsável pelos serviços de Saneamento Básico;
  • Quase metade dos entrevistados (41%) não pagaria para ter seu domicílio ligado à rede coletora de esgotos. O julgamento em relação à qualidade dos serviços justifica este posicionamento: ¼ estão insatisfeitos ou muito insatisfeitos com os serviços de coleta e de tratamento de esgoto;
  • Seja na cidade ou nas escolas, a maioria dos entrevistados afirma que não houve campanha eleitoral para divulgar a importância da coleta e do tratamento do esgoto. Entre os que não estão ligados à rede 85% e 70% não presenciaram as campanhas na cidade ou nas escolas, respectivamente, deflagrando a demanda por informação e esclarecimento nestes âmbitos.

Fonte: Percepções dos Brasileiros sobre Saneamento Básico – Trata Brasil/Ibope , 2009.