“Em nome do filho, do pai e do espirito do samba”. Assim desse jeito, numa frase meio religiosa, um tanto quanto profana e muito respeitosa, Ivan homenageia o samba na pessoa de Martinho da Vila. Em verdade mistura tudo, o profano e o religioso; mesmo sem querer. O autor da frase, creio, religioso, acaba escrevendo certo por linha tortas ou o contrário, por linhas tortas expressa o certo.

Ivan Araújo, filho de Joãozinho Alfaiate (um dos grandes sambistas e intérpretes do samba em Ilhéus, hoje sambando no céu), leva em si a tradição, o espirito do samba; vivo, não somente nele, mas em mais gentes donde ele é o menestrel. Vivo o passado no presente. Filho (Ivan), Pai (João) e o espírito do samba ou do tempo.

Ivan pensou na trindade religiosa, mas não queria blasfemar. Ninguém pode ser comparado ao Pai (Deus), mudou a ordem da frase, pôs o filho antes, o pai depois e em vez de santo, o samba; que é divinamente profano. Assim, meio sem querer, expressou a realidade, acabou fazendo uma narrativa de sua relação com o pai e o samba. Filho, pai e espírito do samba!

Ivan não é somente ele uma espécie de capela do samba, ou seja, uma pedra onde o ritmo se ergue, um espirito batuqueiro encarnado;  samba em carne e osso que anda batucando por aí, pois é no sambista que se ergue a igreja do samba. Ivan é ele, os amigos e o Clube do Samba, este sim, modesta catedral em homenagem ao pai e, em consequência, ao samba. Porque Joãozinho Alfaiate e o samba eram uma roupa só.

Ivan, Délio Santiago, Gil Lucas e Herval Lemos criaram o Clube do Samba, visando homenagear o Joãozinho Alfaiate e preservar o ritmo de DNA baiano-carioca, mas em verdade uma espécie de música da alma nacional. Boa iniciativa, porque m Ilhéus parecia que o samba estava morto.

Para marcar o fato, Gil Lucas e Herval compuseram um belíssimo samba, que de cabeça cito algumas estrofes: “Subia a ladeira devagar,/não dava bom dia,/ cantava uma música, vivia cantando,/ viveu para cantar,/deixou a saudade em seu lugar. (…) Alfaiate da vida,/ que costurava  canções,/ em cada ponto era um canto, /viveu sem ilusões.

No início, quase todos os domingos, reuniam-se os quatros, Lito, Nôca do Cavaco, de vez em quando eu, que gosto de samba, mas só toco abridor na garrafa ( minha participação na roda). No início para participar da roda era uma mão de obra, pois o estatuto e critérios, democraticamente, eram da cabeça do Menestrel do Samba (Ivan,o filho). Mas sucesso é sucesso e de repente passou a ter a participação de muita gente, a ter shows, e quando menos se esperava, parecia festa de largo baiana.

O sucesso criou ciumeiras de gente que “não gosta de samba, é ruim da cabeça e doente do pé”. Mas não impediu o que era bom e do bem continuasse. No quintal da casa do Ivan, como deve ser canto ou templo de samba que se preze, no Morro da Conquista, na Rua da Aliança, sugestiva denominação para outra aliança, a do “filho, pai e espírito do samba”, está firme e alegre o Clube do Samba Joãzinho Alfaiate. Neste ano homenageando   o grande sambista e compositor  Martinho da Vila.

No dia 2 de dezembro, dia do samba, Ivan e os seus bambas sairão de bar em bar tocando samba. No dia 07 de dezembro, aí sim, terá a roda de gala em homenagem a Martinho da Vila. Será na Rua da Aliança, nº 51 à partir da 15 horas. Todos os bambas estrão lá!

O samba vive em Ilhéus. Agora digo eu: Pai, filho e espírito do santo no samba!

Carlos Pereira Neto