O Senado e a Câmara dos Deputados embora constituídos para produzir peças em conformidades com suas origens, por vezes mudam o script e em seus palcos são exibidos incompatíveis espetáculos e até dramas de cunho violento.

Por envolver nomes repercutíeis, o que em 1963 encena o senador Arnon de Melo, pai do ex-presidente Color, desferir três tiros em Silvestre   Péricles, seu inimigo político, e acertar José Kairala, outro parlamentar, matando-o, é dos da linha dramática citada muito comentado.  Outro, data de 1967 e tem a participação do senador Estácio Souto Maior –genitor do piloto de Fórmula 1, Nelson Piquet– que dá, causado por uma discussão, um tapa em Nelson Carneiro, colega de partido e de Casa. Este resolve ir à forra e dias após atira no agressor. Acontece que Souto, sabedor de uma reação anunciada, andava armado no recinto e manda cinco balas contra Carneiro que se salva por um triz ao se esconder serelepe atrás de uma coluna.

Nos sem cheiro de pólvora, o recente de tema ligado à “matriz energética brasileira frente às mudanças climáticas” protagonizado pelo ministro das Minas e Energia e por um senador da República Brasileira foi de deixar o espectador atônito, tal o realismo das cenas. O diálogo enfatizado por “patrióticas” frases como “Vossa Excelência é bandido”, “Vossa Excelência é safado” e que culmina em um chamando o outro para trocar porrada lá fora, pode ser considerado o ponto “épico” do espetáculo. Observação: ‘lá fora’, como óbvio, significa além das dependências do Senado.  A desenvoltura é mais uma característica positiva dessas autoridades-atores, o que afasta por completo frente o sempre imperativo decoro parlamentar e, claro, ministerial a natural possibilidade da inibição.

No momento as duas Casas em conjunto estão naquela –fazendo parte desta feita das atribuições constituídas– do “sim, sim, não, não” quanto a obra que tematiza a cassação do próprio presidente da Câmara dos Deputados, embasada nos desfechos da badaladíssima Operação Lava Jato, com o detalhe de seu diretor ser também o artista principal.  Polêmica, como sugere parte do enredo, tem levado, sob o comando do encenador, a ensaios exaustivos, apesar dos veementes protestos de experientes representantes e de contrariar a lógica do roteiro a ser seguida.

Como o Congresso Nacional, nome de fantasia das referidas casas, é a bambambã da dramaturgia no pedaço, qualquer produção afim, obrigatoriamente deve passar por seu domínio, salvo as de competência exclusiva ou as de obrigatoriedade do aval do poder chamado Judiciário, para que não se configure uma ‘ditadura de parlamento’, num país, de acordo registro em cartório com testemunhas   e tudo mais de direito, republicano e democrático por excelência. É o caso da falada iniciativa teatral que enreda um grupo significativo de agentes públicos com o objetivo de derrubar a Presidente da República fundamentada em supostas ‘pedaladas fiscais’, manjadas manobras dos governos na tentativa de ajustar as contas públicas. Cabe aí, como manda o figurino, o corpo superior desse poder de justiça julgar com as provas cabíveis se é factível ou não ser levado ao tablado. Exemplo outro, por compatível, é a de assunto “contas no exterior” envolvendo o referido parlamentar, mas sendo julgado no âmbito judicial.

Este comentariozinho sobre essas duas casas termina com a consciência do daqui da plateia de que elas dependem de boas direções e sobretudo de bons atores a fim de receberem aplausos e não apupos em seus espetáculos.