Por José Everaldo Andrade Souza

Ir.’. Everaldo

Como é comum e muitíssimo salutar, nós maçons, nos visitamos em nossas respectivas Lojas, onde nos confraternizamos e elaboramos projetos para a execução das nossas ações no tocante à filantropia e outras atividades sociais que norteiam os princípios da nossa Ordem. Lembro-me que em recente visita a uma das nossas Lojas do Oriente de Ilhéus, entre os diversos pronunciamentos dos Irmãos presentes, chamou-me atenção num destes pronunciamentos a sugestão de que a Maçonaria teria surgido tão somente em 1717, na Inglaterra, quando da formação da Grande Loja da Inglaterra.

Em nossos estudos e pesquisas, recorrendo a diversas publicações e vários autores, nos deparamos com informações que nos remetem a épocas bem anteriores.

Os ensinamentos dos Mistérios egípcios eram mui zelosamente guardados, e só com extrema dificuldade e sob especiais condições admitiria um estrangeiro. Contudo, foram admitidos alguns, como Moisés, de quem lhe diz o relato bíblico: “Foi instruído em toda a sabedoria dos egípcios”. Depois transmitiu seu conhecimento à classe sacerdotal dos israelitas, e assim se manteve em forma mais ou menos pura até a época de David e Salomão.

Quando Salomão construiu o seu Templo, ergueu-o segundo as linhas maçônicas e tornou-o um centro do simbolismo e trabalho maçônicos. Não há dúvida de que ele construiu o Templo de seu nome, com o objetivo de mostrar e preservar para seu povo certo sistema de medidas, de igual sorte como as dimensões da grande pirâmide envolve muitos dados geodésicos e astronômicos

Convém recordar que, ao agir assim, não tinha Salomão outro escopo senão a de fazer que as práticas de seu povo se correspondessem com as das nações circunvizinhas. Havia muitas tradições de Mistérios, e ainda que os israelitas houvessem levado consigo, pelo deserto de Sinai, bastante da tradição egípcia, os sírios e outros povos conservavam a tradição da descida de Tamuz ou Adônis, em vez da do desmembramento de Osíris. O Irmão Ward, em seu último livro sobre este assunto, parece inclinado a defender a hipótese de que nós, maçons, devemos relativamente pouco ao Egito e muito à Síria.

Foi principalmente por intermédio dos judeus que a Maçonaria chegou à Europa, conquanto tivesse havido outras infiltrações. Numa Pompílio, o segundo rei de Roma, fundador dos Colégios Romanos, estabeleceu em conexão com eles um sistema dos Mistérios que derivaram sua sucessão maçônica do Egito. Mas suas cerimônias e ensinamentos foram algo modificados pela imigração dos ritos de Attis e Cybele para Roma cerca de 200 a.C., e também por meio dos soldados regressados das campanhas de Vespasiano e Tito.  Dos Colégios esta tradição  continuou através dos comacinos e outras sociedades secretas, atravessando os perigosos tempos da Idade Média; e quando, numa época melhor, as perseguições se tornaram menos ferozes, ela veio de novo à superfície. Certos fragmentos seus foram reunidos em 1717 para, aí sim, formar a Grande Loja da Inglaterra, e assim chegaram até os dias atuais.

Convém, no entanto, ter em conta que não há nenhuma modalidade de Maçonaria com caráter ortodoxo. Uma tradição paralela, de fonte caldéia, deu origem à Maçonaria que opera nos demais países da Europa; e parece que os Cavaleiros Templários trouxeram outra tradição ao regressarem das cruzadas.

É interessante a história da Maçonaria, mas o caráter secreto desta sociedade impede comprovar a sua verdadeira origem com documentos válidos, e disso resultam os diversos relatos confusos e contraditórios.

Deixou-se cair no esquecimento muito da antiga sabedoria, e por isso alguns dos verdadeiros segredos ficaram perdidos para a grande corporação dos Irmãos. Mas entre os Hierofantes da Grande Fraternidade Branca os verdadeiros segredos foram sempre preservados, e eles sempre compensarão as pesquisas do maçom realmente ardoroso.

Procuremos reavivar em diferentes condições o invencível espírito que nos distinguiu há milhares de anos. Isto implica uma tarefa árdua e longa, porque cada oficial maçônico tem de desempenhar perfeitamente suas funções, o que exige muita prática e exercício. Certamente todos responderão ao chamado do Mestre e se apressarão a unir-se para preparar o caminho aos que tem que servir.

Que cada Loja se torne uma Loja-modelo, totalmente eficiente em seus trabalhos, de sorte que alguém que a visite, possa impressionar-se pelo bom trabalho feito e pela força de sua atmosfera magnética, e ser assim induzido a partilhar deste vasto empreendimento. Igualmente nossos membros devem tornar-se capazes de, quando visitarem por sua vez outras Lojas, demonstrar como, do ponto de vista oculto, se devem executar as cerimônias. Acima de tudo, devem levar consigo, por todas as partes, o forte magnetismo de um centro completamente harmonioso, a potente irradiação do amor fraternal.

Para nós ainda, tanto quanto para os antigos egípcios, a Loja deve ser um ambiente santo, consagrado e reservado para a obra maçônica, e nunca utilizado para qualquer objetivo secular. Deve ter uma atmosfera própria, exatamente como a tiveram as catedrais medievais; estando saturadas da influência de séculos de devoção, devem as próprias paredes de nosso Templo irradiar força, amplitude mental e amor fraternal.


JOSÉ EVERALDO ANDRADE SOUZA – GRAU 32

MEMBRO ATIVO DA LOJA ELIAS OCKÉ Nº 1841

GRANDE ORIENTE DO BRASIL – RITO BRASILEIRO

ORIENTE DE ILHÉUS – BAHIA


REF. BIBLIOGRÁFICA:

  1. W. Leadbeater

A Vida Oculta na Maçonaria

Editora Pensamento

Pequena História da Maçonaria

Editora Pensamento