Território Quilombola Lagoa Santa, que reconta casos de cura e encantos, tem RTID publicado
Uma comunidade baiana, formada por 35 famílias de remanescentes de quilombo teve o seu Relatório Técnico de Identificação e Delimitação (RTID) publicado pelo Incra, na Bahia, nesta quinta-feira (23/10). As famílias mantêm uma relação mística, em especial, com a lagoa, que chamam de Lagoa Santa, onde batizam as crianças e creditam casos de cura e de encantos pela entidade Mãe D’ Água.
Trata-se do Território Quilombola Lagoa Santa que possui 652 hectares e localiza-se entre os municípios de Ituberá e Nilo Peçanha, na região do Baixo Sul da Bahia. Esse foi o segundo RTID de 2014, sendo que o primeiro foi Rio dos Macacos, em Simões Filho. Ao todo, o Incra/BA já possui 22 RTID’s publicados.
O relatório é a peça mais complexa para a regularização fundiária de um território quilombola, formado por um conjunto de documentos que aborda a história de formação e ocupação do território, considerando a ancestralidade, a tradição e a organização socioeconômica.
Encantos
A Lagoa Santa tem grande influência junto à comunidade. “A memória social do grupo aponta a lagoa como um lugar de milagres e encantos”, reporta o relatório. O nome da lagoa inicialmente era “os milagres” e “Milagres de São Brás”.
De acordo com o documento, permanecem vivos nas narrações locais os casos de cura, agradecimentos, aparições, visagens e devoções às águas da lagoa. Uma das mais contundentes no imaginário da população se remete a aparição de uma moça bonita na lagoa, a Mãe D’Água.
História
O povoamento da comunidade foi iniciado entre os séculos XIX e XX, com aquisição de terras por parte de famílias afrodescendente, quando se agregaram formando uma única comunidade. É o que conta o Relatório Antropológico que compõe o RTID.
Segundo o relatório, nos anos de 1960, os fazendeiros e posseiros vizinhos pressionaram as famílias da comunidade Lagoa Santa, com o boato de que a reforma agrária iria tomar-lhe a terra. As famílias acabaram vendendo-as “a preço de banana”.
O Analista em Reforma e Desenvolvimento Agrário, Itamar Vieira Junior, que também acompanhou o processo de criação do RTID do Lagoa Santa, ressalta que as famílias adquiriram as terras com o plantio de mandioca, a manufatura e comercialização da farinha.
Potencialidades
As famílias do Lagoa Santa vivem da agricultura, do extrativismo e da manufatura de artesanato. A produção agrícola está voltada ao plantio da mandioca, do cacau, da banana, do cravo, do milho, do feijão e do cupuaçu para consumo e venda na feira livre de Ituberá. O extrativo da piaçava permite que eles produzam artesanato, e também o comercializem in natura.
Assessoria de Comunicação Social do Incra/BA