Maria Regina Canhos Vicentin em: A importância de viver cada dia
Ficamos comovidos e chocados com a tragédia ocorrida na boate de Santa Maria (RS) e que vitimou mais de duzentos e trinta jovens. Em sua maioria, universitários, até então com expectativa de futuro promissor. Desolados, os pais, irmãos e parentes, tentam compreender como uma coisa dessas pode acontecer; e mais, como Deus pode permitir que tal ocorresse. São questionamentos naturais, e que sempre acontecem quando somos surpreendidos por momentos trágicos. A dor só poderá ser superada com o tempo, e nada mais há que se fazer senão lamentar a sucessão de equívocos que poderiam ter sido evitados caso nossa humanidade não nos autorizasse a errar e cometer deslizes, por vezes, fatais e irreversíveis. Seguir-se-ão dias difíceis, em que procuraremos culpados para a tragédia, como se isso pudesse confortar o coração da perda de nossos entes queridos. Aos de fora, uma lição a ser aprendida e meditada: precisamos viver cada dia!
Normalmente, temos nossos filhos diariamente ao alcance de nossas mãos e olhos, mas interagimos pouco com eles. Quase não perguntamos sobre suas vidas e deixamos que fiquem horas e horas conectados à internet, trancados em seus quartos, na rua com seus amigos… Temos os filhos e, ao mesmo tempo, não temos. Não desfrutamos da sua companhia. Não acompanhamos o seu dia a dia. Quando um episódio lamentável nos surpreende, como uma doença, um acidente ou a morte, então é que verificamos ter deixado de viver muita coisa com eles. Usualmente, dada à idade, esperamos morrer antes, adoecer primeiro, mas nem sempre é assim. Por isso temos de aproveitar cada segundo ao lado de nossos filhos, desfrutar ao máximo da companhia deles, viver cada dia consciente de que pode ser o último, então, precisa ser bem vivido.
Uma forma de fazer isso é criar momentos em que possamos estar juntos, pais e filhos, compartilhando situações prazerosas, como uma viagem; passeios em parques, museus, zoológicos; um cineminha; churrasco entre amigos e familiares; visita à casa dos avós; passeio no shopping; jogos em casa… Existem várias opções para aqueles que desejam estar juntos. Isso, no entanto, nem sempre é fácil. Precisamos sair do nosso comodismo e, muitas vezes, desligar a TV (avanço tecnológico basicamente responsável pela diminuição do diálogo familiar).
Outras coisas importantes são a frequência de beijos, abraços, olhares, escutas atenciosas, favores e gentilezas, pedidos de perdão… Tudo isso aproxima e enriquece uma relação, principalmente entre pais e filhos. Nós nos abastecemos de boas lembranças e recordações que nos acompanham por toda uma vida, quiçá para a eternidade. Precisamos ser pródigos ao elogiar nossas crianças e jovens; confiar em suas potencialidades, seus talentos. Demonstrar o nosso amor enquanto estamos próximos, unidos, compartilhando o mesmo teto e dividindo momentos. Eu sei que nada disso pode afastar a dor da perda, mas minimiza seus efeitos ao nos dar a certeza de que aproveitamos ao máximo o tempo que tivemos junto deles. Pensemos nisso a fim de adotar novas atitudes, e façamos uma prece pedindo a Deus que conforte as famílias de Santa Maria.
Maria Regina Canhos Vicentin (e.mail: contato@mariaregina.com.br) é escritora.