Anísio Cruz – fev 2018

Toda segunda feira é assim mesmo, preguiçosa. Para levantar, aquela sensação de que a cama nos segura, as pernas pesam, e a cabeça revira, buscando por em ordem os compromissos que teremos pela frente, queiramos, ou não. Demoramos para pegar o ritmo do dia, enquanto as horas custam a passar. O consolo é que nunca estamos sozinhos com a tal ressaca. O simples fato de ser o primeiro dia útil, de uma semana que mal começa, tira-nos do sério, e nenhuma piada irá nos trazer de volta o bom humor do cotidiano. Fazer o que, se o Homem lá do último andar que a criou, com o propósito de reiniciarmos a nossa lida diária? Então, vamos à luta, compadre: a vida urge, e”precisamos estar atentos e fortes”, sem tempo para escolhermos o dia que pretendíamos iniciar a nossa jornada.

Alguém poderá me perguntar, o porquê da aversão às segundas feiras, se já sou aposentado, e teoricamente não precisaria ir trabalhar, e muito menos, levantar da cama no horário de sempre, numa rotina que o meu relógio biológico adotou. Isso desde os primórdios da minha vida laboral, lá pelos idos da década de 60, quando ainda estudava em Salvador, e necessitava tomar coletivos apinhados de gente, para chegar à faculdade, lá na Federação munido de esquadros, e a régua T, então em uso. Depois, quando iniciei estágio num órgão federal, que conciliava com os horários de aulas, num corre-corre que me obrigava a me virar para assisti-las, quando eram dadas na Piedade, em horários muitas vezes superpostos. Então, somente por milagre assistia os primeiros minutos de aula. Além do mais, tinha que estudar as matérias teóricas, e preparar os trabalhos que demandavam muitas horas de sono em cima de uma prancheta, virando noites. Dessa época ganhei fama (sem proveito), de dorminhoco, que me acompanhou por muito tempo.

Depois de retornar às minhas raízes, fui trabalhar em escritórios de Arquitetura, o que fiz por muitos anos. Depois ocupei um cargo na Prefeitura onde acompanhava obras pela cidade, e nos distritos de um município, onde existem vilas, como Inema, situada a cerca de 100 Km da sede. Depois, com o advento dos computadores, passei a utilizar-me de programas de desenho, o que faço até os dias atuais, conciliando com eventuais aulas do programa, que ministro, em casa mesmo. E fiz isso até depois de aposentado do Estado, onde fui Servidor por 32 anos, perfazendo um total de 38 anos de serviço público. Mas não era o meu propósito fazer um histórico resumido, da minha vida, e sim, por ter lembrado de um caso em que, movido por mera curiosidade, um cidadão me parou no calçadão da Pedro II, e indagou candidamente: “rapaz, o que você faz para ganhar a vida? Tomado pela surpresa, respondi: trabalho, algum problema? E ele insistindo: “mas eu te encontro sempre aqui no comércio, e eu nunca soube onde você trabalha… Claro que o interrompi, indagando já aborrecido: você é alguma espécie de fiscal da minha vida? A cara de surpresa que fez, até hoje me faz sorrir. Prossegui, deixando-o mais atônito: sou servidor estadual, sou cadista e presto serviços a escritórios de Arquitetura, e Engenharia, e quando me sobra tempo, escrevo contos. Tenho até um livro publicado. Aí o sujeito, perplexo, saiu de mansinho, não sem antes dizer: “e a que horas você dorme, se alimenta, e namora? Aí, caros amigos, a paciência que me caracteriza, e a educação que recebi dos meus pais, já estavam no espaço, e mandei-o “catar cavacos”, se é que vocês me entendem.