Hidrelétricas reduziram biodiversidade do Rio Madeira, na Amazônia, confirma pesquisa
O artigo Impacts of Hydroelectric Dams on Amazonian Fisheries: Assessing Functional Attributes in the Madeira River foi publicado na revista científica River Research and Applications e é assinado por Ana Laura Monteiro de Souza (UFMS), Rogério Fonseca (UFAM), Rangel Eduardo Santos (UFSB), Raniere Garcez Costa Sousa (UNIR), Felipe Micali Nuvoloni (CFCAM/UFSB), Isys Nathyally de Lima Silva (UFAM), Karen Sayuri Takano (UFAM), Fabricio Berton Zanchi (CFCAM/UFSB). O estudo contou com fomento da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas (FAPEAM). Os autores integram o Núcleo de Pesquisas em Ecossistemas Tropicais (NuPEcoTropic), liderado pelo professor Fabrício Berton Zanchi e com a pesquisadora Ana Laura Monteiro de Souza e colaboradores.
O Rio Madeira é o maior afluente do Amazonas e sua alta biodiversidade de cerca de 1.300 espécies de peixes é vital para as comunidades ribeirinhas. Os dados coletados indicam uma imensa redução de cardumes de grande valor alimentar e econômico para a população à margem daquele rio, após a instalação das usinas. Essas perdas não são apenas números técnicos, como comenta o professor Fabrício Zanchi, do Centro de Formação em Ciências Ambientais (CFCAM/UFSB): “Elas comprometem a segurança alimentar de milhares de pessoas. Na região amazônica, o consumo médio de peixe ultrapassa 30 kg por habitante por ano, sendo mais do que o dobro da média nacional, que é de 12 kg/hab./ano. No caso de Humaitá, com uma população de cerca de 57 mil pessoas, a redução de mais de 9 mil toneladas anuais de pescado representa uma perda estimada de aproximadamente 166 gramas de peixe por pessoa, por semana”.
O cientista aponta que, nesse cálculo de base semanal de consumo a partir de dado anual, é preciso considerar que há épocas de defeso (quando a pesca de certas espécies é proibida) e períodos de baixa captura provocado por variações sazonais, causando uma redução drástica nas capturas efetuadas pelos ribeirinhos e povos originários da bacia. “Essa é uma perda não somente de proteína acessível para famílias durante meses e que muitas vezes não têm outra fonte alimentar equivalente, mas também de subsistência e comércio para aquisição de outras fontes alimentares”, detalha o cientista, que indica os dados de outro trabalho do grupo (Santos et al, 2018).