O TEMPO VOA, E LOGO SERÁ CARNAVAL
Anísio Cruz – janeiro 2018
Já estamos a 18 de janeiro, e logo será carnaval. Agora é assim: quando menos esperamos, os eventos vão se sucedendo, com uma velocidade assustadora. Quando li sobre a Ressonância Shulmann, sob a luz de comentários do consagrado pensador cristão, frei Leonardo Boff, encontrei as respostas para a sensação de que o tempo desandou a correr, numa celeridade inexplicável, até então, para os que buscam respostas para tal fenômeno.
Lembro-me que, antigamente, as coisas custavam a acontecer, e nós ficávamos naquela ansiedade, enquanto o tempo transcorria em busca do futuro. As férias escolares levavam um tempão para acontecerem, e a nós só restava aguardar que os dias passassem logo, para que pudéssemos desfrutá-las. O tempo era assim, como um rio de planície, escorrendo lentamente até a sua foz. E as festas natalinas, então, com seu encantamento a nos fazer sonhar, pois era tempo de alegrias pela passagem do Papai Noel, que nos deixava os presentes, os quais abríamos ansiosos na manhã do dia 25. Para esperá-lo, todos dormíamos cedo para que a noite transcorresse rapidamente, nos conduzindo ao encontro do “bom velhinho”, que muitos juravam terem visto, a saltar as suas janelas.
Depois o carnaval, que hoje traz às ruas os blocos com seus trios (onde acontecem festejos), e era tempo de arrumarmos as fantasias, as máscaras, as serpentinas e os confetes, que lançávamos gloriosamente sobre as cabeças dos demais, em batalha que se alastravam pelos salões aonde ocorriam as festas. No passado, os lança-perfumes deixavam no ar o seu aroma característico, e quase sempre mirávamos os olhos dos demais, provocando ardor intenso. Depois foi proibido o seu uso, pois alguns começaram a usá-la como entorpecente, cujos males todos reconhecemos. Gostávamos quando ele acontecia no mês de março, pois assim as férias eram prolongadas, e as aulas só começavam após os festejos.
Na Semana Santa, data móvel da cristandade, haviam os feriados que reuniam as famílias em recolhimento para celebrarem a Paixão de Cristo. As cerimônias religiosas, as procissões, e a Verônica a desenrolar a face do Cristo, provocando lágrimas com o seu canto sofrido. As ceias preparadas com peixe, e acompanhamentos tradicionais, com vinhos para os adultos, e suco de uva para as crianças, tinham o seu espaço em algumas famílias. Uns poucos jejuavam, a pão e água, e se fartavam de comer na sexta-feira, após as cerimônias religiosas, nas igrejas ornadas com panos roxos, em sinal de luto. No sábado era dia de confeccionar o Judas, recheado por panos velhos e bombinhas, que destruíam o boneco em poucos minutos, após a leitura do seu testamento, elaborado em trovas rimadas, que provocavam risos e deboches nos presentes.
Depois começávamos a pensar no S. João, quando tínhamos um mês inteiro de férias escolares, e quase sempre passávamos nas “roças” da família (depois chamadas de fazendas), onde nos reuníamos aos primos, e vizinhos, nos costumeiros folguedos. As aventuras pelas cercanias, os ensaios de quadrilhas juninas, os primeiros namoricos, e depois a construção das fogueiras a serem queimadas na noite anterior àquele dia dedicado ao santo. A canjica sendo
preparada em grandes caldeirões, anunciavam a fartura da festa, e o milho assando em espetos, recendia nas noites frias e geralmente chuvosas, e se misturavam a aromas das comidas típicas com que nos deliciávamos, até chegar o sono, e a exaustão dos dias de preparos. Aos mais velhos, os licores, principalmente do jenipapo, que faziam brilhar os olhos, e aumentar a coragem para puxar uma dama pra dançar. “Olha a cobra”, alguém gritava puxando as animadas quadrilhas, animadas por sanfoneiros contratados, que só paravam de tocar, para comer, e beber. Que festa!
Assim transcorrem os calendários de festejos, anualmente, com variações de datas, indumentárias, e motivações, até os dias de hoje. É verdade que os tempos mudaram algumas tradições, sofisticando-as com novos ingredientes, novos apelos, e emoções. Mas a essência é, e sempre será a mesma, geração após geração. E se os físicos estiverem certos, a compressão do tempo ainda demorará para restabelecer a nossa velha rotina de vida. E aí vem mais um carnaval para nos fazer esquecer as mazelas do dia-a-dia.
Comi mosca, e na revisão do texto, pulei a correção feita. Por favor, leiam:
“Se os físicos estiverem certos, a compressão do tempo ainda demorará para restabelecer a nossa velha rotina de vida”.
É Anizão o tempo me fez voar ao “velho Iguape” e a Fazenda de Tio Zé Pereira…Bons festejos de São João….Parabéns. Abço.!
Essa é a ideia, Paulão: fazer com que as pessoas naveguem no tempo, e reencontrem a sua essência. Abraço, primo.