Heckel Januário em: SISTEMÃO POLÍTICO
Matérias, a exemplo da publicada recentemente pela Veja apontando Lula o mentor do Mensalão, me deixam em dúvidas se prestam serviços ou desserviços à democracia.
Não estou me colocando em absoluto como testemunha de defesa do ex-presidente, mesmo porque longe, muito longe das entranhas governamentais, não poderia ser convocado para jurar dizer acima de tudo a verdade, mas se a Procuradoria Geral da República, a relatoria e revisória do STF (Supremo Tribunal Federal), órgão máximo da Justiça, o eximem de culpa, idem os ministros no julgamento, soa destoante colocá-lo no banco dos réus neste momento.
O pior é a tendência de encadear similares, pois não tome como surpresa o prezado leitor, se outra revista, ou a própria, vier a reportar o famoso caso de compra de votos de parlamentares, resultante da emenda da Constituição e consequente reeleição de FHC. Porém, como a investigação desse esquema de corrupção fora sepultada com uma CPI, seria necessário desenterrá-la, bem como, para testes de DNA, políticos da época já falecidos e supostamente tidos como integrantes no comando do escândalo. Nesse quadro de possibilidades o pedido de urgência na apreciação de outro famosíssimo e conhecido como “Mensalão Mineiro”, ou “Mensalão Tucano” ou ainda “Valerioduto Tucano” possivelmente já esteja na lista para vir à tona.
Entendeu? Não que a balança esteja sempre em equilíbrio, mas quando o andar superior da Justiça é posta em xeque, como sugere o reportado, a situação se torna preocupante. E tal estado se prende numa razão: a frouxidão do nosso –embora tenha se procurado melhorar– “sistemão político”.
Os nomes podem variar como peculato, caixa dois, lavagem de dinheiro, entre outros, mas essa nomenclatura pode ser considera irrelevante no contexto, haja vista o Partido, sem exceção, uma vez no poder, não ter hesitado em praticar o crime da “grana pública” e/ou da privada ilegal. E acrescento: a decisão final deste Mensalão se daria sem estardalhaço se os anteriores a ele, igual sorte tivessem, como fica claro que a negativa carga enfática sobre o PT, é motivada por ter sido esta agremiação a que mais arrotou “pureza” dentre as demais. Ah, ressalvo as que se afastaram do jogo e… lógico, nunca exerceram o poder.
Sim, e começa pelas campanhas eleitorais acontecendo aqui na Capitania dos Ilhéus e em todo território brasileiro em que a sigla partidária com letra miúda e quase invisível virou tal e qual as propostas administrativas leváveis a efeito, mais um detalhe no canto dos “santinhos”. E as coligações? É até difícil de acreditar, por exemplo, que numa cidade dois partidos se beijem, jurem amor eterno, e noutra as mesmas entidades se odeiem a ponto de trocarem promessas de porradas! E tem lugar por incrível que pareça, os parceiros, apesar da incompatibilidade de gênios às claras, gostos diferentes, interesses diferentes, esquecem tudo isso, e vivem o maior “love”.
Tá vendo aí? O protagonista virou figurante (e desfigurado), sinal que os poderes hierárquicos da direção do drama caíram em desarmonia. Está na hora então, para harmonizá-los, que cada um, inclusive o assim considerado, faça sua parte cooperando em obedecer democraticamente os seus limites, e que, uma reforma radical no “sistemão político”, com regras de direitos, de deveres e punibilidades claras, sem deixar, portanto nada correr frouxo, seja executada o mais breve possível. É o apelo de um votante, para não ficar mais uma vez com a cara de tacho diante de repetidos dramalhões.
Heckel Januário