VALEU, GRAHAM BELL, FOI BOM ENQUANTO DUROU
Uma das principaiss invenções da humanidade está, ao que parece, com seus dias contados.
Rapidamente, de uns anos pra cá, a telefonia propriamente dita vem deixando de ser a principal função de um aparelho telefônico e o velho celular já pode ser considerado peça de museu com destino certo: a mesma prateleira da antiga câmera fotográfica de filme de rolo.
No lugar do celular, reina, pelo menos por enquanto, o venerável smartphone, que relevou a comunicação por voz a segundo plano (ou terceiro, ou quarto…). Redes sociais e aplicativos tomaram conta do pedaço. A comunicação oral cedeu terreno a símbolos e letras, tal qual na era pré-histórica e na era Gutenberg. Ô, voltamos ao passado? Retrocedemos, depois de enfrentar tanta dificuldade, lá atrás, até conseguir verbalizar? Não, não é bem assim, a diferença é que agora é tudo eletrônico e em tempo real, melhor dizendo, “on line”. E com luzinhas e tudo.
Já parou para observar as pessoas e seus smartphones? Na maioria das vezes, ninguém está com o aparelho no ouvido tagarelando alhos e bugalhos. Quase sempre o treco está seguro pelas duas mãos, enquanto os dedos de ambas disparam agilmente o teclado virtual.
Nada contra a evolução das coisas, afinal, essa é a razão da existência da humanidade. Não fosse isso, viveríamos eternamente na Idade da Pedra. Apenas me valho de filtrar algumas das coisas que o mundo tenta me empurrar goela abaixo e procuro separar o que, pra mim, seria o fútil do útil. Cada macaco no seu galho.
Cena comum em locais públicos: dois amigos, ou duas amigas, combinaram ir ao shopping, bar, lanchonete, café. Ambos, lado a lado ou frente a frente, manuseando habilmente os respectivos smartphones. Nenhuma troca de olhar, nenhuma palavra entre si. Estão se comunicando em silêncio, eletronicamente, pois acessaram uma rede social e pertencem ao mesmo grupo!
Dia desses, na praia, uma moça – não sei precisar a idade, uns trintinha talvez – estava a poucos metros de mim admirando seu smartphone, quando, de repente fez biquinho-de-beijar e foi aproximando o aparelho ao seu rosto. Tomei um susto e pensei: Ih, vai beijar o aparelho! Sabe-se lá, já que o “smart” (não o Maxwell) virou amigo fiel e companheiro inseparável das pessoas a todo minuto do dia e todos os dias da semana, vai que a solitária criatura se apaixonou pelo seu precioso brinquedinho…
Engano meu. Era uma selfie, com pose de “beijinho” e em busca do melhor foco, para, segundos depois, postar nas redes sociais sob a provável legenda “Gente, praia ótima hj!”.
Tchau, Graham Bell. Fui!
Nilson Pessoa