por Eduardo Pachalski

Eduardo Pachalski

“…e nefastos são os desígnios dos líderes do povo,

…por seus desatinos, Pois são incapazes de controlar sua arrogância e de refrear seus desejos.

Enriquecem praticando atos injustos, não poupando bens sagrados nem mesmo bens públicos,

Roubam com avidez, cada qual por seu lado, Não respeitam os sagrados fundamentos da Justiça,

… Esta chaga incontrolável já atinge toda a pólis

…ceifa a juventude de muitos,

…muitos pobres partes para terras estrangeiras,

…a desgraça alcança a todos em sua própria casa…”

Apesar de parecerem escritos por ti, ou por qualquer contemporâneo brasileiro, os versos acima foram escritos a mais de dois mil e quinhentos anos atrás, por Sólon de Atenas, aristocrata que viveu na política ateniense de 640 a 558 a.C.. Serve para ilustrar como a única coisa que mudou na ética e política humana ocidental foram os mecanismos de comunicação e de manipulação de massas.

No mesmo ano que paramos a economia e depredamos o país com protestos violentos sob brandos de “Fora Copa” prestigiamos com recordes de audiência o sorteio das chaves dos países participantes da Copa do Mundo de Futebol 2014 no Brasil.

Para quem liga inevitavelmente os dois eventos, o sentimento de “boiada” causa um enorme desconforto, mas leva a muito poucos refletir sobre os verdadeiros motivos do movimento, ou sobre “quem e porque tocaram a boiada”, até porque, seis meses se passaram, como se a importância daquela manipulação de massas perdesse a relevância devido ao intervalo temporal transcorrido. Os problemas que infestaram as redes sociais na ocasião, foram corrigidos ou agravados? Estas questões nunca foi relevantes para os organizadores e estopins do movimento. Relevante foi implantar e registrar uma imagem, estereótipo ou ideia de anarquia e gerar descontrole social e danos sérios à gestão pública. Nada mais profundo ou elaborado foi necessário porque afinal, este ano que chegou teremos a Copa do Mundo de Futebol no Brasil!

A chegada da Copa implica em dedicar nossa atenção livre, além das preocupações cotidianas de trabalho, escola, família, amigos e lazer buscando informações sobre as chaves, jogos, escalações, em fim, prestigiar cuidadosamente cada detalhe e personagem do evento tão rechaçado no fim do primeiro semestre de 2013.

_ Espere! E quanto as eleições? Teremos tempo para nos preocupar com as escalações dos partidos? Saber sobre a história pública ou feitos reais de cada político que integra cada partido? Sabemos se Leonel Messi é destro ou canhoto, podemos citar no mínimo 10 seleções que participarão do mundial, mas não sabemos citar o que os candidatos à presidência defendem, nem sequer citar 10 partidos políticos envolvidos na eleição. Teremos tempo de fazer bolões e discutir nas mesas de bar sobre quem será o grande craque na administração pública que assumirá o governo do estado ou a presidência da república? Não. Ficaremos com os estereótipos simples, fantasiados, prontos, entregues por movimentos interessados, tão rápidos e rasos quanto ao que tivemos que presenciar seis meses atrás. Afinal este ano a prioridade é Futebol. Assim como em todos os outros.

Se criticar é sempre fácil, aqui vai uma difícil: devemos criar um projeto lei que desvincule o ano da Copa do Mundo ao ano da Eleição, seja em quaisquer instâncias. Basta que o foco do projeto lei sugira um mandato especial para governador e presidente de apenas três anos, regularizando o período de quatro anos nos anos subsequentes, desvinculando permanentemente os eventos, permitindo um real e verdadeiro debate sobre o caráter e histórico dos personagens da administração pública.

Vamos devolver aos nossos filhos o direito de pensar?

Abraço,
Eduardo Pachalski