Faltam 45 dias para o início da Copa do Mundo de Futebol no Brasil.
A maioria de nós nunca viu uma Copa acontecer aqui, pois a anterior foi na metade do século passado.
Imaginava que, a menos de dois meses do evento, as ruas já estariam enfeitadas de verde e amarelo, bandeiras nas janelas e muitas pessoas vestidas com nossas cores em todo lugar. Não é isso que estou vendo.
A impressão que tenho é a de que o tal “padrão FIFA” do espetáculo de futebol está sendo atendido prazerosamente pelas nossas autoridades federais – ainda que aos trancos e barrancos – e rios de dinheiro (não esqueça: do nosso dinheiro) estão sendo utilizados para bancar uma festa bilionária sem nossa total aprovação. É verdade. Eu, pelo menos, apesar de gostar de futebol, não estou nada satisfeito com esse investimento monstruoso, enquanto minha cidade continua entregue às baratas, meu Estado idem e meu País pior, sem hospitais públicos e rodovias dignas, além da carência de escolas e ensino de qualidade. Professores e policiais, indispensáveis a qualquer sociedade organizada, são profissões desvalorizadas e mal pagas no Brasil.
Bilhões aplicados em um evento de curtíssima duração, num país detentor de graves problemas sociais – por mais que traga algum retorno financeiro (tenho minhas dúvidas) – é um disparate, uma afronta aos cidadãos.
Para mim, essa será uma Copa diferente. Confesso que estou desanimado e mais preocupado com as consequências das manifestações e conflitos propensos a ocorrer, do que com o próprio desempenho da nossa seleção canarinho.
Hoje, diferentemente de 1950, a informação chega a todos através da internet e redes sociais num piscar de olhos, com rapidez e eficiência. O brasileiro de hoje, definitivamente, não é o mesmo brasileiro do século passado, em se tratando de conhecimento das questões da atualidade. A consciência e o senso crítico estão mais aguçados, independente do nível financeiro, acadêmico ou cultural; daí eu imaginar que não sou o único descontente e preocupado com essa Copa.
Nos vejo, enfim, como cobaias de um mais um experimento. Que o resultado da parafernália, positivo ou negativo, traga alguma boa lição aos nossos governantes.

Nilson Pessoa