O MEU NATAL INTERIORANO
Luiz Ferreira da Silva
luizferreira1937@gmail.com
O Natal, em Coruripe (AL) era uma festa que deixou recordações na garotada da época. Em mim, as lembranças são cristalinas, vivas e prazerosas.
No calendário festivo, nada mais é belo que o dia de Natal. Há certos rituais que o torna mais comovente, transmitindo muita alegria aos corações, independentemente de suas crenças religiosas, de suas condições socioeconômicas e de outros diferenciais.
A criança fica feliz com seus presentes. Os adultos com as iguarias. Os velhos com o congraçamento familiar. Os casais com o resplandecer de seus sentimentos. Enfim, ninguém escapa de receber um pouco dessa energia, emanada do Aniversariante engrossada pelos que he seguem, ou o admiram – Jesus Cristo, o reinventor da fé e o fundador dos princípios éticos, morais de conduta humana.
As comunidades se engalanam, iluminando-se. As casas erguem as suas árvores de Natal. Os templos se preparam para receber os seus fiéis. As quermesses, nas cidades pequenas dão o tom comemorativo, com o significado comunitário. As encenações cultuam a imagem do Cristo. Os presépios se distribuem em pontos estratégicos, chamando a atenção dos devotos.
Nesse contexto festivo, com a prevalência da união familiar. Pelo coração, complementando os laços sanguíneos, há diversos modos e maneiras de comemorações, sem que haja uma melhor ou uma pior. Todas são válidas.
O importante é o espírito da solidariedade, a fé contida em cada um e o respeito ao seu semelhante. A opulência não importa.
Um Natal com bebidas importadas aves defumadas, tortas de salmão, frutas secas desidratadas, nozes diversas e panetones, pode não expressar o mesmo compartir, de uma família pobre, na distribuição de outros bens, não materiais, como o amor e a paz. Mais vale o que vem de dentro, do íntimo das pessoas, do que o exterior, muitas vezes, cheio de hipocrisia.
Recordo-me, muito bem, de meu Natal de criança lá em Coruripe e sonhava com a data, antevendo os brinquedos em frente à Igreja do Rosário, que me fascinavam. Não tinha roda gigante; nem era conhecida na região. Mas, os “cavalinhos” (carrossel), os barcos (os meus preferidos) e as sombrinhas.
O comer as guloseimas era outra atração, nas barracas, bem como os bazares enfeitados.
Não se precisava de tanto dinheiro. Durante todo o ano, os poucos trocados eram depositados em um cofrinho de barro para o “fundo natalino”. Não havia a troca de presentes, como hoje, e, tampouco, mesas fartas.
A festa era na rua, até o voltar para casa, cansado e sem sapato, com os pés cheios de calos, pela falta de hábito.
Havia uma tradição, que independia de ser pobre ou rico; a roupa nova. Ninguém deixava de se “emperiquitar”. Fazia parte do sentimento natalino. E a apoteose era a missa do galo., em frente à Igreja da Nossa senhora da Conceição.
Infelizmente, tudo mudou. Hoje, transformaram o seu aniversário em uma espécie de mercantilismo desvairado. Até foi substituído por Papai Noel, que passou a dar as ordens aos pais, para alegria das crianças, no afã dos brinquedos, quando o aniversariante deveria ser o centro das atenções. Não há uma só lembrança, uma foto ou uma imagem, nas decorações natalinas, seja nos Shoppings ou nos logradouros públicos. E ninguém se toca pra isso e, tampouco, percebe que Ele é a pessoa mais importante da festa, o epicentro de tudo.
No meu interior, era diferente. Tudo humilde, mas o Natal era entendido de uma outra forma. Jesus nascia em nós, brotando sentimentos de paz, de solidariedade, de amor ao próximo e de muita harmonia.
Eu até creio – talvez utopismo, agora de um oitentão (82) – que o mundo seria melhor, se comemorasse a Festa da Cristandade nos mesmos moldes do meu Natal infantil, pobre, modesto, mas muito feliz, lá de Coruripe (AL).
(25 de dezembro de 2019)