Por Guilherme Albagli de Almeida

DOUTOR PINHEIRO FOI UM MÉDICO QUE ATUOU POR DÉCADAS EM MARAÚ, NA VIRADA DO XIX AO XX, GANHANDO MUITO DINHEIRO E ALI COMPRANDO CASAS, JÓIAS E PRATARIAS.

MORRENDO ELE E SUA ESPOSA, PASSARAM A HERANÇA PARA DUAS FILHAS. LEOLINDA, QUE RECEBEU CASAS, ANTIGAS JÓIAS DA MÃE E UM FAQUEIRO COM 12 FACAS E GARFOS DE PRATA DE LEI, E AO MORRER, DEIXOU O FAQUEIRO PARA UMA SOBRINHA QUE, FICANDO VELHINHA, ME PASSOU AS 24 PEÇAS.

IGNORANTE, LEVEI AS PEÇAS AO PORTUGA CARLOS PEREIRA, PRATEIRO NO TORORÓ, PARA Q AS DERRETESSE, FICANDO EU COM A PRATA BRUTA.

VENDO AS PEÇAS, ME FALOU O MEU AMIGO: “NÃO, ISSO NÃO SE DERRETE, Ô GUILHERME! SÃO PEÇAS DE QUALIDADE”…

GUARDEI E, QUANDO FUI PASSAR UM SEMESTRE ESTUDANDO EM ISRAEL, EM 1977, ENTOQUEI O MEU PRECIOSO FAQUEIRO DE PRATA NO FUNDO DE UM ARMÁRIO BEM BAIXO, NO QUARTO QUE ENTÃO OCUPAVA, EM SAVADOR. SOQUEI MUITA QUINQUILHARIA NA FRENTE DO MEU PEQUENO TESOURO, MAS O ARMÁRIO NÃO TINHA CHAVE. CONFIEI NOS MEUS.

VOLTANDO, FUI DIRETO AO TAL ARMÁRIO E NECAS DO FAQUEIRO.

RECENTEMENTE, QUARENTA ANOS DEPOIS, EXATAMENTE, UMA PESSOA MUITO, MUITO QUERIDA, QUE ME DÁ MIMOS CARINHOSOS A TODA HORA, APARECEU COM UM PEQUENO PACOTE E ME DISSE:

“GUIGA, ACHEI ESTAS QUATRO FACAS DE PRATA NA MINHA CASA… NÃO SEI DE ONDE VIERAM…”

ERAM QUATRO DOS DOZE ANTIGOS TALHERES DO DR. PINHEIRO Q, FELIZMENTE, VOLTARAM ÀS MINHAS MÃOS.

TALVEZ O DITO INGLÊS “LEAST BUT NOT LAST” SE APLIQUE A ESTE BREVE CONTO COM FINAL 33% FELIZ.

QUEM QUIZER CONHECER AS DITAS FACAS, MARQUE UM ALMOÇO NUM DOMINGO, AQUI EM CASA, QUE AS CONHECERÁ – EMBORA JÁ DESCASADAS DOS SEUS GARFOS ORIGIINAIS.

QUEM TIVER ALGUNS DOS TALHERES FALTANTES E, SE AINDA NÃO TIVER SE APEGADO MUITO A ELES – “CRIADO AMOR”, COMO SE DIZ,  ME AVISE E ME DEVOLVA, POIS ELES NÃO DEVER TER IDO PARAR NA CHECHÊNIA OU EM SINGAPURA.