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Heckel Januário em: BELMONTE, 123 ANOS

Entre 1708 e 1712 nascia na boca do rio Jequitinhonha (‘Paticha’ para os nativos Botocudos e ‘Grande’ para os colonizadores lusitanos) o Arraial de São Pedro do Rio Grande.

Com o privilégio de erguer-se numa imensa planície o povoado se desenvolvia e em 1765 é elevado à vila com a denominação de Vila de Nossa Senhora do Carmo de Belo Monte. Outras lhe foram dada como Vila do Rio Grande de Belmonte, Vila de São Pedro de Belmonte e Vila do Jequitinhonha de Belmonte. Em 1771 passa à dignidade de Freguesia, unidade eclesiástica que à época era de praxe exercer também a administração civil, para, em 23 de maio de 1891, dois anos após o advento da República Brasileira, elevar-se a categoria de cidade como simples Belmonte. Nomeação esta motivadora de controvérsias porque, embora colinas recortadas por vales a circundassem (e a circundem), o nome contrastava com a topografia incrivelmente plana do local, como acima ventilamos. A versão que o ouvidor da Capitania de Porto Seguro, Thomé Couceiro de Abreu nomeara assim o pedaço da foz do Paticha para homenagear Cabral, (‘Belmonte’ é tida como a localidade portuguesa onde o historiado descobridor nascera) nos parece a mais plausível.

De entrecruzadas ruas retilíneas semelhantes a um tabuleiro de xadrez, possivelmente tal traçado tenha sido o combustível encontrado pelo belmontense de várias gerações para impulsionar sempre a cidade pra frente.

Para o bancário aposentado e historiador Tedesco (de Canavieiras), a enxadrezada e extraordinária visão se deve ao traçamento planejado por um engenheiro chamado Inocêncio Veloso Pederneira em tempos idos. Em seu livro “Belmonte e a sua História”, o escritor Afonso Monteiro à página 193 registra esta personagem como dono de uma antiga sesmaria às margens do Jequitinhonha a 10 quilômetros da cidade. Aliás, com a fama dos diamantes e outras gemas encobertas em seu leito e serras adjacentes, e com a reputação de suas beiradas fertilíssimas (nelas foram implantadas a lavoura do cacau, cujos frutos viriam a ser o principal produto da economia belmontense), a atrair gente de todos os quadrantes da Colônia, este rio, se constituiu na maior fonte de riqueza na formação da cidade.

Lá se vão 123 anos de emancipação política. Motivados pelo momento mergulhamos nas águas de recordações. De prima deparamos como  palco a Praça da Matriz, com as belas festas religiosas: de São Vicente, de Nossa Senhora do Carmo, a padroeira, coadjuvadas por uma folclórica Marujada a desfilar ritmo, visual e lindos cânticos. Em seguida foi a vez do Boi Duro da tradição católica do Dia de Reis, e da Puxada do Mastro de São Sebastião que neste dia se tinha como uma espécie de avant-première do Carnaval. O som mesmo arrefecido do pipocar de fogos dava o sinal que a procissão do Senhor Bom Jesus dos Navegantes incentivada pela Colônia dos Pescadores estava passando. Logo um mais ruidoso, não nos restou à menor dúvida: era um Junker JU-62, hidroaviões que na rota Salvador/Rio e vice-versa com intercalação em Belmonte, amerissava nas águas do Jequitinhonha.

Imergimos mais alguns metros e encontramos dois orgulhos preservados dos belmontenses: a Lira Popular e a Quinze de Setembro, sociedades filarmônicas que continuam a gerar músicos da melhor qualidade. Descendo mais um pouquinho -que beleza!-, topamos com uma intensa movimentação do porto em que navios atracados no cais, aguardavam passageiros e o exportável e cobiçado ‘ouro vegetal-, o cacau’.

A prudência nos recomendando retornar à superfície, sobretudo para não deixar enfadonhos os de aguardo em terra, tivemos a sorte de, retornando, presenciar no aeroporto a aterrissagem de ‘douglas’ da Varig, Real, Cruzeiro do Sul e Sadia, aeronaves de companhias com linhas regulares na cidade. Como sortudos, já pertinho de respirarmos tranquilamente, vimos um Teco-Teco transporte ‘cara cuspida e escarrada’ de Belmonte dando um ‘rasante’ na altura do  Mar Moreno. Como sugere a interligação, pilotos eram profissionais que a cidade produzia prodigamente, inclusive alguns brevetados a voos internacionais. Ainda no percurso de volta, notamos que a ‘Iararana’ de Sosígenes e as inigualáveis obras de madeira de Zanine, eternos artistas belmontenses, estavam no script, mas de imediato entendemos que para essas preciosidades só um mergulho exclusivo. Bem como outras e outras ‘coisas recordáveis’ que ficaram para a oportunidade de uma nova mergulhada. Ah, sim, a estrada Belmonte a Canavieiras chegamos a procurá-la, mas infelizmente… Concluímos que o governador da Bahia a engavetara seguramente em alguma de suas muitas gavetas.

Em terra firme não hesitamos em contabilizar as reminiscências com as contas do presente. Resultado: constatamos que apesar do bom saudosismo a urbe não parou no tempo. De lá pra cá, ou seja, dos intendentes aos prefeitos; das acirradas rixas políticas (que incluía as violentas lutas pela conquista da terra inclusive sendo Belmonte alcunhada de “Cidade dos Clavinoteiros”) às crises econômicas atuais, a cidade mudou muito. E diríamos não obstante acharmosnecessário o resgate e/ou a preservação de alguns aspectos para sua firmeza de característica que ela, aproveitando das ‘infra-estruturas modernas’ outrora impossíveis, mudou para melhor.

Hoje, além da “enxadrezada e extraordinária visão”, Belmonte é dotada de condições para bem se morar.

Heckel Januário

 

 

2 respostas para “Heckel Januário em: BELMONTE, 123 ANOS”

  • nivaldo almeida da silva says:

    Parabéns, companheiro realmente muito legal esta matétia

  • Tedesco says:

    Prezado Heckel,

    Muito interessante sua matéria sobre os 123 anos da querida Belmonte, irmã-gêmea de Canavieiras. Mesmo traçado, mesmas características urbanas, mesma cultura agrícola, mesmo perfil predial, histórias e personagens bem parecidos, até na idade civil são quase semelhantes. Sendo filho de uma belmontense (Eudolice, filha de Eliodoro Vasconcelos, o “Eliodoro Branco”) sou portanto um tanto belmontense. Agradeço sua referência à minha pessoa, em seu artigo, acrescentando ainda que o General Pederneiras era engenheiro militar e foi encarregado pelo Governo Federal de estudar a possibilidade de abrir um canal entre os rios Jequitinhonha e Pardo, a fim de facilitar a navegação e consequentemente o comércio com o norte de Minas, o que efetivamente foi feito. O dito canal, embora assoreado, ainda existe e tem o nome de Canal do Poassu (ou Pau-Açu, como querem alguns), originando inclusive o povoado de Boca do Córrego, pois o córrego da denominação é o Possu, ficando parte dele em Belmonte e a outra parte em Canavieiras.
    Um abraço do Tedesco.

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