Ontem, às 6:15 da manhã, completei 60 anos de nascimento na tristemente extinta Maternidade Santa Isabel. Queria comemorar, mas não para ricos ou remediados, pois estes já comem bem o ano todo, alguns filés, pistolas ou haddoks importados. O salário que recebo como professor, há quase trinta anos, realmente, não dava para promover nada à sua altura.

Resolvi, então, organizar, secretamente, uma festa à moda antiga no único orfanato da cidade. A intenção vazou e, um anjo que me acompanha e protege desde aquele 14 de Agosto, tomou a frente e me ofereceu a festa, bem como eu queria. Apenas bolo confeitado com velas, empadas, pastéis, bolo em quadradinhos, cachorro quente, brigadeiros, suco de maracujá, sacolinhas-surpresa. Só. Depois da merenda, uma corrida de saco, outra da colher de pau com ovo cozido e,o melhor, a brincadeira de cabras-cegas tentarem acertar o lugar certo de colar o rabo do bicho, desenhado sem rabo, na cartolina. Sucesso total. O melhor, ainda, foi ver que 11 ou 12 pessoas carinhosas cuidam das cerca de 30 crianças, muitas ainda de colo. Os arredios que de início não queriam participar daquela festa-pobre, depois desistiram e ganharam todos os concursos, sendo todos premiados com lápis-cera, bem embalados em sacos coloridos. Antes de tudo, fiz um pequeno discurso, dizendo que já tinha 60, mas ainda me sentia criança. Elogiei o “silêncio” e “respeito” que tinham com as suas novas mães (apenas uma mentirinha de incentivo). Em menos de 2 h, já tínhamos acabado com aquela obrigação de todo ser humano: ajudar a quem precisa. Outro vazamento, e ali apareceu o querido irmão Isaac com sua filha Luísa.

Só fiquei triste com a falta de árvores e colorido alegre na pintura das paredes. Quando puder, ali levarei Lolô e Aninha para darem umas dicas e, talvez, arranjar tinta e voluntários para dar uma merecida guaribada de cores no local. Taí um trabalho de sucesso da famosa PMI.

Hoje, dia 15, comemoramos o dia-feriado de N.Sa. das Vitórias. Porque esta invocação de Maria, antes inexistente no calendário católico de Ilhéus? Se não estou trocando as bolas, construíram aquela nova igreja da Vila, em homenagem a uma façanha de um jovem cafuzo nativo, corajoso como nunca jamais apareceu outro nesta Foz do Rio Cachoeira. Como toda a população havia se escondido na mata grossa que então existia no local e, vendo o macho que alguém deveria tomar alguma providência para rechaçar os intrusos holandeses que, lá embaixo, no ancoradouro, roubavam toros de pau-brasil e caixas de açúcar a serem exportados, desceu, sozinho, com um bom facão e botou todo mundo para correr de volta ao navio. Na saída, o General Liechhardt, chefe do bando,tomou um golpe violento na perna, voltando, os batavos, escarreirados, da nossa Vila, de volta a Pernambuco.

Há quem diga que a expulsão dos holandeses do Nordeste Brasileiro, começou aqui mesmo pois, dali em diante, nunca mais ganharam uma só batalha, devido à baixa-moral dos seus soldados…

A atual Avenida Soares Lopes, que já mudou de nome três vezes, desde a sua abertura, porque não poderia se chamar “Avenida Cutucadas”, apelido ganho pelo nosso herói maior?

Guilherme