O LÚDICO RIO CACHOEIRA
Luiz Ferreira da Silva, 87
luizferreira1937@gmail.com
Vivi quase 3 décadas apreciando a beleza do Rio Cachoeira, Itabuna/BA, por um lado, e preocupado, pelo outro, com a degradação ambiental.
A primeira coisa que salta aos nossos olhos é ele ter construído toda cidade, fornecendo areias do seu próprio leito. Como isso é possível sendo ele um rio rochoso?
Ora, é a indicação clara do assoreamento da sua bacia pela insensatez da deterioração da mata ciliar.
Era até lúdico a procissão de jegues carregando areias, bem como os areeiros enchendo as suas canoas.
Outra constatação, a “alimentação” hídrica pelo Rio Almada via as águas servíveis das residências.
Eu explico. O referido curso d’agua fornecia o precioso líquido aos Itabunenses, que a esgotavam através das descargas dos banheiros, cujos dejetos, sem tratamento, iam para o Rio Cachoeira.
Dessa forma, em certas ocasiões que este ficava quase seco, desnudo, com suas pedras à mostra, era recarregado daquela maneira; um “by pass”, tornando-o dependente lá do vale do Almada, como se fosse um afluente deste.
Em razão da cegueira, nada foi feito. Muitas conversas, poesias e cânticos. Esqueceu-se de reconstruir as matas ribeirinhas, de regularizar o fluxo hídrico com pequenas barragens, de investir no esgotamento sanitário e se desenvolver um projeto de educação ambiental.
Um outro aspecto do Rio Cachoeira, o da sua beleza cênica; o leito de pedras que proporciona condições ictiológicas favoráveis à produção de pitus, havendo até uma curva, já perto de Ilhéus, que recebeu o seu nome.
Por outro lado, vale a pena expor uma conversa que tive com Zé Haroldo, de saudosa memória, lá para os idos de 1980. Ele me confidenciou uma ideia de ligar Itabuna-Ilhéus através de um monotrilho sobre a calha do Rio Cachoeira.
Acrescentei-lhe que seria fácil, pois as firmes e duras rochas facilitariam a implantação dos pilares e, adicionalmente, a viagem seria cênica, visualizando as roças de cacau, sentindo o ar oxigenado pelas matas cabrocadas, ademais da velocidade, como se fora o nosso trem-bala japonês.
Maluquice, ou não?!