GORDOS E MAGROS
A possibilidade de acesso a imagens das décadas de 1960, 70 e 80, seja nas emissoras de TV aberta ou na internet, nos permitem observar o quanto mudou o perfil físico dos brasileiros, daqueles anos até os dias de hoje, sobretudo dos que moram em áreas urbanas.
É bastante difícil encontrar, em imagens da década de 1960 ou 70, pessoas acima do peso, ao contrário do que ocorre hoje, quando tanto as estatísticas quanto os especialistas da área de saúde nos alertam tanto para o aumento quanto para os riscos da obesidade.
Esta mudança do perfil corporal do brasileiro se deve a vários fatores. Um deles era a pobreza em que vivia a maior parte da população assalariada, que não permitia aos trabalhadores, ou seja, à grande maioria da população, ir muito além do suprimento da cesta básica. Sendo mais fiel à realidade: Mesmo trabalhando duro, as famílias não se livravam, em muitos casos, do fantasma da fome, que ameaçava constantemente aos mais pobres.
Ocorre que com a política de valorização do salário mínimo iniciada por Fernando Henrique e continuada nos governos Lula e Dilma, houve, sim, uma melhoria significativa do poder de compra do salário mínimo, que se refletiu diretamente em melhoria da alimentação. Mas não é só isso.
Até a década de 1970 parte significativa dos homens trabalhava em serviços braçais, que se constituíam, por si só, em uma verdadeira “malhação pesada”, por assim dizer. É o caso dos trabalhadores rurais, dos serventes de pedreiro, dos “ajudantes” de modo geral, desde aqueles que carregavam caminhões até os que trabalhavam nas fábricas. As pessoas que exerciam profissões não braçais eram tidas como privilegiadas, mesmo que isso escondesse um preconceito mal disfarçado contra o trabalhador braçal.
Com as mulheres mais pobres não era diferente: Pegar água em uma lata equilibrada sobre a cabeça; cozinhar com lenha catada e cortada a machado; dar brilho no chão da casa, após encerar, com esfregão manual… Tudo exigia considerável esforço físico.
Hoje esta situação mudou radicalmente. A maioria dos homens trabalha em serviços não braçais, tais como vigilante, vendedor em telemarketing, advogado, digitador, assistente administrativo ou professor. Que esforço físico significativo dispendemos nestas profissões? Entenda bem: não dizemos aqui que tais profissões não sejam desgastantes, por vezes ao extremo. Afirmamos que o esforço físico despendido é bastante limitado, insuficiente mesmo para tomar o lugar de um exercício regular.
Com as mulheres sucede a mesma coisa. Quase não se pega mais água com lata, carregando um filho na cintura. Nem se cozinha com lenha. E no chão de hoje nem mesmo enceradeira se passa. O esforço físico se reduziu muitíssimo.
Tais mudanças exigem de todos nós uma ampla revisão na alimentação, porque um trabalhador rural que roça com facão oito horas seguidas pode – em tese – se entregar à felicidade de comer fatada todos os dias, mas um vigilante ou um professor, não!
Faz-se necessário, também, que incorporemos às nossas atividades alguma atividade física regular, feita continuamente, para rompermos com o sedentarismo e suas ameaças.
Não é viável querermos comer ao máximo possível, bebermos grades de cerveja todo fim-de-semana, não fazermos exercício e desejar ter um corpo de atleta, de adônis ou de musa. É simplesmente incompatível, impossível.
Alimentação adequada e atividade física são essenciais na busca da saúde, que trará, como consequência, beleza corporal.
Fora isso, é acreditar em gel redutor de barriga, aparelhos que “exercitam” seu corpo sem necessidade de esforço, remédios que fazem perder 15 quilos em uma semana e outras ilusões do mesmo gênero.
Julio Cezar de Oliveira Gomes é graduado em História e em Direito pela UESC – Universidade Estadual de Santa Cruz. e-mail: juliogomesartigos@gmail.com
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