Ontem assisti o desfile das Escolas de Samba do Rio de Janeiro.  Encantado fiquei com a “Grande Rio” homenageando à cidade de Maricá e a cantora Maysa.

Assim como todos os milhares de espectadores fiquei extasiado com a perfeição do desfile; a bateria, as sambistas, as diferentes “alas” simbolizando algo importante e histórico da cidade fluminense.  E os carros alegóricos? Espetaculares especialmente o dos Pianos em círculos rotativos.

Está neste povo brasileiro a alegria de viver este momento, esquecendo os problemas e que são muitos, e gozar este sentimento expressado por 4.000 artistas e foliões.

O Brasil é na verdade o pais do Carnaval e do Futebol. Espetáculos que enfeitam a vida e deixa-a correr nos anos com uma grande esperança e tranquilidade.

Antes de desligar a TV passei a pensar, sem sentimentalismo. Agora, via a Escola de Samba como uma Escola de Administração, especializada e tentando mostrar às autoridades e organizações públicas como se planeja, organiza, estabelece metas e o melhor, REALIZA seus objetivos dentro do prazo estabelecido.

Essa apresentação da Escola de Samba teve seu tempo de preparo, de definições sobre seu enredo, o samba a cantar, as datas ou personagens a homenagear, a arte cênica, o uso de material reciclável, a distribuição dos passistas e sua Rainha, suas fantasias ajustadas à hora do desfile, a tecnologia e suas inovações nos carros alegóricos e muitos outros detalhes importantes. Ao lado de todos esses afazeres ainda existia os momentos de encontro para o consenso entre os homens da “velha guarda” e os inovadores, na busca de recursos financeiros e as escolhas dos líderes para cada aspecto a ser desenvolvido na organização. Importante era a manutenção de um espirito carnavalesco e da própria Escola com alegria e entusiasmo, necessários para contagiar todo público durante o desfile.

Todo este planejamento e aparatos organizacionais, sempre com o desejo de fazer o melhor.  As metas são cumpridas, a dedicação impera em todos os momentos, aliada à ansiedade da chegada do dia e hora do desfile. Em oitenta minutos a expectativa de alcançar o aceite e o aplauso do povo.

Cada um tinha seu papel na organização; sambar, cantar, tocar, apresentar cenários históricos, acompanhar e orientar o ritmo do desfile para não desfigurar a apresentação da Escola e cumprir o horário estabelecido. Na verdade, são grandes profissionais de Organização, Planejamento e Execução, e o povo sabe disso.

Se a minha mente volta-se para as Organizações Governamentais, começo a constatar as diferenças no comportamento das autoridades responsáveis por qualquer projeto. Os planos surgem na última hora ou “caducaram” por não serem realizados. Há mais promessas que execuções, os prazos de entrega do produto são “infinitos”.

Os produtos sejam eles, um Hospital, uma Universidade, uma Escola de Ensino Secundário, uma Rodovia ou uma Ponte, quando são dados como concluídos em datas, várias vezes alteradas, estão deficientes na estrutura, na falta de equipamentos, e muitas vezes, sem os funcionários necessários.  Mas, uma ou duas vezes, inaugurações são feitas por políticos diferentes ou mesmo opositores.

Nestas organizações predominam a disputa por Cargos e Salários, as indicações por influência política e não por competência; em alguns casos, a existência de preconceitos. As disputas pessoais são intensas, prejudicando o desempenho e a execução de qualquer plano ou programa do governo. Não precisa analisar todo o Brasil, basta observar nossa região, os planos dos governos para a rodovia Ilhéus/Itabuna, a Ponte do Pontal, o novo Aeroporto, o Hospital Regional e outros projetos, ultrapassando dezenas de anos para realizar.

Todavia as Escolas de Samba não ficam apenas difundindo a alegria e o prazer em viver nesses dias carnavalescos. Nelas existe um espirito reinante de compreensão entre os povos brancos, negros e asiáticos unidos e alegres no mesmo bloco. Não existem alas de ricos e outras de pobres. Todos são iguais, pelo menos naquele momento e felizes com a vida.

Assim é a alegria do Carnaval e a esperança que as Escolas de Samba continuem a ensinar aos políticos e administradores governamentais, como se administra uma Organização.

Ilhéus, Bahia – 03-03-2014

Jorge Raymundo Vieira, Eng. Agrônomo, MS – aposentado CEPLAC