JORGE VIEIRA / CEPLAC EM 30 ARTIGOS (XXX)
REALIZAÇÕES E HISTORIA DA CEPLAC 1964 – 2014
2014 – 50 anos vivendo a CEPLAC 1964 -2014
Ingressei nesta instituição em outubro de 1963 para organizar o programa de assistência técnica aos produtores de Cacau do sul da Bahia. Somente desliguei-me legalmente pela aposentadoria; nos anos seguintes acompanhei atentamente seus planos, realizações e problemas.
Antes de qualquer recordação ou do registro de feitos, já esquecidos por muitos dos produtores dessa terra do Cacau, questiono comigo mesmo: “Existe interesse ou curiosidade da geração atual em saber dos acontecimentos passados?” Ou, ’0 desejo de analisar decisões históricas havidas neste meio século na sociedade cacaueira? ”
Quais os personagens e líderes que lutaram em defesa da economia regional e os “causadores” das dificuldades e males que até hoje prejudicam a Ceplac e toda a economia e sociedade grapiuna? Quais as grandes realizações benéficas e as maldades propositadas por interessados politicamente?
Tenho minhas dúvidas na existência desses interesses, apesar de muitos jovens serem filhos de produtores de cacau, de funcionários da CEPLAC, ou novos profissionais. O mundo atual, cheio de tecnologia ou de ilusões televisivas leva-os a gozar a vida, sem passado e ações capazes de superar esta crise permanente, causada muito propositadamente por interesses de partidos políticos.
Escrevi sobre essa organização, incluindo ideias, avaliações, críticas e sugestões para o futuro da economia cacaueira. “Ceplac – Uma Perspectiva 1972”; “Ceplac- 25 anos – O fim ou uma nova instituição 1982”; “Ceplac – Uma nova alternativa 1985”; “Ceplac – 30 anos – morte, coma ou renascimento 1987”;” Retrospectiva Ceplac 1987 – decepcionante”; “Ceplac – a explosão do fim 1988”; “Uma opção para a Ceplac 1990”; “Ceplac – Hoje, 40 anos passados 1997”; “Ceplac – nos seus 50 anos – 2006” – (estão nos livros: Ideias e Idealismo no Mundo do Cacau – 2000 e Região Cacaueira da Bahia- Ideias ainda presentes – 2006).
Mesmo assim, me atrevo a relembrar alguns fatos de importância vital, gerados por produtores e líderes, para o soerguimento da lavoura ocorridos nas crises dos anos 1950/60. Alguns desses idealistas já estão no “Reino do Céu”. Novos artigos, registraram o desmantelamento institucional, fruto de várias ocorrências administrativas e de ações políticas propositadas.
As experiências passadas por várias organizações governamentais mostraram um fracasso de funcionamento eficaz na solução dos diferentes problemas, técnicos, econômicos e sociais, existentes na região. As ações do Instituto de Cacau da Bahia – 1931, a Junta Executiva de Combate às Pragas e Doenças do Cacau – 1953 e o ETA-Projeto 35 (serviço de extensão cacaueira) e o Projeto 25 – Escola de Capatazes em Uruçuca, não conseguiram alterar as condições da economia regional.
Os produtores de cacau na luta constante aliaram-se ao governo federal, e conseguiram criar uma nova Organização – séria, competente, capaz de realizar fortes ações na solução dos diferentes problemas. Nascia assim, o Plano de Recuperação Econômico Rural da Lavoura Cacaueira – 1957, ainda hoje existente e com o nome de CEPLAC, órgão setorizado do Ministério da Agricultura e Pecuária.
Em primeiro lugar, era preciso solucionar as finanças; foram realizadas algumas “Composições de Dívidas dos Produtores de Cacau”; plano financeiro para tirar os cacauicultores da situação crítica e angustiante causada por diferentes motivos: sistema de comercialização e preços do produto, baixa produtividade das plantações, deficiência na administração das propriedades, existência de pragas e enfermidades e falta de assistência técnica especializada.
Depois era preciso atacar os problemas biológicos e administrativos organizando um qualificado Centro de Pesquisas e ao seu lado, um amplo e efetivo Departamento de Extensão Rural, capazes de levar permanentemente aos produtores, nas suas fazendas, o conhecimento das novas técnicas e métodos no cultivo do cacaueiro.
Foi neste momento que retornei à região, após dez anos de atividade profissional em Minas Gerais, a convite do Dr. Paulo Alvim, então diretor técnico científico da instituição recém-criada. O Brasil era carente de profissionais especializados no cultivo e na comercialização do cacau, produto de exportação, importante para o país e em especial, para o Estado da Bahia. As tentativas governamentais de assistência tinham fracassado e restaram pouquíssimos profissionais com expressivo conhecimento neste cultivo, apesar da crise que assolava a região. Apenas cinco ou seis técnicoseram reconhecidos como especialistas em áreas específicas do cultivo do cacaueiro.
Assim foi criado o Centro de Pesquisas do Cacau – CEPEC 1963 e logo o Departamento de Crédito e Extensão Rural – DECEX- out/1963, (posteriormente dividido em dois departamentos).
Era necessário formar um grupo de profissionais jovens, idealistas, competentes e cheios de vontade de trabalhar. Por três meses, este grupo foi submetido a um rigoroso treinamento, com aulas teóricas e práticas evisitas ao campo, para o conhecimento das plantações, dos produtores e seus trabalhadores. Aos técnicos originários de outras regiões foi necessário treiná-los em comoabordar, convencer e conduzir as reuniõescom agricultores, respeitando seus hábitos, idade e alguns aspectos culturais.
Foram designados para atuar, em 20 novos Escritórios Locais nos principais municípios produtores de cacau. Inicialmente, eles precisavam conhecer este mundo cacaueiro, suas terras, as plantações, suas pragas e doenças, os trabalhadores, as estradas, a sociedade municipal, autoridades e líderes e as condições de vida existente. Toda esta analise refletiria nas suas ações futuras, modificadoras do ambiente regional.
A CEPLAC modificou sua estrutura, criando o Centro de Pesquisas do Cacau – com objetivo de ações concretas em defesa do meio ambiente, das plantações de cacau e da formação de novos cientistas. Assim, resolveu problemas existentes na agricultura do cacau, lançou ideias e projetos para o futuro oferecendo uma base técnica e cientifica para ações no processo de desenvolvimento da região.
Falar sobre este meio século da CEPLAC e suas atividades, feitos e problemas exigiria a escrita de um bom livro registrando toda a história de uma das melhores instituições agrícolas do Brasil. Temos, no entanto, muitos artigos, relatórios da instituição, informações jornalísticas, depoimentos e alguns livros publicados. Os especialistas em desenvolvimento e estudiosos, certamente poderão atestar a grandeza desta organização.
Nesta análise vamos considerar dois períodos distintos, ocorridos nestes 50 anos – o Período Áureo (1957/1985) com a montagem da organização, o trabalho e as realizações que trouxeram benefícios econômicos e sociais para os produtores e a sociedade. Incluso está o trabalho de saneamento das dividas dos produtores de cacau. O Segundo Período “Declínio” (1985/2014) representado nas influências políticas maléficas, a enfermidade Vassoura de Bruxa e o desmantelamento organizacional. Para cada tópico considerado mereceria um amplo comentário sobre as reais razões para sua ocorrência; tentaremos apenas registrar a sua existência e seus efeitos.
Vamos ao período “áureo” – 1964/1985
– Aumento da produção e produtividade do cacau – Foi o primeiro objetivo da Ceplac, utilizando as técnicas cientificas já existentes, mas, pouco difundidas e o estímulo e orientação para novos plantios e renovação de cacauais decadentes. O Brasil produzia no ano 1963/64, 120.000 toneladas de cacau; após 20 a 23 anos de pesquisas e assistência técnica, a produtividade foi aumentada de 20 @/ha para 50/60 @ e a produção brasileira anual alcançou o expressivo volume de 420.000 toneladas de cacau. Este primeiro sucesso foi obtido através de um intenso programa de assistência técnica estruturado no plano denominado “Procacau”, onde metas para 10 anos (1976/1985) e facilidades para a execução foram estabelecidas e com a intensa participação dos produtores obteve-se um excelente resultado de grande valor econômico. Foram plantados novos 232.804 ha. e 40.615 ha. de renovação de cacauais decadentes até 1984. A atividade produtiva estimulou o desenvolvimento dos trabalhos técnico-científicos na Amazônia (Rondônia, Amazonas e Pará mais precisamente). A ideia de um novo programa – o Procacau II abrangendo outros aspectos da produção foi apresentado, mas a nova Administração não executou.
Vale ressaltar que para obter este resultado foram executados inúmeros levantamentos (determinação do número e identificação das arvores de sombra e cacaueiros) orientando novas pesquisas e atividades educativas e informativas para os produtores, seus trabalhadores e a sociedade regional. Visitas às fazendas de cacau, Cursos e treinamentos (Cursos Volantes), criada a Semana do Fazendeiro 1965 na EMARC – Uruçuca, a Campanha de Combate às Pragas do Cacau – 1964 e experiências de combate aéreo (uso de helicópteros) às pragas e depois o Combate a Podridão Parda; palestras em diferentes organizações, utilização de auxílios audiovisuais e apoio da imprensa e das emissoras de radio regionais. O crédito orientado representou um estimulador e facilitador na aplicação de várias técnicas recomendadas.
CNPC – Conselho Nacional de Produtores de Cacau – foi uma sugestão do Dr. Paulo Alvim – criar uma organização que reunisse Associações e Sindicatos Rurais para discutir, defender seus interesses e direitos, apoiando as realizações técnicas da Ceplac. Foi de uma importância vital para o desenvolvimento da instituição, exercendo grande atuação nos questionamentos dos problemas e nos entendimentos com autoridades dos governos estadual e federal.
Surgiram grandes lideres que a história certamente registrará com seus feitos e comprometimentos com o desenvolvimento regional e defesa da Ceplac. Infelizmente com o declínio institucional e as influencias politicas partidária, o CNPC desarticulou-se, perdeu o seu prestigio e praticamente não mais existe atuando. Voltamos à época passada, da organização tradicional de Federação Estadual e Sindicatos Rurais que desconhecem a região do cacau e sem expressão política para atuar.
– Diversificação Agropecuária – apesar da grande importância da economia do cacau foram iniciadas ações técnicas e de pesquisas com outros cultivos e com a pecuária. Em menor escala, mas sinalizando a importância da diversificação na utilização de determinados tipos de solos, na associação com plantios de cacau e explorando mais as experiências havidas com essescultivos na região (seringueira, dendê, pimenta, cravo, coco) e outros, introduzidos da região da Amazônia (pupunha, macadamia, açaí) que representavam um promissor investimento. A tradição com o cacau, a falta de experiências cientificas e de manuseio com esses novos e exigentes cultivos têm dificultado muito sua expansão.
– Conhecimento da realidade regional do sul da Bahia – dois grandesprojetos técnicos foram desenvolvidos como estudos e informações, mais precisas, nas diferentes características da região – um, objetivou o levantamento dos solos e sua fertilidade em área de 90 municípios. Umaequipe técnica especializada gerou documentos, mapas edados básicos, necessários à elaboração de projetos para o desenvolvimento regional. Outro estudo importante foi contratado com empresa especializada para o Levantamento Aéreo Fotogramétrico da região; as fotos e dados obtidos permitiram novos estudos in loco, como também, a oportunidade de Prefeituras Municipais e órgãos do governo Estadual utilizarem para planejamento de ruas e estradas municipais. Infelizmente os governantes da época não souberam aproveitar esta contribuição técnica. Na verdade, a visão futura da Ceplac estava alguns anos à frente dos políticos administradores.
– Diagnostico Sócio Econômico Regional – era preciso ter conhecimento mais realista das condições sociais e econômicas da região. Foi iniciada uma pesquisa ampla no sentido de levantar dados regionais, problemas e o potencial existente, sobre vários aspectos – educação, transporte, saúde, saneamento, indústria, população, lideranças, recursos hídricos, turismo, economia cacaueira e outros importantes setores para o desenvolvimento.
O excelente estudo e levantamento foram concluídos com êxito abrangendo 15 publicações especificas e encontram-se localizados na biblioteca do CEPEC. Alguns estudiosos fizeram uso desses dados regionais para analises mais especificas e teses de cursos em Universidades; o diagnóstico representou uma real contribuição da Ceplac à região e ao Estado. Em agosto de 2006 sugeri uma atualização do Diagnóstico, tendo a UESC como coordenadora. A sensibilidade e visão com o futuro ainda é pequena, deixando que as reações sociais e econômicas da sociedade surjam, sem qualquer previsão e estímulo.
– Classificação do Cacau amêndoa para exportação – os estudos e pesquisas realizados nas propriedades sobre a qualidade do cacau em amêndoas levou a Ceplac a ampliar a assistência técnica neste aspecto e por determinação do Governo (Resolução nº130 de 1981) a assumir a responsabilidade de Classificação de todo cacau e derivados para efeito de exportação, garantindo assim o conceito da qualidade do cacau brasileiro.
Alguns problemas surgiram com as firmas exportadoras que desejavam privatizar esta atividade de controle da exportação. O resultado deste trabalho da Ceplac apresentou-se na analisa do cacau do Estoque Regulador (Acordo Internacional do Cacau) mostrando que o cacau originário do Brasil (29.000 em 100.000 toneladas), era o que tinha o menor índice de defeitos. (0 a 5%). A responsabilidade da classificação até hoje, ainda é da Ceplac.
– Defesa do Meio Ambiente e Reservas Florestais – a visão futura da Ceplac levou-a a defender e aprovar projetos importantes. Alguns deles: Criação de Estações Experimentais – especificas em áreas com maciços de Pau Brasil e de Jacarandá, árvores de grande importância e em risco de desaparecimento. Também, foram criadas – a Reserva Biológica de PauBrasil em Porto Seguro, de Seringueira e Dendê em Una e recuperou-se algumas estações em verdadeiro estado de abandono.
– Campanha de Controle a Vassoura de Bruxa – Cavab – para evitar aintrodução de mudas de plantas originarias da Amazônia (em especial de cacau) no sentido de impedir a penetração na Bahia, da enfermidade Vassoura de Bruxa, já existente em Rondônia. Uma linha divisória determinava uma fronteira impeditiva da entrada de mudas de plantas provenientes da Amazônia. Pessoal treinado e localizado em aeroportos e estações rodoviárias exercia este trabalho fiscalizador e de controle (foram apreendidas várias centenas de mudas de plantas). Infelizmente a nova orientação, dada à Ceplac foi eliminar o programa sob o argumento de economia financeira, ficando a região sem qualquer proteção.
Paralelamente a Ceplac mantinha o Centro de Introdução de Plantas em Ondina, Salvador-Bahia para permitir o procedimento de “quarentena” das plantas coletadas e selecionadas na Amazônia ou importadas de países produtores de cacau. Ainda existem quatro Bancos de Germoplasma que permitem o estudo das plantas sobre diferentes aspectos biológicos, sem o risco de introdução de doenças e pragas em regiões produtoras.
– Estação Experimental de Produção de Camarão – projeto de estudo e produção em cativeiro, de Camarão, no município de Camamu com laboratórios, instalações especiais e residência de técnicos. Objetivo de estimular esta criação, como uma outra fonte de renda para agricultores. As novas administrações da Ceplac não deram o devido valor ao projeto e a estação foi cedida a outro órgão.
– Formação de uma elite de Profissionais – o Brasil possuía poucos técnicos especializados no cultivo e na economia do Cacau; era exigido para o desenvolvimento do programa da Ceplac, a preparação e especialização de profissionais nas diferentes áreas do conhecimento agro econômico. Após um período de trabalho na região, muitos técnicos foram enviados a Universidades nacionais, dos USA e da Europa para obter a preparação em cursos de mestrado e doutorado, com pesquisas de teses realizadas na região. Paralelamente a estes cursos, muitos técnicos participaram de Conferencias, Seminários e Visitas Técnicos em países produtores de cacau na África, América e Ásia.
– Luta pela Institucionalização – desde 1968 na Comissão de Coordenação da Política do Cacau que a Ceplac procura uma forma de tornar-se uma instituição permanente dentro da estrutura pública governamental. Objeções a este desejo foram apresentadas alegando que a organização estava funcionando muito bem e não deveria buscar modelo legal, rígido e burocrático. Durante todo este período cinquentenário varias propostas e ideias foram apresentadas sem qualquer resultado concreto; também existiu uma tentativa de extinção. A última ação em 1985 foi dar ao Conselho Deliberativo da Ceplac uma constituição com maioria de representantes dos Produtores de Cacau, na esperança de evitar o que aconteceu logo em seguida. A proposta foi rejeitada e o Conselho terminou sendo extinto, eliminando a participação permanente dos produtores e de outros órgãos interessados na economia do cacau. Alguns livros registraram todas estas tentativas para institucionalizar a Ceplac. Ainda hoje existe a falta de uma definição mais legal e que caracterize seus objetivos atuais; já não é um “Plano” com o desejo de ajudar no desenvolvimento regional, mas uma organização de pesquisas e assistência técnica ao cacau e à agricultura familiar, como uma unidade setorial do Ministério da Agricultura e Pecuária. Sem o devido prestigio, sem recursos suficientes, sem contratar pessoal técnico para substituir os pesquisadores aposentados; tornou-se órgão público, cheio de burocracia, sem liberdade e sujeito a influência política partidária. Os produtores de cacau que a criaram e a mantiveram por algum tempo e também, a fizeram importante e útil, agora estão ausentes, sem qualquer participação em sua defesa ou preocupação com o seu futuro. Futuro que ainda é uma incógnita, não existindo procedimentos para defini-lo.
– Convenio com o Ministério das Relações Exteriores (Itamaraty) – a comercialização para a exportação do cacau estava com empresas exportadoras e algumas indústrias. Os produtores de cacau vendiam seu produto, de acordo com suas necessidades financeiras ou suas expectativas de preços para o cacau. Desconheciam as particularidades do negocio exportador e suas vantagens financeiras.
Visando um futuro para a classe produtora no sentido de também auferir destas vantagens do comercio internacional através de Cooperativas de Comercialização, idealizou-se um programa para preparar profissionais nesta área. Eles iriam atuar nas diferentes instituições operadoras do comercio internacional; nas Cooperativas, Empresas Privadas, Órgãos do Governo, Indústrias de derivados do cacau e também na área de pesquisas da Ceplac.
Uma proposta de convenio foi apresentada ao Itamaraty que inicialmente recusou a designação de Adido Agrícola. Após algum tempo de convencimento, foi aceita a ideia da permanência de Profissionais da Ceplac, com alguma experiência, para acompanhar as negociações do Acordo Internacional do Cacau, da Aliança dos Países Produtores de Cacau, das Bolsas de Negócios Internacionais e intercambio tecnológico de cacau. O programa previa treinar e preparar técnicos que, ao retornar iriam trabalhar na área de comercialização. Em 1982/83 o programa foi envido um Economista para Londres (sede da OICACAU e centro comercial) e um Eng. Agrônomo para Abidjan – Costa do Marfim (maior produtor de cacau),com objetivo de acompanhar os planos de expansão da produção dos países africanos. A experiência adquirida deveria permitir a ampliação do programa para outros países.
Infelizmente a influencia politica partidária introduzida no desenvolvimento da Ceplac fez o Ministro da Agricultura determinar o encerramento do Convenio e o retorno dos profissionais. Voltamos ao período passado, produtores dependentes da influência das firmasexportadoras e dos procedimentos de venda do cacau, sem qualquer participação.
– Participação no Acordo Internacional do Cacau – a Ceplac teve uma presença importante e de grande atuação, participando das Delegações Brasileiras nas Negociação do Acordo Internacional do Cacau, em Genebra, Suíça e nas reuniões ordinária da Organização Internacional do Cacau, em Londres
Esteve sempre presente nas reuniões da Aliança dos Países Produtores de Cacau, em vários países produtores de cacau e representando o Ministério da Agricultura. Exerceu na maioria das vezes uma liderança nas discussões sobre os problemas que afetam os produtores e o comercio de cacau. Na área cientifica, o Cepec representando a instituição nas Conferencias Internacionais de Pesquisas em Cacau, apresentava inúmeros trabalhos científicos, evidenciando a sua liderança nos estudos e pesquisas realizados no mundo. Além deste intercambio, da aprendizagem e de sua influência, a Ceplac teve um papel muito importante e benéfico para o Brasil e para a economia cacaueira.
– Apoio a criação da Copercacau e da Itaísa – com a criação de um Departamento de Cooperativismo a Ceplac ampliou o anseio de alguns produtores em organizar um Cooperativa para o comercio internacional da produção de seus associados. Paralelamente um plano para obtenção de uma Industria de Derivados do Cacau. Após dificuldades na defesa destas ideias, os projetos foram concretizados, iniciando uma nova fase no processo de comercialização de cacau no sul da Bahia. Por razões que desconheço as duas empresas reduziram suas atividades, ficando no atual momento, desativadas. Oportunidade perdida e que mereceriam maiores explicações sobre seus insucessos.
– Atividades do funcionalismo do Banco do Brasil – O Plano de Recuperação da Lavoura Cacaueira concretizou-se dentro da Cacex – Comissão de Comercio Exterior. Das mãos do Diretor Tosta Filho foram conduzidas as primeiras decisões para a Composição de Dívidas dos Produtores de cacau. Uma equipe do Banco do Brasil, liderada por Carlos Brandão e depois, por José Haroldo Vieira foi responsável pelas atividades administrativas, neste período áureo, permitindo o desempenho dos trabalhos técnicos com tranquilidade e eficiência. As ações desta equipe foram muito importantes e representaram uma garantia para o sucesso da Ceplac e seu conceito de instituição séria, honesta e sensível aos problemas das regiões cacaueiras do Brasil.
– O Espirito Ceplaqueano – desde o início das atividades da Ceplac brotava espontaneamente no funcionalismo um sentimento de satisfação e até de vaidade em exercer suas atividades profissionais nesta organização. Do motorista ao profissional mais graduado era constante sua manifestação em defesa da Ceplac; até um comprometimento mais categórico de defesa, unindo-se aos produtores e contribuindo financeiramente para manifestações públicas contra atitudes de político regional e de exportadores. Ainda hoje, este espirito ceplaqueano existe no trabalho dos poucos profissionais que ainda atuam na Ceplac e nos ex funcionários, vivendo de recordações do passado e reagindo contra a situação atual da Ceplac.
– Criação das EMARCS – fruto de um idealismo e desejo de progresso para a região sul baiana. Uruçuca, antiga Agua Preta, foi o primeiro centro de pesquisa agrícola, na região cacaueira, criado pelo Ministério da Agriculturaem agosto de 1916. Em 1932, ele foi transferido para o governo do Estado da Bahia, no Instituto de Cacau recém criado em 1931 como a Estação Experimental de Cacau.
Em 1965, após 50 anos de um período carente de recursos financeiros, baixo desenvolvimento técnico cientifico e falta de apoio governamental, a Ceplac consegue absorver os poucos experimentos existentes, em especial de cacau “catongo” oferecendo uma nova oportunidade de expansão das pesquisas. Ao lado da estação existia uma Escola de Formação deCapatazes, criada para atender as fazendas de cacau. Esta Escola também sofria de uma situação precária com a falta de apoio e recursos.
A Ceplac idealizou a absorção da Escola, transformando-a na Escola Média de Agricultura da Região Cacaueira – ENARC em 1965. Iniciava uma nova era nas ações educativas e formadoras de Técnicos para o desenvolvimento regional.
A EMARC começou a funcionar ministrando cursos de Técnico em Agropecuária, em Alimentos e em Agrimensura. Realizou durante muitos anos a Semana do Fazendeiro (1965 a 2006) com a participação de 38.633 agricultores. O sucesso e a sua influência através do trabalho de seus profissionais ampliaram o programa, criando novas Emarcs em 1980 nos municípios de Valença, Itapetinga e Teixeira de Freitas na Bahia e mais tarde, a expansão atendeu o município de Ariquemes em Rondônia na Amazônia.
Posteriormente, devido a situação difícil da Ceplac, as Emarcs sofreram muito com a falta de recursos, prestigio e, após uma negociação, foram transferidas para o Ministério da Educação, em 2008, como Institutos Federais de Educação, Ciência e Tecnologia Baianos. Registre-se que as Emarcs prestaram um grande serviço à região formando inúmeros jovens (1967 até 2.008) concluíram os cursos 8.132 alunos, inclusive de outros países); o treinamento da Mão de Obra Rural, mais intensamente em Cacau alcançou no período de 1971 a 2008 a quantidade de 104.122 trabalhadores. Todo este trabalho representou um excelente exemplo e contribuição para o desenvolvimento da agricultura regional.
– Programa Técnico na Amazônia – algumas razões levaram a Ceplac a instalar um programa na Amazônia. A necessidade de estudos nas plantações ai existentes e o interesse em ampliar sua base genética para desenvolver melhores plantas, mais produtivas e resistentes a doenças. Razões ecológicas e socioeconômicas também foram consideradas na decisão de ampliar a produção brasileira nesta região. Iniciou-se algumas atividades técnicas em 1970 em colaboração com o Ministério da Agricultura e o estado de Rondônia; em 1974 foi estabelecido o Programa Especial da Amazônia já com áreas experimentais e instalações no estado do Amazonas, Pará e Rondônia. Estudos e pesquisas foram iniciados sobre o sistema de produção do cacau, sobre a doença Vassoura de Bruxa e as condições dos solos e sua fertilidade. Foram criadas as Estações Experimentais em Manaus, em Altamira e o Projeto de Cacau Tomé Açu. Com a criação do Procacau nacional, o programa previa a expansão de áreas na Amazônia, tendo em vista o potencial de solos férteis, as opções de produção nos períodos de baixa produção da Bahia e considerando que o cacau amazônico tem um maior teor de gordura e ponto de fusão, o que oferece a produção de melhor chocolate. Em 1976 já estava criado o Departamento Especial da Amazonia responsável pela coordenação dos trabalhos nesta região. Hoje, existe um grande conhecimento dos diferentes aspectos da produção e da qualidade do cacau, assim como sua resistência a enfermidades. A região possui a maior coleção de germoplasma de cacau permitindo inúmeras possibilidades de estudos genéticos, na Estação de Recursos Genéticos José Haroldo Vieira; as plantações de cacau em alguns lugares estão localizadas em programas de colonização ou reforma agrária. Em 2013 a situação é a seguinte: 143.711 hectares e a produção de 113.570 toneladas de cacau distribuídos nos estados de Rondônia, Pará, Amazonas e Mato Grosso. (Dados de Mendes, Fernando – Ceplac).
– Apoio técnico e financeiro à infraestrutura regional – a região era carente de ações que modificassem a situação da sua estrutura funcional. Estradas, saneamento, saúde, transporte, telecomunicação, porto e sistema de exportação do cacau, educação, organização da classe produtora e outros problemas existentes eram deficientes. A Ceplac sensível a isto e objetivando o desenvolvimento regional procurou estudar, analisar e contribuir técnica e financeiramente para melhoria deste ambiente.
Foram realizados inúmeros Convênios e Acordos para a construção e melhoria de obras e projetos; foram muitas as ações da Ceplac: destacam-se dois grandes projetos – o apoio à organização dos produtores rurais e a Universidade de Santa Cruz (hoje Universidade Estadual de Santa Cruz). A maioria destes benefícios que a Ceplac fez ou apoiou estão ai, sendo utilizados pela sociedade regional com impacto constante no seu desenvolvimento. Somente o apoio à Universidade, permite entender o valor da contribuição ceplaqueana, financeira e de pessoal qualificado e experiente em todo o processo de montagem e crescimento dessa instituição educacional. Compreendemos que dela sairão os futuros transformadores das mudanças sócio econômicas da região.
– As Pesquisas do Cepec – O Centro de Pesquisas do Cacau foi montado após uma reunião de pesquisadores nacionais e internacionais sob a liderança do Paulo Alvimvisando definir uma estrutura diferente dos padrões existentes no Brasil, com objetivos bem definidos em todas áreas e entrosamento permanente com o serviço de extensão dos produtores. Localizado em área isolada das atividades administrativas permitindo aos pesquisadores umatranquilidade em seus laboratórios, viveiros de mudas e equipamentos especializados seus estudos. Aí cristalizou-se o idealismo e a dedicação ao trabalho sobre a produção e a econômica cacaueira. Muitos desses pesquisadores já faleceram ou estão aposentados, vivendo de saudades e tristeza pelo momento atual existente na Ceplac.
Mas, o idealismo não se entrega e o grupo atual continua no mesmo esforço para encontrar soluções dos problemas do cacau e da região. Todavia, a tecnologia existente no mundo científico exige que o governo atenda às necessidades para um melhor desempenho das pesquisas e sua continuidade. Urge a participação de novos cientistas e liberação de maior volume de recursos financeiros. Caso contrário tudo o que foi realizado ficará somente na história da região.
Apelando para convênios com organizações internacionais mantem alguns estudos e pesquisas na Bahia e na Amazonia. Existe o consórcio internacional com CIRAD- França, sobre a definição do DNA do cacaueiro da variedade Criolo. A prioridade é buscar variedades resistentes a doença Vassoura de Bruxa e outros caracteres como produção e produtividade do cacaueiro. O Consorcio Internacional de Sequenciamento do Genoma do Cacau congrega vinte instituições cientificas de seis países que elaboram importantes pesquisas cientificas.
Outros estudos ainda estão sendo desenvolvidos: – Produção de Biofungicidas TRICOVAB para controle da V.de Bruxa, Controle Integrado da V.de Bruxa com estudos interligados de genética, de enfermidades e biologia, – Seleção, Validação e Indicação de Clones de Cacau, produtivos e tolerantes à Vassoura de Bruxa.
A inclusão da Ceplac/Cepec na Rede Nordeste de Biotecnologia – Projeto Renobruxa, integrado a projetos do CNPq/FINEP, tem objetivo de revitalizar a cacauicultura baiana através do controle da Vassoura de Bruxa. Com recursos financeiros permitindo a participação de 42 pesquisadores e quase 80 técnicos auxiliares e bolsistas; estão nesta participação a UESC, Unicamp, a EMBRAPA (Cenargen) e CENA/USP. O projeto já produziu vários resultados importantes para o combate à Vassoura de Bruxa e para os produtores baianos já forma distribuídos 367 clones em 100 fazendas e mais de 400 clones selecionados como resistentes a enfermidade e mais 20 clones com elevada qualidade de chocolate.
Na área florestal está sendo pesquisado vários modelos de consorcio de cacau com diferentes essências florestais naturais, exóticas e frutíferas. Outros trabalhos experimentais existem apesar das dificuldades existentes. Interessados em maiores detalhes podem consultar o livro “Ciência, Tecnologia e Manejo do Cacau” – 2012 – 2ªedição.Ceplac.
A esperança de novas pesquisas e continuação do que existe, ainda mantem a instituição viva e atuante.
– PERIODO DE DECLINIO – 1985 /2014 =
– Entrada da Política Partidária – com o estabelecimento da chamada Nova República, isto é um novo Governo Federal, a instituição Ceplac foi entregue a orientação política, através do Deputado Federal da região, que imediatamente provocou nomeações políticas para os diferentes cargos administrativos e programações de conotação mais ideológica que técnica. Assim a instituição passou a ser dirigida por pessoal sem experiência administrativa e conhecimento dos problemas técnicos e econômicos da região do cacau. Os enlaces políticos com o setor de exportação de cacau levaram à insatisfação do funcionalismo e produtores, chegando a movimentos públicos organizados contra esses procedimentos; as discussões com os técnicos eram sempre com propósitos de influência política partidária. Estes episódios abalaram o espirito ceplaqueano perturbando o seu desempenho técnico.
– Extinção da Cota de Contribuição Cambial e Imposto de Exportação – esta contribuição dos produtores de cacau no processo da exportação do produto (outubro/1961) dava à Ceplac um volume de recursos financeiros excelente, permitindo crescer o seu programa técnico e contribuir para o desenvolvimento regional, através de obras sociais e atividades econômicas, em colaboração com outras entidades e com o governo estadual da Bahia. Por influência do FMI o governo federal eliminou esta Cota de Contribuição em dez/1983; imediatamente o Ministro Delfim Neto estabeleceu o Imposto de Exportação sobre o Cacau (1983) no desejo de manter os recursos destinados à Ceplac. Infelizmente os procedimentos para obtenção desses recursos passaram a ser burocratizados, dificultando o recebimento total e nos momentos mais necessários para a execução das atividades técnicos de pesquisa. Em 1989, o governo acaba com o Imposto de Exportação, sem qualquer reação da lavoura e a Ceplac passa a atuar como uma dependência do Ministério da Agricultura. Hoje vive implorando um maior volume de recursos e sua liberação.
– Colocação de pessoal técnico em disponibilidade – em 1987 uma administração da Ceplac, comprometida com a influência política e incapaz de orientar a liderança técnica existente, coloca inúmeros funcionários, especialmente cientistas e os mais experientes em disponibilidade; isto, significa: “ficar em casa sem trabalhar e recebendo o salário”; o grupo reagiu e foi obtido o cancelamento após um ano. Esta atitude da administração influenciou na tranquilidade existente no exercício do trabalho técnico e administrativo.
– Falta de apoio dos Produtores de Cacau – com os problemas existentes na Ceplac e em especial, a introdução da Vassoura de Bruxa, os produtores de cacau e suas organizações ficaram angustiados, com o grande prejuízo financeiro ocorrido e a falta de uma solução viável pelo governo; perderam o estimulo e interesse, e daí a desorganização de suas associações e quase um abandono à Ceplac. Esta situação levou a perda de trabalhadores e a ocorrência de movimentos dos “sem terra” e das históricas invasões dos falsos índios (muitas fazendas foram e continuam sendo invadidas).
– Falta de recursos financeiros e admissão de técnicos – a introdução da Ceplac no Ministério da Agricultura, apesar de lógica e correta, tornou-se um grande problema devido ser um Ministério sem grande importância no cenário do governo federal. Mesmo o Brasil tendo um potencial agropecuária excelente, o órgão governamental responsável por esta área não tem o devido apoio e facilidades para um melhor desempenho. A carência e dificuldades de liberação dos recursos financeiros são extremante desastrosos impedindo a realização de obras e pesquisas agrícolas. O mesmo procedimento está na política de recursos humanos para autorizar a admissão de novos técnicos em substituição de aposentados. Já são 27 anos sem autorização.
– Perda do patrimônio físico – prédios, instalações e áreas físicas – com o tempo a Ceplac foi adquirindo áreas e prédios para realizar seus trabalhos de assistência técnica, de pesquisas e de administração. Com a aquisição de áreas para reserva florestal e experimentos formou um excelente patrimônio necessário a uma instituição de objetivos crescentes e ligados ao desenvolvimento regional. A influência política e o descontrole administrativo levaram à concessão de áreas, de utilização da maior parte dos escritórios locais e de representação, culminando com a perda definitiva do prédio da então Secretaria Geral da Ceplac em Brasília, do prédio onde funcionava o CNPC sede nacional dos produtores de cacau em Itabuna. Áreas de reservas e de experimentação são pretendidas por órgãos alheios à agricultura e ao cacau. E as entregas parecem que continuam, neste processo de desmantelamento institucional.
– Perda das Emarcs para o Ministério da Educação – talvez tenha sido a menor perda do programa global da Ceplac. Apesar do excelente trabalho técnico e educativo desenvolvido, as Emarcs vinham sofrendo problemas no seu desempenho causados pela crise que dominava a Ceplac. A criação dos Institutos Tecnológicos ligados ao M. Educação, onde as Emarc estão inseridas representa uma esperança para a educação e treinamento de jovens necessários à evolução da tecnologia em todos os campos.
– Introdução perversa da Vassoura de Bruxa – esta enfermidade já existia na Amazônia no estado de Rondônia. Uma das razões para a Ceplac ampliar suas ações técnicas nesta região no sentido de estudar e pesquisar os problemas existentes. Assim foi designado um profissional para trabalhar nesta área e logo foi feito o plano Campanha de Controle da Vassoura de Bruxa, com objetivo de impedir a introdução de mudas de plantas originarias de toda a região para a Bahia. Estabeleceu também uma Estação de Quarentena em Salvador, Bahia apropriada para atender qualquer tipo de planta introduzida no estado e originarias de qualquer parte do mundo. Infelizmente, mesmo com as pesquisas e o controle fiscal em vários locais (eliminou-se algumas centenas de mudas de plantas) a enfermidade Vassoura de Bruxa penetra na região do cacau. Inicialmente em duas fazendas de cacau em Uruçuca e em Camacan, conforme o registro dos proprietários e seus trabalhadores; como estavam amarradas aos cacaueiros era um evidencia de que foi uma ação do ser humano. A doença logo disseminou-se por toda a região, causando a maior destruição da economia do cacau neste último século. Logo veio a público a existência de um plano político elaborado por um grupo com a intensão de eliminar o poder econômico dos grandes produtores. Providenciaram a busca por mais de uma vez, de material vegetativo infectado com a doença e localizaram em algumas fazendas de cacau. A doença espalhou-se e a “bomba” explodiu. Muitas discussões, confissão pública do transportador da doença de Rondônia para região, abertura de processo policial, até a elaboração do Comentário cinematográfico do episódio (O Nó – ato humano deliberado) e muito falatório. Até hoje nada; processo arquivado e nada se fez em benefício dos prejudicados e dos trabalhadores rurais.
O importante foi o estrago doloroso ocorrido em toda a região do cacau. Falências, desistências de cultivar o cacau, acúmulo de débitos financeiros, enfermidades contraídas e até morte com suicídio. Mas, de todos os males não podemos entender, como sobreviveram (se é que ainda vivem) os 230 a 250.000 trabalhadores rurais despedidos das fazendas de cacau com a entrada da Vassoura de Bruxa; a economia regional foi dizimada, o comercio, os bancos, toda a sociedade. Os responsáveis por esta desgraça não pensaram no mal que estavam fazendo à população, por ignorância ou por maldade mesmo. Infelizmente, estão por ai…
Iniciei esta série de 30 artigos, feitos durante todo este tempo 1964 a 2014 quando a instituição técnica completava seus 50 anos de existência. Apesar de solicitar uma comemoração pública e expressiva, ela não foi programada pelos dirigentes, ficando o tempo encarregado de apagar as lembranças, as realizações, a melhoria para toda a sociedade do cacau. Ficaram os eternos problemas econômicos e sociais. Talvez mais descrenças que esperanças de melhora.
Os primeiros 25 anos foram áureos. Grandes realizações construção do Centro de Pesquisas do Cacau, do Departamento de Extensão, da Emarc, do apoio à infraestrutura regional, da organização da classe produtora e em especial, da sonhada Universidade Estadual de Santa Cruz. Os outros vinte e cinco anos marcados com a introdução da politica partidária na administração, a eliminação da cota de contribuição cambial, o desestimulo do governo e finalmente a introdução maldosa da Vassoura de Bruxa, ocasionando a destruição da economia cacaueira e o desemprego de mais de 230.000 trabalhadores rurais,
Em 1990, novamente escrevi e citei os planos existentes de retaliação da CEPLAC – o CEPEC para a Embrapa, com todo seu acervo cientifico, pessoal e trabalhos experimentais. O resto destinado a empréstimos (que não retornam nunca), doações etc. Uma mutilação eliminando da instituição sua função de liderança na solução dos problemas regionais. Estamos em 2014, talvez no fundo do poço, sem recursos financeiros suficientes, sem admissão de novos pesquisadores (há 27 anos), sem qualquer estímulo governamental e por incrível que pareça, sem defesa da classe produtora rural. Apatia ou realmente falta de interesse em lutar por uma instituição que foi criada e defendida por eles, no passado quando a Ceplac administrou a composição de suas dívidas, aumentou sua produção e proporcionou tantos benefícios para suas propriedades rurais e para a sociedade em que vivem. Tudo executado com seriedade, competência e honestidade.
Esqueceram tudo isto? Será que a desgraça da Vassoura de Bruxa, introduzida maldosamente, varreu seus sentimentos e memória para a vala do esquecimento?
O que restou depois destes 50 anos passados?
Um Centro de Pesquisas vivendo de um idealismo e da capacidade e experiência dos seus poucos pesquisadores, ainda realizando estudos apesar das grandes dificuldades para executá-los. A Extensão Rural orientada para atendimento a Agricultura Familiar, financiado pelo Ministério do Desenvolvimento Agrário – MDA. Programa sem importância na economia cacaueira regional. O programa da Amazônia, certamente com os mesmos problemas de natureza financeira e administrativa.
Sem razão da sua existência, ainda mantem uma estrutura administrativa (superintendências), abrigando cargos de utilização política; daí, as concessões de instalações e áreas para outros órgãos, muitos deles sem qualquer vínculo e realizações em benefício da economia cacaueira e da região.
E agora, o que vai acontecer?
Várias ideias surgiram. Elas estão escritas, assim como projetos de lei, tentativas de institucionalização, maior presença e poder dos produtores de cacau mas, nada foi concretizado. Restou a permanência no Ministério da Agricultura, como um programa sem autonomia, poucos recursos e sem prestigio. Parece mais, um problema político que um desejado programa de trabalho do ministério.
A ideia de ser absorvida pela UESC “federalizada”, não foi compreendida e considerada pelos seus dirigentes. Faltou visão de futuro dos educadores. Agora o “trem já passou” e uma nova Universidade, UFSB que inicia suas atividades na região, absorverá lentamente as instalações e áreas com plantações e experimentos do Cepec.
Concretiza-se o desmonte institucional; mais um pouco de tempo, o que restou passará a ser talvez, um Centro de Estudos e Pesquisas Agrícolas da Universidade ainda em instalação. Dos males o menor! Assim desejamos.
Com a esperança que a nova Universidade seja de fato uma “Universidade” com o ensino e pesquisas de qualidade e sem conotação ideológica de política partidária.
Meus votos para que a região tenha um novo período áureo de trabalho e de realizações.
Ilhéus, Bahia, julho de 2014.
Jorge Raymundo Vieira, Eng. Agrônomos, MS – aposentado Ceplac
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