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Heckel Januário em: UM PAPO DE DOIS CARAS MAGNÍFICOS

Ao artigo do historiador Cláudio Zumaeta “É pela Cultura que a Educação começa” de janeiro(19/20) no Diário de Ilhéus,  não pude deixar de meter o bedelho e logo encaixar um sulbaiano, ou melhor, um cara lá da terrinha natal, puxando como se diz, ainda mais a brasa para a sardinha.

Fundado em trechos do livro “Canto de Amor e Ódio a Itabuna” de Telmo Padilha, o texto é um educativo e instigante diálogo a respeito da Educação e da Cultura entre, como muito bem qualifica o articulista, dois gigantes da literatura: o próprio autor e Adonias Filho.

Não se divergem em nenhum momento. Reconhecem a grande importância da Educação, em especial da universitária, mas são unânimes na conclusão que a Cultura a suplante, aliás, é esta supremacia da Cultura sobre a Educação a síntese da conversa.

Embora o raciocínio com clareza e precisão dos dois escritores concorde que a Educação é uma auxiliadora da Cultura, e deste modo estariam sempre interligadas, têm em conta também que às vezes esta independe da outra, citando num dos exemplos como reforço, que Shakespeare e Dostoievski não precisaram de universidade para escrever “Otelo” e “Crime e Castigo”, e sendo assim, que a Literatura, como uma criadora por excelência, sobrepõe-se à escolaridade, “transcendendo-a” e “superando-a”. Mas por outro lado são cônscios que “…radicais defensores da escolaridade oficial” não admitem de forma alguma “…O conhecimento geral, humanístico, conquistado ‘solitariamente’…” de quem não quis ou não pôde cursar uma universidade. Para esses imoderados a capacitação originada do autodidatismo e do dom não existe, a prova só pode ser única: o diploma universitário. Incongruência contraposta com a ilustração que “Em literatura e arte seriam autodidatas Luis de Camões, Dante, Dostoievski, Tolstoi, Gorki, Maiakovsky, Lorca, Picasso, Salvador Dali…”, bem como o nosso Machado de Assis que “nem precisou nem mesmo frequentar o curso primário”, e mais Van Gogh, e Pasteur na ciência.

É nessa brecha, por nunca ter frequentado uma universidade, mas se destacado como paisagista, maquetista, arquiteto, escultor, moveleiro e designer que entra José Zanine Caldas(1919-2001), um baiano de Belmonte. Por trabalhar a madeira com maestria ficou conhecido como o “Mago da Madeira”. Suas casas da Joatinga no Rio de Janeiro, e em outros estados, na China, em Portugal e outros países da Europa, na África, e na América Latina são famosas, seus móveis idem, idem. Seus trabalhos foram expostos no Louvre parisiense e no MAM carioca entre outros tantos museus. Foi criador de um projeto de residências populares conhecido como Centro de Desenvolvimento das Aplicações das Madeiras do Brasil. Convidado por Darcy Ribeiro fez parte do corpo docente da Universidade de Brasília. Depois de intensivamente combatido, a contragosto da burocracia brasileira recebeu das mãos de Lucio Costa o título de arquiteto honoris causa dado pelo Instituto de Arquitetos do Brasil. Poucos sabem, mas as maquetes da usina siderúrgica de Volta Redonda e do estádio do Maracanã foram de sua autoria. Eis aí de uma ligeira pesquisa sem rigidez de datas, um resumido currículo de um homem que não precisou de “canudo” para justificar o saber.

Sim, a razão da lembrança e da puxadinha do belmontense vem ou combina com “A Competência Esquecida”, uma matéria(que já tive a oportunidade de mencionar em outros escritos) de Zanine publicada no  Jornal do Brasil em 25.10.1987, que o deputado Geraldo Simões (na época, colegas ceplaquenos) me ofertara nesta data. Nela o arquiteto critica veemente a proposta de se inserir na Constituição de 1988, dita Cidadã, uma cláusula que limitaria o exercício da arquitetura a arquitetos diplomados em detrimento do conhecimento.

Findo aqui com o pontapé inicial dado pelo historiador Zumaeta esta tentativa de interpretar um papo de dois caras magníficos sobre um tema fascinante. Procurei ir ao final dos noventa minutos, porém o mercado livreiro daqui da Capitania dos Ilhéus me impediu. Restou a atenciosa dica de Adriano Lemos, da Editus/UESC, que me pôs na fila para ver o jogo inteirinho.

 

Heckel Januário

1 resposta para “Heckel Januário em: UM PAPO DE DOIS CARAS MAGNÍFICOS”

  • R. A. Tedesco says:

    Heckel,

    Concordo perfeitamente. Conheço pessoas extremamente competentes e por isso vencedoras e sem ter nenhum “canudo”. O contrário é até mais comum.

    Abraços,

    Tedesco.

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